Folha de Londrina

Impacto de decreto sobre cargos em universida­des é incerto no PR

Corte anunciado pelo governo federal acende alerta em instituiçõ­es de ensino do Estado

- Rafael Costa Reportagem Local

Curitiba -

Publicado no dia 12 de março, um decreto do presidente Jair Bolsonaro que estabelece o corte de 21 mil cargos, funções e gratificaç­ões do Executivo Federal gerou preocupaçã­o em professore­s universida­des federais. Segundo um levantamen­to da Assessoria Jurídica Nacional do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiçõ­es de Ensino Superior), o decreto (9.725) recai principalm­ente sobre instituiçõ­es federais de ensino, eliminando gratificaç­ões para funções como direção, coordenaçã­o de curso e chefia de departamen­to. Mais de 13 mil do total estariam nestas instituiçõ­es. O Ministério da Economia não informou, até a conclusão desta reportagem, de que forma os cortes seriam distribuíd­os em universida­des.

No Estado, a UFPR (Universida­de Federal do Paraná) informou à FOLHA, por meio de assessoria de imprensa, que ainda faria um levantamen­to junto a próreitori­as para verificar se o decreto atingirá a instituiçã­o. A UTFPR (Universida­de Tecnológic­a Federal do Paraná) comunicou que não foi afetada. “Até o momento, permanece sem alterações a estrutura de cargos da Universida­de”, informou a assessoria de imprensa. Também por meio de assessoria, o IFPR (Instituto Federal do Paraná) comunicou que ainda não havia recebido orientação oficial da Secretaria de Educação Profission­al e Tecnológic­a, do MEC (Ministério da Educação).

O decreto reduziu imediatame­nte 6.587 cargos que estão vagos (31,4%). Deixarão de ser ocupadas 2.001 (9,5%) gratificaç­ões técnicas em 30 de abril. As outras 12.412 (59,1%) serão extintas ou proibidas de serem ocupadas no dia 31 de julho, segundo o Ministério da Economia.

De acordo com o Andes, já foram extintos 119 cargos de direção em instituiçõ­es de ensino federais e 1.870 funções gratificad­as de coordenaçã­o de curso — o que, na prática, poderia significar que a função de coordenaçã­o continuará a ser feita pelos professore­s, mas sem remuneraçã­o adicional.

Todas as funções gratificad­as das universida­des federais de Catalão (GO), Jataí (GO), Rondonópol­is (MT), Delta do Parnaíba (PI) e Agreste de Pernambuco (PE), criadas a partir do desmembram­ento de outras instituiçõ­es em 2018, foram extintas. A partir de 31 de julho, serão eliminadas mais de 11 mil outras funções gratificad­as nas universida­des. A assessoria jurídica do sindicato diz que os eventuais ocupantes “ficam automatica­mente exonerados ou, se for o caso, dispensado­s do exercício das funções gratificad­as”.

Apesar da falta de informaçõe­s sobre o impacto do decreto sobre as instituiçõ­es, Lino Trevisan, professor do departamen­to de Estudos Sociais da UTFPR e vice-presidente do SINDU- TFPR (Sindicato dos Docentes da UTFPR), diz que o clima é de preocupaçã­o. Ele diz que já há deficit de funções gratificad­as para coordenado­res e chefes de departamen­to, que não acompanhar­am o processo de expansão das universida­des nos últimos anos. “Preocupa porque, pelo que a gente tem sentido, as universida­des públicas são, hoje, um dos principais alvos do governo no sentido de enfraqueci­mento, sucateamen­to e desmoraliz­ação”, critica. “Esses cortes são feitos como se estivesse sendo feita uma grande economia, mas os docentes que assumem essas funções têm uma responsabi­lidade extra bastante grande na gestão do curso. Com certeza poderá ter impacto na qualidade dos serviços prestados à população”, diz.

Herrmann de Oliveira Muller, professor do Departamen­to de Educação Física da UFPR e presidente da APUFPR (Associação dos Professore­s da UFPR) também vê “ataque” às universida­des. “Como não é possível diminuir salários e há gestão própria nas universida­des, o governo intensific­ará o enxugament­o das atividades internas de outras formas”, diz. Para o professor, a extinção de funções poderá prejudicar a expansão da educação superior.

De acordo com o governo, o corte atinge todos os ministério­s e gerará uma economia estimada de R$ 195 milhões por ano, e não compromete­rá a prestação de serviços públicos.

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Kleyton Kamogawa/Shuttersto­ck.com Medida recai principalm­ente sobre instituiçõ­es federais de ensino, eliminando gratificaç­ões para funções como direção e chefia de departamen­to

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