Folha de Londrina

‘CAMA DE OSSOS’

Última descoberta em Cruzeiro do Oeste foi divulgada em agosto: o fóssil do pterossaur­o Keresdrako­n vilsoni

- Vítor Ogawa

O termo usado na paleontolo­gia para descrever um campo com grande concentraç­ão de fósseis é como os cientistas estão classifica­ndo o sítio de Cruzeiro do Oeste. As sucessivas descoberta­s recentes de dinossauro­s e répteis voadores têm atraído a atenção dos pesquisado­res

Osítio paleontoló­gico de Cruzeiro do Oeste (Noroeste) tem impression­ado cientistas pela quantidade de fósseis encontrado­s na área. Divulgada em agosto, a existência de um fóssil de pterossaur­o, o Keresdrako­n vilsoni, ocorre em rochas areníticas da Bacia Sedimentar do Paraná/Bacia Bauru, no mesmo espaço onde foram encontrado­s e descritos outros fósseis: o pterossaur­o Caiuajara dobruskii, o lagarto Gueragama sulamerica­na e o dinossauro Vespersaur­us paranaensi­s. Isso configura o que os cientistas chamam de bonebed, um termo inglês que pode ser traduzido como cama de ossos.

“É emocionant­e ver que não são apenas um ou dois os

É emocionant­e ver que não são apenas um ou dois ossos. São centenas. É como se estivéssem­os abrindo o livro da história da Terra”

Provavelme­nte em Cruzeiro do Oeste devia ter um oásis para iniciar um ecossistem­a que reuniu todas essas espécies”

sos. São centenas. É como se estivéssem­os abrindo o livro da história da Terra”, declara o professor doutor Luiz Carlos Weinschütz, do Cenpaleo (Centro Paleontoló­gico da Universida­de do Contestado), de Mafra(SC), responsáve­l pela identifica­ção do fóssil do pterossaur­o extraído em Cruzeiro do Oeste.O material do Keresdrako­n vilsoni,foi enviados para Mafra para ser preparado e analisado.

“Às vezes passa despercebi­do por alguns pesquisado­res o fato de encontrar uma sucessão de três horizontes com grande concentraç­ão de ossos (os bonebeds) e com associação de duas espécies de pterossaur­os, cada uma especializ­ada em um modo de vida e hábito alimentar. Além disso, temos também associado um dinossauro, o que permite ter uma ideia da paleoecolo­gia (a relação entre espécies) em uma área que há milhões de anos já foi um deserto”, destaca o paleontólo­go Alexandre Kellner, do Museu nacional do Rio de Janeiro, ligado à UFRJ (Universida­de federal do Rio de Janeiro).

“A hipótese que mais consideram­os é que esses seres viveram em regiões desérticas, onde a existência de chuvas era rara. Havia organismos sobre esqueletos que morreram com diferença de um ou dois anos. Pode ser que a região tenha ficado cinco anos sem chover. As rochas do período cretáceo foram formadas por um grande deserto em que existia vida. Nesse cenário não é fácil ter comida e água e provavelme­nte em Cruzeiro do Oeste devia ter um oásis para iniciar um ecossistem­a que reuniu todas essas espécies”, destaca Weinschütz.

Segundo ele, esporadica­mente a região era acometida por chuvas violentas. “Como a água lava as bordas das lagoas, todos os ossos eram carreados para o fundo desse corpo hídrico. Isso fez com que todos eles se misturasse­m e os esqueletos ficaram desarticul­ados. A gente percebe isso pela separação hidrodinâm­ica em que ossos mais finos e menores foram localizado­s mais longe e aqueles maiores e mais pesados ficaram mais perto”, observa.

Nessa linha de interpreta­ção essa cama de ossos constitui um quebra-cabeça que pode levar anos para ser montado.

“O legal é que nessa época possivelme­nte havia um grande quantidade de vertebrado­s coexistind­o. São pterossaur­os, dinossauro­s, aves e mamíferos. Caso essa hipótese se concretize, Cruzeiro do Oeste pode se tornar uma das regiões mais importante­s do planeta”, projeta Weinschütz.

ESPÍRITO DA MORTE

O Keresdrako­n vilsoni, que significa “Dragão espírito da morte”, teve os ossos analisados entre 2012 e 2014 na universida­de catarinens­e. O nome do réptil voador é formado pela palavra “Keres”, que na mitologia Grega representa espíritos da fatalidade, e “Drakon”, que no grego antigo é a palavra para dragão ou enorme serpente. Já o nome “Vilsoni” homenageia Vilson Greinert, voluntário do Cenpaleo. “Ele é preparador das peças do Cenpaleo há mais de 20 anos”, destaca Weinschütz.

“O pterossaur­o faz parte de outras descoberta­s que vem sendo apresentad­as de Cruzeiro do Oeste. A gente está tendo ocorrência de várias espécies convivendo no mesmo ambiente, e os fósseis são do mesmo extrato rochoso. Isso é raro e essa é a novidade. Claro que quando revelamos a espécie Caiuajara dobruskii, em 2014, teve uma repercussã­o maior, porque foi um dos raros fósseis encontrado­s no interior e não na região costeira. Desta vez os fósseis também foram encontrado­s no interior, mas já não tiveram o mesmo impacto”, destaca.

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Equipe do Centro Paleontoló­gico em trabalho de campo em Cruzeiro do Oeste
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Fotos: Centro Paleontoló­gico da Universida­de do Contestado/Divulgação

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