Fala sobre democracia de Carlos Bolsonaro é duramente criticada
Presidentes da Câmara e do Senado exaltam as instituições, assim como o vice Mourão, que está no comando do País interinamente
A declaração do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSL) sobre morosidade das mudanças na democracia foram mal recebidas em Brasília. A fala foi vista como uma ameaça e criticada tanto por entidades civis como pela classe política. A reação negativa foi alvo de reclamação do próprio filho de Bolsonaro, que atacou a imprensa. “O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes. O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. CANALHAS!”, publicou em seu perfil no Twitter, nessa terça-feira (10).
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a declaração do vereador. “Eu preferia nem comentar esse assunto, porque é uma declaração que não cabe num país democrático”, disse Maia a jornalistas ao chegar à Câmara. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi ainda mais duro em sua reação. “O Senado Federal, o Parlamento brasileiro, a democracia estão fortalecidos. As instituições todas estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem, da minha parte, o meu desprezo”, reagiu Alcolumbre.
Em um contraponto, o presidente interino e vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), defendeu a importância do regime democrático e disse que é possível aprovar medidas com mais celeridade negociando com o Poder Legislativo. O general da reserva salientou que, se não fosse o regime democrático, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não teria chegado ao comando do Poder Executivo. “A democracia é fundamental, são pilares da civilização ocidental. Vou repetir para você: pacto de gerações, democracia, capitalismo e sociedade civil forte. Sem isso, a civilização ocidental não existe”, afirmou Mourão.
PALÁCIO
Segundo a “Folha de São Paulo”, um assessor do Palácio do Planalto ressaltou que o posicionamento ocorreu no pior momento, quando o Brasil já enfrenta críticas internacionais por conta das queimadas na floresta amazônica. A equipe ministerial, contudo, tem evitado fazer críticas públicas ao filho do presidente, com receio de retaliações. O general Carlos Santos Cruz foi afastado do comando da Secretaria de Governo após protagonizar um embate público com o vereador. “Isso não é da minha área”, respondeu nessa terça-feira (10) o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, ao ser questionado sobre a declaração polêmica. Em episódios anteriores, auxiliares do presidente chegaram a defender que Bolsonaro chamasse a atenção do filho. Ele, no entanto, não seguiu o conselho, o que levou o núcleo militar a desistir de fazer um enfrentamento público com o vereador.