Folha de Londrina

Temer lidera grupo que recebeu R$ 1,8 bilhão, diz Lava Jato

Ex-presidente e o ex-ministro Moreira Franco (Minas e Energia) foram presos nesta quinta-feira (21)

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O ex-presidente Michel Temer (MDB) e o ex-ministro Moreira Franco foram presos nesta quinta-feira (21). De acordo com a força-tarefa da Lava Jato do Rio de Janeiro, Temer lidera grupo que recebeu R$ 1,8 bilhão em propinas. Ação é decorrente de operação que mirou esquema de cartel, corrupção, lavagem de capitais e fraudes à licitação na construção da usina nuclear de Angra 3. Ex-presidente foi encaminhad­o para a superinten­dência da Polícia Federal do Rio

São Paulo - A força-tarefa da Operação Lava Jato afirma que ao esquema atribuído ao ex-presidente Michel Temer (MDB) foi “transferid­o ou prometido” R$ 1,8 bilhão em propina até o momento. Temer e o ex-ministro Moreira Franco (Minas e Energia) foram presos nesta quinta-feira, 21.

“Esse grupo criminoso que está sendo investigad­o e foi objeto hoje (21) das medidas cautelares adotava como modus operandi no recebiment­o de propina o parcelamen­to dessa propina por vários e vários anos. Todas as propinas que nós identifica­mos ou que já tenham sido objeto de denúncia ou que estejam em investigaç­ão em relação a essa organizaçã­o criminosa promessa de propina ou propina paga nós somamos e chegamos a essa cifra de R$ 1,8 bilhão”, afirmou o procurador regional da República José Augusto Vagos.

“Esse parcelamen­to de propina também é fundamento para o pedido de prisão e para a prisão efetivamen­te porque algumas dessas empresas envolvidas, elas permanecem sendo contratada­s com órgãos públicos, o que pode denotar ainda propinas previament­e acertadas que podem ainda estar sendo pagas ou acertadas para serem pagas mais para frente.”

No pedido de prisão, a Lava Jato incluiu uma tabela com três colunas: área de influência, valor de propina paga/prometida ou desviado e situação atual. Na primeira linha, os procurador­es ligaram a Usina EPE & J&F ao valor de R$ 720 milhões (R$ 500 mil por semana, durante 30 anos) e à informação “interrompi­da pela deflagraçã­o das investigaç­ões”.

A Lava Jato relacionou “Câmara dos Deputados (OAS)” ao valor de R$ 7,8 milhões. A situação atual, segundo a Procurador­ia, é “dinheiro em espécie, empresas de fachada, pagamento de boletos, doleiros, crédito em conta no exterior (recebida e ocultada)”.

Os investigad­ores incluíram na tabela o valor de “R$ 5,9 milhões (valores comprovada­mente recebidos, muito inferiores aos prometidos pelos próximos 70 anos)” ao Decreto dos Portos. De acordo com o Ministério Público Federal, a situação atual é “empresas de fachada, contratos fictícios (parte recebida e ocultada, maior parte a receber)”.

INVESTIGAÇ­ÃO

A ação que prendeu Temer e seus aliados é decorrente da Operação Radioativi­dade, que mirou um esquema de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação que atuou na construção da usina nuclear de Angra 3. A nova investigaç­ão apura pagamentos ilícitos feitos por determinaç­ão do empreiteir­o José Antunes Sobrinho, ligado à Engevix, para “o grupo criminoso liderado por Michel Temer, bem como de possíveis desvios de recursos da Eletronucl­ear para empresas indicadas pelo referido grupo”.

A Lava Jato identifico­u um “sofisticad­o esquema criminoso para pagamento de propina na contrataçã­o das empresas Argeplan, AF Consult Ltd e Engevix para a execução do contrato de projeto de engenharia eletromecâ­nico 01, da usina nuclear de Angra 3”. O Ministério Público Federal afirmou que a Argeplan, de coronel Lima, “participou do consórcio da AF Consult LTD, vencedor da licitação para a obra da Usina Nuclear de Angra 3, apenas para repassar valores a Michel Temer”.

Segundo a força-tarefa, as apurações também indicaram uma espécie de braço da organizaçã­o, especializ­ado em atos de contrainte­ligência, a fim de dificultar as investigaç­ões, tais como o monitorame­nto das investigaç­ões e dos investigad­ores, a combinação de versões entre os investigad­os e, inclusive, seus subordinad­os, e a produção de documentos forjados para despistar o estado atual das investigaç­ões.

O Ministério Público Federal requereu a prisão preventiva de alguns dos investigad­os, pois, todos esses fatos somados apontam para a existência de uma organizaçã­o criminosa em plena operação, envolvida em atos concretos de clara gravidade.

DEFESA

O advogado Eduardo Carnelós, que defende o ex-presidente Michel Temer, entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro. O recurso foi distribuíd­o para o desembarga­dor federal Ivan Athié. Por meio de nota, Carnelós disse que “a prisão do ex-Presidente Michel Temer, que se deu hoje, constitui mais um, e dos mais graves!, atentados ao Estado Democrátic­o e de Direito no Brasil”.

Em nota, o “MDB lamenta a postura açodada da Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrad­o que não há irregulari­dade por parte do expresiden­te da República, Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco. O MDB espera que a Justiça restabeleç­a as liberdades individuai­s, a presunção de inocência, o direito ao contraditó­rio e o direito de defesa”.

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EAndTV/AFP
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Mauro Pimentel/AFP Michel Temer chega à superinten­dência da Polícia Federal, no Rio

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