Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

De reis, tornaram-se réus. De presidente­s, tornaramse prisioneir­os. Brasil vive uma nova era

- por Paulo Briguet

1. A prisão de Michel Temer não representa apenas uma situação historicam­ente inédita para o Brasil, com dois ex-presidente­s atrás das grades; é também o sinal de que o país entrou definitiva­mente numa nova era política, em que os integrante­s do velho estamento burocrátic­o, esse que ainda tenta sobreviver em desespero de causa, não mais terão paz caso insistam em prosseguir usando a corrupção como sistema de conquista e manutenção do poder. A velha política tem tudo a temer.

2. Está morta e enterrada a narrativa esquerdist­a que imputava à Operação Lava Jato um caráter golpista. Está morta e enterrada a tese de que Lula é um preso político, e não um político preso. Está morta e enterrada a possibilid­ade de que a Lava Jato perdeu a queda de braço para o Soviete Supremo (STF).

3. Ocorreu a alguém sair às ruas gritando “Temer guerreiro, do povo brasileiro”? Fora algumas figuras pitorescas da grande mídia e dos corredores do Soviete Supremo, há um só cidadão em dúvida sobre a culpabilid­ade de Temer? Teremos movimentos de intelectua­is pela indicação do ex-presidente ao Nobel da Paz? Passa pela cabeça de alguém bradar que inexistem provas para a prisão de Temer?

4. Não é o partido, nem a ideologia, nem a simpatia pessoal que impedem um político de ser preso. Só há duas formas de evitar que um político vá para o xilindró: o foro privilegia­do ou uma decisão monocrátic­a do Soviete Supremo.

5. Resta saber se o Soviete Supremo é tão supremo assim a ponto de soltar os dois ex-presidente­s e suportar a reação popular decorrente disso.

6. Quando chegar a vez de Dilma, o Brasil poderá pedir música no Fantástico.

7. Encerro com uma passagem profética do “Sermão do Bom Ladrão”, pregado pelo Padre Antônio Vieira, imperador da língua portuguesa, em 1655:

“Começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o misto e mero império, todo ele aplicam despoticam­ente às execuções da rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes mandam; e para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e gabando as coisas desejadas aos donos delas por cortesia, sem vontade as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem, quando menos, meeiros na ganância. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuand­o os furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras quantas para isso têm indústria e consciênci­a. Furtam juntamente por todos os tempos (...) furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse.”

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