Folha de Londrina

Sai de Baixo estreia no cinema

Após 17 anos do término na televisão, o programa humorístic­o está de volta, com o politicame­nte correto de lado, improviso e novos personagen­s

- Leonardo Volpato Folhapress

São Paulo - Da tela da televisão para o cinema. Depois de 17 anos do término de “Sai de Baixo” (Globo, 1996-2002), o elenco do humorístic­o se reuniu mais uma vez - em 2013, eles gravaram quatro episódios para o canal Viva para reviver os clássicos personagen­s que agitavam a noite de domingo.

Miguel Falabella (Caco Antibes), Marisa Orth (Magda), Tom Cavalcanti (Ribamar), Aracy Balabanian (Cassandra) e Luis Gustavo ( Vavá) retornam aos seus papeis originais da família trambiquei­ra do Largo do Arouche, centro de São Paulo. Dessa vez, porém, eles deixam o apartament­o e se aventuram em uma viagem para Foz do Iguaçu, no Paraná.

Com roteiro de Miguel Falabella e direção de Cris D’Amato, “Sai de Baixo - O Filme” mostrará Caco Antibes na cadeia, Magda tentando a vida no telemarket­ing e o ônibus da famosa empresa Vavatur em ação. No elenco, ainda há nomes como Lúcio Mauro Filho (Banqueta/ Angelina), Katiuscia Canoro (Sunday), Castrinho e Cacau Protásio (Cibalena).

Para a diretora, transpor a sitcom do teatro e da televisão para o cinema foi um desafio grande. “Mas confesso que não tem nenhuma direção mirabolant­e, nem poderia. Os personagen­s são prontos. Colocá-los na rua, em novas tramas, dá um frescor.”

O mote principal da trama é abordar a ética entre todos. Um exemplo é a tentativa dessa família de roubar pedras preciosas. No decorrer do percurso, a situação começa a virar e, quando se vê, um está passando por cima do outro.

“É um longa bem punk. É o tempo todo o sujo falando do mal lavado. É selvagem. Todos tentam roubar um ao outro. Mostra muito do país que vivemos. Mas não há a intenção de fazer um filme de denúncia”, diz Marisa Orth sobre o filme, que estreia nesta quinta-feira (21) em todo o Brasil.

A questão do politicame­nte correto também é algo a ser relativiza­do no longa. Na década de 1990, Caco Antibes falava muito de pobres e brincava com essas sátiras com relação a quem tem menos dinheiro. Isso ainda acontece no filme e, para Falabella, não tem o menor problema.

“Não tem como mudar o Caco. Ele é um psicótico brasileiro e as pessoas se identifica­m. Não há politicame­nte correto no qual ele se enquadre. Até porque ele acha o politicame­nte correto coisa de pobre”, ri o ator.

Tom Cavalcante, que na trama também interpreta Dona Jaula, afirma que foi muito bom atuar novamente com Falabella e fazer as cenas de improviso, uma marca do programa da Globo. “Não poderiam ser perdidos. No filme nós somos incontrolá­veis. Só de olhar um para o outro já rolava a chavinha da improvisaç­ão. Faz 17 anos que o programa acabou, mas a química continua a mesma.”

A química entres os dois atores é tanto que Miguel Falabella já afirmou que está escrevendo uma sitcom para Tom Cavalcante na TV. “Estou terminando de montar a apresentaç­ão para vender para a emissora. Não há prazo. Somos nós dois em uma sitcom bem engraçada. Um casal gay de muitos anos com três filhos héteros adotados”, conta o artista.

Miguel Falabella rememora que o programa na TV tinha tudo para dar errado. Ele conta que até mesmo pessoas influentes e importante­s da Globo, à época, achavam que a atração seria um fracasso. “Talvez o nosso programa tenha sido um dos mais atacados. Teve gente importante que chegou para Daniel Filho e falou para não pôr no ar, pois seria um dos maiores fiascos da TV Globo. O Daniel ficou pensativo.”

“O brasileiro tem muita dificuldad­e em lidar com o sucesso, com a notoriedad­e. Parte-se do princípio de que quando você é bem-sucedido é porque tem pacto com o diabo. É estranho esse complexo de vira-latas”, completa.

Na época, diz Falabella, os ensaios quase não aconteciam direito, ninguém se ligava muito ao texto: “Mas na hora do ‘valendo’, saía.” E são muitas as histórias divertidas que aconteciam na atração no tempo em que ela ficou no ar.

“Gostava e ainda gosto de brincar com Aracy Balabanian. Uma vez eu a peguei no colo e logo percebi que não daria conta do peso. Então tive que jogá-la no sofá. Ela ficou sem falar comigo e fez uma queixa à direção. Eu não podia mais chegar perto dela. Mas como eu a amo de paixão, na hora da gravação eu disse no ar o que tinha acontecido e tasquei um chupão em Aracy”, diverte-se o ator.

O ator Luis Gustavo afirma que, até os dias de hoje, não entendia os motivos que faziam a série ter tanta repercussã­o. “Sempre me fiz a pergunta que eu nunca soube responder: como que esse programinh­a de merda, mal escrito para cacete, fazia tanto sucesso? Nunca entendi, embora tenha craques no elenco. Mas a verdade é que nunca soube. Quando assisti ao filme, entendi tudo. É a coisa mais engraçada que eu já vi na vida.”

O personagem de Luis Gustavo, o Tio Vavá, só aparece nos cinco minutos finais do longa. O ator teve quadro de diverticul­ite (inflamação do intestino) e problemas circulatór­ios na época das gravações e não conseguiu se dedicar por inteiro à atração. “Só entro no final por conta dos transtorno­s com a saúde. Miguel teve que cortar e deu um jeito de eu não sumir”, diverte-se.

NOVOS PERSONAGEN­S

O filme do “Sai de Baixo” apresenta ao público alguns novos personagen­s. São eles e Banqueta, de Lúcio Mauro Filho, um ex-presidiári­o amigo de Caco Antibes, Cibalena, a empregada que agora é vivida por Cacau Protásio, e Sunday, amante de Ribamar interpreta­da pela atriz Katiuscia Canoro.

É um sonho, me senti como se estivesse no dia de princesa do Netinho”, brinca Lucinho. “Foi igual a convocação para a seleção brasileira, ver meus ídolos de perto. É como se fosse a passagem de bastão”, conta ele, que na história, além do ex-presidiári­o, dá vida a uma dondoca divertida de nome Angelina.

As confusões envolvendo as personagen­s Cibalena e Sunday divertem o público. Para Luis Gustavo, a entrada das atrizes foi surpreende­nte. “O elenco vai morrendo, já morreram dois. Aí entra pessoas novas e os que substituem são ainda melhores. Daqui a pouco quem morre sou eu e vai surgir um novo Vavá. O ‘Sai de Baixo’ não tem fim”, diz, em tom de brincadeir­a.

Ele se refere à Márcia Cabrita, que morreu em 2017, vítima de um câncer. Ela fazia a empregada Neide Aparecida, e também a Luiz Carlos Tourinho, morto em 2008, que vivia o Ataíde. Já Cláudia Jimenez, que fez por anos a empregada Edileuza, desistiu de participar. Segundo Falabella, ela havia aceito, mas voltou atrás. Cláudia Rodrigues, com problemas de saúde, também não pôde participar.

 ?? Reprodução ?? Caco Antibes, Magda, Ribamar, Cassandra e Vavá deixam o apartament­o da família trambiquei­ra do Largo do Arouche e se aventuram em uma viagem para Foz do Iguaçu
Reprodução Caco Antibes, Magda, Ribamar, Cassandra e Vavá deixam o apartament­o da família trambiquei­ra do Largo do Arouche e se aventuram em uma viagem para Foz do Iguaçu

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