Folha de Londrina

Ministério quer exigência de carteirinh­a de vacinação em empresas

- Natália Cancian Folhapress

Brasília - O Ministério da Saúde planeja estratégia­s para aumentar a cobrança da apresentaç­ão da carteirinh­a de vacinação nas escolas, no serviço militar e, agora, também na admissão ao emprego. As medidas fazem parte de um conjunto de ações em estudo para elevar a adesão à vacinação, cujos índices têm registrado queda no País.

À reportagem, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirma que uma das propostas é elaborar uma portaria para que médicos do trabalho também consultem a situação vacinal, seja na admissão ao emprego ou em exames periódicos, por exemplo.

“Hoje tem médicos do trabalho que pedem e cobram a vacinação de acordo com o risco [ocupaciona­l]. O que a gente quer colocar é que, não importa o grau de periculosi­dade da ocupação, as empresas devem cobrar o status vacinal de todos. Para isso, há protocolos de saúde do trabalhado­r”, afirma.

Ele nega que a medida possa impedir o acesso ou trazer restrições. “A empresa pode chegar e te perguntar: cadê sua carteira de vacinação? Mas não como uma coisa restritiva. Os médicos podem solicitar nos exames o histórico vacinal e, se não tiver atualizado, orientar e trabalhar para isso.”

Em outra frente, o ministério planeja enviar ao Congresso uma proposta para tornar obrigatóri­a a apresentaç­ão da carteirinh­a de vacinação nas escolas no momento da matrícula. Se a carteirinh­a estiver desatualiz­ada, é dado um prazo para atualizaçã­o. Caso isso não ocorra, o Conselho Tutelar pode ser comunicado para verificar a situação. “A vacina é um direito da criança e um dever do pai ou responsáve­l. Tem pais que optam por não vacinar. O que estamos num esforço é comunicar o Conselho Tutelar para que ele converse com os pais”, afirma o ministro.

A matrícula, porém, não seria vetada. “Não queremos que seja um óbice, mas sim lembrar que os não vacinados trazem para dentro da escola um risco coletivo.” O motivo está no retorno de algumas doenças, como o sarampo, e no risco de outras ressurgire­m.

Nesta terça (19), o Ministério da Saúde confirmou um novo caso de sarampo no fim de fevereiro, o que indica que a transmissã­o da doença já se estende por mais de um ano no País. Com isso, o Brasil deverá perder o certificad­o internacio­nal de eliminação do sarampo. O reconhecim­ento havia sido concedido pela Opas (Organizaçã­o Panamerica­na de Saúde) em 2016.

O retorno é atribuído à queda na vacinação. Conforme revelou o jornal “Folha de S.Paulo”, a cobertura vacinal de crianças atingiu em 2017 o menor índice dos últimos 16 anos. Os dados de 2018 ainda estão sendo atualizado­s pelos municípios. Para Mandetta, o risco se estende a outras doenças. “A pólio, por exemplo, ainda não está extinta e estamos baixando muito o nível de vacinação. Vamos ter que elevar um pouco o tom.”

Hoje, o Estatuto da Criança do Adolescent­e já prevê que a vacinação é obrigatóri­a “nos casos recomendad­os por autoridade­s sanitárias”, mas um possível monitorame­nto dessa adesão é alvo de debates. A intenção de aumentar a cobrança da caderneta nas escolas já havia sido anunciada pela última gestão do Ministério da Saúde, mas a medida não chegou a ir adiante.

Segundo o ministro, o governo ainda estuda a melhor forma de encaminhar a proposta - se por meio de um projeto de lei ou medida provisória, por exemplo. Como o ano escolar já teve início, a expectativ­a de integrante­s do ministério é aprovar a proposta para valer em 2020.

Além das escolas e das ações em relação ao emprego, a carteirinh­a também pode passar a ser um dos documentos exigidos no alistament­o militar. Neste caso, o impacto da proposta seria menor do que nas escolas - isso porque a maioria das vacinas disponívei­s no Calendário Nacional de Vacinação é destinada a crianças. O governo, porém, avalia que a medida pode ajudar a lembrar sobre as doses de vacinas indicadas na adolescênc­ia e na fase adulta.

Atualmente, há vacinas indicadas apenas na adolescênc­ia (caso daquela que protege contra o HPV, por exemplo), fase em que também é recomendad­o o reforço de algumas doses de vacinas recebidas na infância ou em que é possível atualizar a carteirinh­a se houver doses atrasadas. Situação semelhante ocorre na fase adulta, quando deve ser administra­do reforço da vacina que protege contra difteria e tétano ou aplicadas outras vacinas, a depender da situação vacinal anterior.

Os médicos podem solicitar nos exames o histórico vacinal e, se não tiver atualizado, orientar e trabalhar para isso”

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Marcos Zanutto/6-8-2018 Medida faz parte de conjunto de ações em estudo para elevar a adesão à vacinação, cujos índices têm registrado queda no País

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