ESCOLAS MILITARES
Com maior apoio, governo prevê que 216 escolas adotem modelo militar nos próximos quatro anos. No lançamento, Bolsonaro defendeu imposição do sistema
Brasília - O governo Jair Bolsonaro ampliou o número de escolas que receberão apoio federal para migrarem para o modelo militar. O presidente afirmou que modelo deve ser imposto às escolas, embora o MEC (Ministério da Educação) indique que o projeto será implementado por adesão de governos e também da comunidade escolar.
“[Se o estudante] Não sabe uma regra de três, não sabe interpretar um texto, não responde pergunta básica de ciência? Absurdo. Não tem que perguntar para o pai irresponsável nessa questão se ele quer ou não uma escola com uma, de certa forma, militarização. Tem que impor, tem que mudar. Não queremos que essa garotada cresça e seja pelo resto da vida dependente de programas sociais do governo”, disse Bolsonaro na cerimônia de apresentação do projeto do governo para a modalidade.
Serão apoiadas agora 216 unidades, segundo anúncio nesta quinta-feira (5) no Palácio do Planalto. É o dobro do que havia sido previsto pelo MEC em julho. O País tem cerca de 140 mil escolas. A previsão é que serão gastos R$ 54 milhões só no próximo ano. Cada escola receberá R$ 1 milhão para adequações de infraestrutura.
O lançamento do Programa Nacional de Escolas Cívico-militares é o primeiro evento da área de educação com participação do presidente Bolsonaro no ano – além da posse do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em abril.
Em entrevista após o evento, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que a determinação do presidente para impor o modelo será atendida. “Se o presidente falou, a palavra do presidente é a última palavra do Executivo. Então, está falado. Mas eu não estava sabendo que tinha [escolas que não querem o modelo], pelo contrário. Tem muito mais demanda do que capacidade de atender”, disse.
Weintraub disse esperar do governo que o modelo alcance 10% das unidades escolares do País. Mas tanto o presidente quanto o ministro disseram que essa seria uma meta que só poderia ser alcançada em um eventual segundo mandato.
Chamadas de escolas cívicomilitares pelo MEC, as escolas desse modelo terão atuação de equipe de militares da reserva no papel de tutores - diferentemente das escolas militares, que são totalmente geridas pelo Exército. Oficialmente, o programa prevê a adesão voluntária de estados e municípios.
As redes de ensino terão de 6 a 27 de setembro para indicar duas escolas que poderão receber o projeto em formato piloto no próximo ano. São elegíveis ao modelo escolas do segundo ciclo do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e de ensino médio com ao menos 500 alunos e no máximo 1.000.
Na abertura da cerimônia, Weintraub fez um discurso com alto teor ideológico, relacionando
o modelo ao reforço à disciplina e valorização do patriotismo. “[Que] Nunca mais um regime totalitário tente ser implantado no Brasil. Nunca mais nós tenhamos uma ideologia externa tentando ser imposta aos brasileiros. Nunca mais o presidente de outro país questione a soberania deste país. Nunca mais a gente esqueça que essa bandeira jamais será vermelha”, disse. “Independentemente da cor e do protetor solar, [o Brasil] só tem um povo, tentaram dividir a gente, e só temos um povo, é o povo brasileiro.”
Uma das críticas ao modelo é que as unidades escolhidas recebem investimentos e reforço de equipe, enquanto o restante das unidades públicas têm de trabalhar nas mesmas condições. Weintraub disse que serão contempladas somente escolas em áreas vulneráveis.
Educadores se opõem à militarização da educação e à priorização de investimentos no modelo. Para a presidente do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, a iniciativa representa um retrocesso diante de todos os desafios do setor. “É o governo anunciando que não sabe como melhorar a qualidade da educação. Diferente de tantas outras políticas com forte evidências de impacto, a militarização não possui nenhuma”, disse Priscila.
O governo Bolsonaro diz que a educação básica é a prioridade. O MEC, no entanto, teve cerca de R$ 6 bilhões de orçamento contingenciados, atingindo ações que vão da creche à pós-graduação.