O país inteiro se comove com a dor de Cafú. Na terça, o pentacampeão perdeu o filho de 30 anos
Cafu,
Você não me conhece, mas nascemos na mesma cidade (São Paulo) e no mesmo ano (1970), com apenas 33 dias de diferença. Há exatamente 20 anos, na Copa América do Paraguai, eu estava lá quando você recebeu a braçadeira de capitão da Seleção Brasileira. Atuando na época como repórter da Folha de Londrina, acompanhei de perto os jogos, os treinos e todo o clima daquele torneio. Foi uma das minhas mais importantes experiências jornalísticas.
Como jogador, você deu imensas alegrias ao povo brasileiro. Foi personagem de dois títulos mundiais do São Paulo (1992 e 1993), naquele inesquecível time montado por Telê Santana. No meu amado Palmeiras, fez parte do “dream team” de 1996. Depois, já atuando no futebol italiano, teve a honra de levantar a taça do penta, na Copa do Mundo de 2002.
Se eu precisasse definir o seu futebol em apenas uma palavra, essa palavra seria sincero. Dizem que o termo deriva do latim “sine cera” (sem cera), e antigamente era usado para designar objetos de arte perfeitos e íntegros, que não tinham nenhum remendo. Com o tempo, a palavra passou a ser aplicada às ações e ao caráter das pessoas.
Durante a maior parte de sua carreira, você atuou como lateral-direito. Eu diria que a sua posição em campo refletia o seu caráter como homem. O lateral corre por toda a extensão do campo; defende, arma e ajuda a atacar; deve ser incansável como Hermes e corajoso como Aquiles. E toda essa movimentação se torna ainda mais necessária quando o lateral é também capitão. Você e o saudoso Carlos Alberto Torres sempre souberam disso.
Fora dos gramados, você levou essa dupla condição — lateral e capitão — para
O país inteiro se comove com a dor de Cafu. Na terça, o pentacampeão perdeu o filho de 30 anos
o campo da realidade humana, ajudando as crianças pobres do seu bairro, o Jardim Irene, com as atividades educacionais e esportivas da Fundação Cafu. Nesse trabalho, como no futebol, você também enfrentou dificuldades, mas ajudou muita gente a conquistar uma vida melhor.
E agora, Cafu, nós recebemos a triste notícia da morte de seu filho Danilo, vítima de um infarto com apenas 30 anos. Há situações na vida cujo sentido só compreenderemos diante de Deus, e essa é uma delas. A dor do pai que perde o filho tem sido um mistério enfrentado por poetas e escritores há milênios. A minha pobre pena, no entanto, vacila diante da enormidade do seu sofrimento.
Eu só queria dizer, Capitão, que os brasileiros têm uma dívida de gratidão com você. Nessa hora de dor e lamento, o repórter só pode lhe dar uma notícia: um País inteiro o abraça.
Que Deus lhe dê força e consolação.