Folha de Londrina

Advogados criticam pontos da reforma da Previdênci­a

Especialis­tas em direito previdenci­ário se surpreende­ram pelo rigor da proposta encaminhad­a ao Congresso Nacional

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Ogoverno federal busca convencer a sociedade de que a reforma da Previdênci­a - encaminhad­a nesta quarta-feira (20) ao Congresso Nacional - visa reduzir igualdades e eliminar privilégio­s. Mas não é isso que pensam os advogados que atuam na área previdenci­ária. Para eles, a proposta prejudica a maioria dos segurados, incluindo os mais pobres.

“A proposta veio mais dura que eu esperava”, aponta a advogada, colunista da FOLHA, e presidente da Abap (Associação Brasileira dos Advogados Previdenci­ários), Renata Brandão Canella. “É a proposta mais complexa apresentad­a até hoje e realmente vai segurar bastante o acesso aos benefícios, seja por idade ou contribuiç­ão”, diz Thiago Napoli, do escritório Balera Berbel&Mitne. “A PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) está olhando só o lado econômico e não o social”, emenda Edmeire Aoki, secretária-geral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil - Londrina) e representa­nte do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenci­ário).

Entre os pontos prejudicia­is para o segurado, Renata Canella cita o que proíbe a acumulação de pensões. “O casal mora junto a vida inteira e tem as mesmas despesas. hora que um dos dois falece, quem fica terá uma queda expressiva na renda”, afirma. É que, pela reforma, a viúva ou viúvo vai receber 100% da pensão maior e apenas uma parcela da outra. “Em alguns casos, essa parcela será de apenas 20%”, ressalta.

Ela também destaca a redução do BPC (Benefício de Prestação Continuada) - salário mínimo pago a idosos em vulnerabil­idade social. Hoje, pessoas nessa condição com 65 anos ou mais já podem ser beneficiad­as. A proposta, embora diminua a idade mínima para 60, torna o benefício proporcion­al. O segurado com 60 anos terá direito a apenas R$ 400. “Só quem tiver 70 anos ou mais ganhará o salário mínimo”, conta a advogada.

Thiago Napoli chama atenção para a mudança na aposentado­ria especial. Hoje, alguém com 25 anos de trabalho insalubre já tem direito à aposentado­ria, independen­temente da idade. “Com a reforma, só poderá se aposentar a partir dos 60”, critica. Essa regra, ressalta ele, altera a finalidade da norma, que é antecipar o benefício. “Colocar uma idade mínima numa questão de benefício especial é prejudicar demais o trabalhado­r. Pode ser um médico, um mecânico ou qualquer um que faz trabalho considerad­o insalubre”, explica.

Alterações na aposentado­ria rural também vão prejudicar os menos favorecido­s, segundo Edmeire Aoki. “Hoje, o trabalhado­r rural tem de comprovar tempo de atividade. Pela PEC, terá de compromane­nte, var tempo de contribuiç­ão”, alega. Ela também critica o fato de a proposta aumentar de 55 para 60 anos a idade mínima para aposentado­ria da trabalhado­ra rural, tornando a regra igual à dos homens. “Essa também é uma mudança que não faz sentido.”

Rebatizada de aposentado­ria por incapacida­de perNa a atual aposentado­ria por invalidez também terá alterações, de acordo com a advogada. Hoje, todos os aposentado­s nesta categoria recebem 100% da média das contribuiç­ões. Pela proposta que está no Congresso, só terão benefício completo os que sofrerem acidente do trabalho ou apresentar­em doença ocupaciona­l.

Edmeire Aoki critica ainda o fato de o projeto deixar muitas definições para leis complement­ares, que exigem maioria simples nas votações do Congresso (50% mais um dos votos) enquanto uma PEC necessita de quórum qualificad­o (3/5 dos votos dos parlamenta­res). “Fica muito mais fácil de aprovar novas mudanças”, ressalta.

Um dos temas que poderão ser tratados posteriorm­ente por projetos de lei complement­ares é a capitaliza­ção, sistema no qual os trabalhado­res fazem sua própria poupança para a aposentado­ria. De acordo com a advogada, as regras permanente­s das aposentado­ria também serão definidas por lei complement­ar.

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Carl de Souza/AFP Advogados que atuam na área previdenci­ária consideram dura a proposta de reforma da Previdênci­a apresentad­a pelo governo
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