AVENIDA PARANÁ
De reis, tornaram-se réus. De presidentes, tornaramse prisioneiros. Brasil vive uma nova era
1. A prisão de Michel Temer não representa apenas uma situação historicamente inédita para o Brasil, com dois ex-presidentes atrás das grades; é também o sinal de que o país entrou definitivamente numa nova era política, em que os integrantes do velho estamento burocrático, esse que ainda tenta sobreviver em desespero de causa, não mais terão paz caso insistam em prosseguir usando a corrupção como sistema de conquista e manutenção do poder. A velha política tem tudo a temer.
2. Está morta e enterrada a narrativa esquerdista que imputava à Operação Lava Jato um caráter golpista. Está morta e enterrada a tese de que Lula é um preso político, e não um político preso. Está morta e enterrada a possibilidade de que a Lava Jato perdeu a queda de braço para o Soviete Supremo (STF).
3. Ocorreu a alguém sair às ruas gritando “Temer guerreiro, do povo brasileiro”? Fora algumas figuras pitorescas da grande mídia e dos corredores do Soviete Supremo, há um só cidadão em dúvida sobre a culpabilidade de Temer? Teremos movimentos de intelectuais pela indicação do ex-presidente ao Nobel da Paz? Passa pela cabeça de alguém bradar que inexistem provas para a prisão de Temer?
4. Não é o partido, nem a ideologia, nem a simpatia pessoal que impedem um político de ser preso. Só há duas formas de evitar que um político vá para o xilindró: o foro privilegiado ou uma decisão monocrática do Soviete Supremo.
5. Resta saber se o Soviete Supremo é tão supremo assim a ponto de soltar os dois ex-presidentes e suportar a reação popular decorrente disso.
6. Quando chegar a vez de Dilma, o Brasil poderá pedir música no Fantástico.
7. Encerro com uma passagem profética do “Sermão do Bom Ladrão”, pregado pelo Padre Antônio Vieira, imperador da língua portuguesa, em 1655:
“Começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o misto e mero império, todo ele aplicam despoticamente às execuções da rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes mandam; e para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e gabando as coisas desejadas aos donos delas por cortesia, sem vontade as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem, quando menos, meeiros na ganância. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuando os furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras quantas para isso têm indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos (...) furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse.”