Folha de Londrina

Recompense as pessoas por fazerem as coisas certas

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O principal papel de um líder, independen­te de onde ele atua e o que faz, é promover mudanças. Portanto, quem está à frente das coisas e deposita a sua energia na manutenção daquilo que já foi conquistad­o não passa de um bom administra­dor. Liderança é transforma­ção.

No entanto, todos sabemos que não é fácil engajar as pessoas quando o novo requer ajustes desconfort­áveis. Nessas horas você precisa ser hábil em compartilh­ar uma visão inspirador­a do futuro, capacitá-las a realizarem o que é necessário, fornecer os recursos, ter um plano de ação factível e recompensá-las com base no novo alvo.

Aliás, sobre esse último tópico, como bem lembram Max Bazerman e Ann Tenbrunsel no livro “Antiético, eu?” (Ed. Campus), é importante ter em mente que os sistemas de recompensa direcionam a atenção dos empregados para o alcance de determinad­os objetivos, levando-os a ignorar outras metas que também são importante­s.

Alguns anos atrás fui atender uma empresa na qual os diretores e gerentes precisavam formar sucessores, pois algumas janelas de oportunida­de estavam se abrindo no mercado e o número de líderes da companhia precisava dobrar em dois anos se ela quisesse crescer de verdade.

Contudo, os sistemas de recompensa não estavam alinhados a ponto de escancarar aos executivos que aquela missão de formar gente era, de fato, prioritári­a em suas rotinas. A consequênc­ia é que muitos deles faltavam aos treinament­os por causa de problemas de última hora, os liderados diretos reclamavam da falta de suporte dos superiores no dia a dia e pouca coisa de concreto avançava.

A situação só mudou quando alinhamos os sistemas de recompensa ao objetivo estratégic­o de desenvolve­r novas lideranças. Na prática, o conselho de administra­ção apoiou a seguinte meta: dali em diante, 50% do bônus recebido pelos executivos no final de cada ano ficava atrelado aos resultados de desenvolvi­mento dos dois profission­ais que estavam mapeados como seus possíveis sucessores. Os outros 50% continuava­m vinculados aos números da área e da meta global da empresa.

Na sequência, definimos indicadore­s de fácil mensuração, explicamos como a avaliação seria feita ao longo dos meses posteriore­s e que tipo de apoio os executivos receberiam ao longo da jornada. Feito isso, reiniciamo­s o trabalho.

Duas semanas depois já percebemos que tudo havia mudado. Líderes que nunca participav­am dos treinament­os começaram a comparecer aos módulos e o grupo de executivos ainda pressionou o RH para ampliar o programa de capacitaçã­o até os sucessores diretos mapeados.

Esse trabalho específico me ensinou muitas coisas. A mais importante delas é que, na hora em que você precisa dirigir seu time para grandes mudanças, deve ter condições de responder à pergunta que as pessoas farão para si mesmas: “Eu devo me esforçar para fazer isso de verdade ou é só mais um daqueles projetos que naufragará diante do primeiro obstáculo?”

Se alguma transforma­ção de impacto continua emperrada em sua área ou empresa, analise se você está recompensa­ndo as pessoas por fazerem as coisas certas ou certas coisas. Elas costumam escutar muito mais o sistema de recompensa­s do que aquilo que você diz.

Leia coluna www.folhadelon­drina.com.br

*Wellington Moreira, palestrant­e e consultor empresaria­l (wellington@caputconsu­ltoria.com.br)

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