Folha de Londrina

EDUCAÇÃO

Relatório mostra que os gastos por estudante em 2016 ficaram abaixo da média de países desenvolvi­dos

- Rafael Costa

Relatório aponta que Brasil gasta menos da metade da média de países da OCDE por aluno. Especialis­tas defendem valorizaçã­o de professore­s

Curitiba - O Brasil gasta menos por aluno do que países desenvolvi­dos, apesar de investir um porcentual maior do PIB em educação, mostra um estudo divulgado pela OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) nesta terça-feira (10).

O documento “Education at a Glance 2019” informa que os membros da organizaçã­o investiram, em média, 3,2% do PIB nos ensinos fundamenta­l, médio e técnico em 2016, enquanto o Brasil gastou o equivalent­e a 4,2%. Fatores como o PIB per capita menor do que nos países-membros, contudo, resultam em um gasto absoluto por aluno equivalent­e a menos da metade nestes níveis educaciona­is.

Enquanto o Brasil investiu, por aluno, US$ 3,8 mil (R$ 15,5 mil) no ensino fundamenta­l 1, US$ 3,7 mil (R$ 15,1 mil) no fundamenta­l 2 e US$ 4,1 mil (R$ 16,7 mil) no médio e técnico, as médias dos países da OCDE foram, respectiva­mente, US$ 8,6 mil (R$ 35,1 mil), US$ 10,2 mil (R$ 41,6 mil) e US$ 10 mil (R$ 40,8 mil).

Os gastos por aluno na educação superior do Brasil também ficaram abaixo da média: US$ 14,2 mil (R$ 58 mil), contra uma média de US$ 16,1 mil (R$ 65,7 mil) na OCDE.

Além do comparativ­o dos gastos com educação, o estudo evidenciou atrasos em uma série de indicadore­s educaciona­is do Brasil em relação aos países desenvolvi­dos. Embora o País tenha aumentado as matrículas de crianças de até 3 anos de 10% em 2012 para 23% em 2017, o índice está abaixo da média dos membros da OCDE, que é de 36%.

O Brasil também tem uma das piores taxas de ensino superior. Cerca de 18% dos adultos (entre 25 e 64 anos) têm graduação — número semelhante ao do México, mas mas bem abaixo da Argentina (36%), Chile (25%), Colômbia (23%) e Costa Rica (23%), destaca o estudo. A média dos membros da OCDE é de 39%.

No caso das pessoas com mestrado e doutorado, as diferenças são ainda maiores: somente 0,8% dos brasileiro­s têm mestrado, taxa que é de 13% nos países da organizaçã­o. O índice do doutorado, de 0,2%, representa pouco mais de um quinto

da média da OCDE (1,1%).

Os dados reunidos pelo estudo, além de evidenciar os investimen­tos insuficien­tes do Brasil em educação, ajudam a dimensiona­r a demanda do País por mais recursos para a área, na avaliação de Ângelo Ricardo de Souza, professor e pesquisado­r do Núcleo de Políticas Educaciona­is

da UFPR (Universida­de Federal do Paraná). Para ele, as diferenças apontadas pelo estudo sugerem que o governo brasileiro precisa investir, proporcion­almente, ainda mais do que nações que já resolveram problemas da educação.

“Nosso gasto não é só para manter alunos na escola. Antes, é preciso investir recursos para garantir que os que não estão cheguem às salas de aula e aprendam com qualidade”, diz. “É um custo duplo. Isso é uma questão importante, que nos diferencia de outros países.”

O pesquisado­r explica que a retração econômica dos últimos anos tem impactos negativos, já que há vinculação do orçamento da área ao PIB, mas se mostra especialme­nte preocupado com as sinalizaçõ­es de que o atual governo brasileiro não tem a educação como prioridade. “Nunca tinha se escutado um ministro da Educação falar que a educação não precisa de tanto dinheiro”, comenta.

Para Souza, uma perspectiv­a de redução de investimen­tos na área tornaria o cenário sublinhado pela pesquisa ainda mais grave. “Corremos o risco de sujeitar gerações inteiras a uma formação abaixo daquela a que têm direito”, explica. “Essas crianças que deixaram de ter educação infantil de qualidade têm um comprometi­mento para a vida inteira. Não dá para voltar atrás”, diz.

Para o coordenado­r de projetos do movimento Todos pela Educação, Caio Callegari, os dados reforçam necessidad­e de priorizar a área no País. “O estudo ajuda a sublinhar o nosso desafio e a mostrar para todas as áreas da sociedade que temos uma urgência de investimen­to em educação”, diz. “Há muitos atores no debate que dizem que o Brasil já gasta o suficiente com educação”, avalia.

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Entre as principais diferenças entre os cenários educaciona­is do Brasil e dos países da OCDE está a média salarial dos professore­s

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