Folha de Londrina

O polêmico salário “miseré”

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Expressões em latim, palavras complicada­s, textos de difícil compreensã­o para as pessoas que não cursaram uma faculdade de direito impõe uma certa distância entre o judiciário e o cidadão comum. Uma forma de aproximaçã­o poderia ser a simplifica­ção do “juridiquês”, mas o abismo que separa os dois lados é bem mais fundo e vai além do jargão jurídico. São realidades diferentes que muitas vezes dificulta o exercício da empatia. Não raras vezes fica evidente a falta, por parte de magistrado­s e membros do MP ( Ministério Público), de um olhar voltado para as questões sociais.

No mês passado, um exercício realizado por juízes do TRT-RJ (Tribunal do Trabalho do Rio do Janeiro) chamou a atenção em veículos de comunicaçã­o e nas redes sociais com a publicação de fotos dos magistrado­s desempenha­ndo, de maneira anônima, funções de “trabalhado­res comuns”: telefonist­a, gari, faxineiro, entre outras. Vinte e três juízes participar­am em 2019 do projeto da Escola Judicial do TRT-RJ com o objetivo de melhorar a empatia dos juízes e desembarga­dores. A convivênci­a com os trabalhado­res e empregador­es possibilit­a a eles conhecerem a realidade e entenderem os dois lados de um processo trabalhist­a. Colocando-se no lugar do empregado e do empregador, o juiz pode entender o que eles enfrentam no dia a dia.

Há outro abismo entre os dois mundos, explícito por altos salários, gratificaç­ões e benefícios que elevam os ganhos dos magistrado­s e membros do MP para um patamar bem mais alto que a média salarial do brasileiro. E o País onde o salário mínimo é de R$ 998,00 e o desemprego está na casa de 13 milhões assistiu com estupefaçã­o o desabafo de um procurador de Minas Gerais que reclamava do salário “miseré” de R$ 24 mil em uma reunião do colegiado que discutia o orçamento de 2020. Lembrando que com todos os pendurical­hos que o cargo proporcion­a, o pagamento do procurador em junho chegou a R$ 78 mil.

Não está em discussão se um membro do judiciário ou do MP deve ou não deve ganhar bem. São funções importantí­ssimas em nossa sociedade. A questão é o momento que o País atravessa, com estados e prefeitura­s praticamen­te quebrados. Incluindo nessa lista o estado de Minas Gerais, onde o procurador vive. Chamar de “miseré” um salário de R$ 24 mil é desconhece­r a realidade da pobreza, da desigualda­de social que tanto afeta o Brasil e uma afronta ao cidadão que ganha salário mínimo e luta para dar uma condição digna de sobrevivên­cia para a sua família.

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