EDUCAÇÃO
Relatório mostra que os gastos por estudante em 2016 ficaram abaixo da média de países desenvolvidos
Relatório aponta que Brasil gasta menos da metade da média de países da OCDE por aluno. Especialistas defendem valorização de professores
Curitiba - O Brasil gasta menos por aluno do que países desenvolvidos, apesar de investir um porcentual maior do PIB em educação, mostra um estudo divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) nesta terça-feira (10).
O documento “Education at a Glance 2019” informa que os membros da organização investiram, em média, 3,2% do PIB nos ensinos fundamental, médio e técnico em 2016, enquanto o Brasil gastou o equivalente a 4,2%. Fatores como o PIB per capita menor do que nos países-membros, contudo, resultam em um gasto absoluto por aluno equivalente a menos da metade nestes níveis educacionais.
Enquanto o Brasil investiu, por aluno, US$ 3,8 mil (R$ 15,5 mil) no ensino fundamental 1, US$ 3,7 mil (R$ 15,1 mil) no fundamental 2 e US$ 4,1 mil (R$ 16,7 mil) no médio e técnico, as médias dos países da OCDE foram, respectivamente, US$ 8,6 mil (R$ 35,1 mil), US$ 10,2 mil (R$ 41,6 mil) e US$ 10 mil (R$ 40,8 mil).
Os gastos por aluno na educação superior do Brasil também ficaram abaixo da média: US$ 14,2 mil (R$ 58 mil), contra uma média de US$ 16,1 mil (R$ 65,7 mil) na OCDE.
Além do comparativo dos gastos com educação, o estudo evidenciou atrasos em uma série de indicadores educacionais do Brasil em relação aos países desenvolvidos. Embora o País tenha aumentado as matrículas de crianças de até 3 anos de 10% em 2012 para 23% em 2017, o índice está abaixo da média dos membros da OCDE, que é de 36%.
O Brasil também tem uma das piores taxas de ensino superior. Cerca de 18% dos adultos (entre 25 e 64 anos) têm graduação — número semelhante ao do México, mas mas bem abaixo da Argentina (36%), Chile (25%), Colômbia (23%) e Costa Rica (23%), destaca o estudo. A média dos membros da OCDE é de 39%.
No caso das pessoas com mestrado e doutorado, as diferenças são ainda maiores: somente 0,8% dos brasileiros têm mestrado, taxa que é de 13% nos países da organização. O índice do doutorado, de 0,2%, representa pouco mais de um quinto
da média da OCDE (1,1%).
Os dados reunidos pelo estudo, além de evidenciar os investimentos insuficientes do Brasil em educação, ajudam a dimensionar a demanda do País por mais recursos para a área, na avaliação de Ângelo Ricardo de Souza, professor e pesquisador do Núcleo de Políticas Educacionais
da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Para ele, as diferenças apontadas pelo estudo sugerem que o governo brasileiro precisa investir, proporcionalmente, ainda mais do que nações que já resolveram problemas da educação.
“Nosso gasto não é só para manter alunos na escola. Antes, é preciso investir recursos para garantir que os que não estão cheguem às salas de aula e aprendam com qualidade”, diz. “É um custo duplo. Isso é uma questão importante, que nos diferencia de outros países.”
O pesquisador explica que a retração econômica dos últimos anos tem impactos negativos, já que há vinculação do orçamento da área ao PIB, mas se mostra especialmente preocupado com as sinalizações de que o atual governo brasileiro não tem a educação como prioridade. “Nunca tinha se escutado um ministro da Educação falar que a educação não precisa de tanto dinheiro”, comenta.
Para Souza, uma perspectiva de redução de investimentos na área tornaria o cenário sublinhado pela pesquisa ainda mais grave. “Corremos o risco de sujeitar gerações inteiras a uma formação abaixo daquela a que têm direito”, explica. “Essas crianças que deixaram de ter educação infantil de qualidade têm um comprometimento para a vida inteira. Não dá para voltar atrás”, diz.
Para o coordenador de projetos do movimento Todos pela Educação, Caio Callegari, os dados reforçam necessidade de priorizar a área no País. “O estudo ajuda a sublinhar o nosso desafio e a mostrar para todas as áreas da sociedade que temos uma urgência de investimento em educação”, diz. “Há muitos atores no debate que dizem que o Brasil já gasta o suficiente com educação”, avalia.