TENSÃO NO CHILE
Número de mortes durante protestos contra o alto custo de vida no país chega a 11
Ao menos 11 pessoas morreram na onda de protestos enfrentada pelo governo chileno nas principais cidades do país. Após as manifestações, o Senado aprovou projeto que congela aumento das tarifas do transporte. Reportagem traz relato de londrinenses em férias na capital chilena
São Paulo - Depois de um fim de semana de violentos protestos, o Chile amanheceu nesta segunda-feira (21) com uma declaração que tentava retomar a normalidade. “Veja, sou um homem feliz e a verdade é que não estou em guerra com ninguém”, disse o general Javier Iturriaga del Campo.
A fala contradiz a postura do presidente Sebastián Piñera, para quem o país está “em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém e está disposto a usar a violência e o crime sem nenhum limite”.
Centenas de milhares de chilenos foram às ruas em manifestações contra o alto custo de vida no país. O aumento de tarifas de metrô (que já foi cancelado pelo presidente Sebastián Piñera) foi o estopim da crise atual, mas o movimento reflete a insatisfação com uma grande desigualdade econômica e com custos de saúde e educação.
Muitos manifestantes, em sua maioria jovens, batiam tambores e panelas, soavam apitos e cantavam pedindo a saída de Piñera - sempre observados por soldados e policiais, nas laterais das ruas, e por helicópteros no alto.
De acordo com o jornal chileno “La Nación”, houve enfrentamentos em alguns pontos da cidade e há registro de manifestantes feridos por disparos de balas de borracha.
Em vários momentos, os chilenos gritaram palavras de ordem pedindo a saída dos militares. Mas homens e tanques do Exército seguiam nas ruas, já que várias cidades continuam sob estado de emergência. O general Iturriaga anunciou ainda um novo toque de recolher em Santiago, valendo das 8h da noite às 6h da manhã desta terça.
No primeiro dia de trabalho desde que os protestos começaram, muitos empregadores liberaram os funcionários e as aulas foram suspensas em praticamente todos os colégios e universidades.
Ônibus e linhas de metrô funcionaram parcialmente na hora da volta para casa, mas muitas pessoas preferiram se juntar aos protestos, que são os maiores em muitos anos.
Na manhã desta segunda, o governo informou que 11 pessoas morreram nos atos (que incluíram a destruição de várias estações de metrô) e incêndios. Foram três vítimas no sábado (19) e oito no domingo (20). E cerca de 2.100 foram detidas. O Senado aprovou nesta segunda projeto que congela aumento das tarifas do transporte.
A alta comissária para direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) e ex-presidente do Chile
Michelle Bachelet pediu investigações independentes sobre as mortes no fim de semana, citando “alegações perturbadoras” de uso excessivo de força pelos policiais.
Em uma entrevista coletiva, Iturriaga pediu que as pessoas tentem voltar à rotina normal e disse que o início da manhã foi “um despertar lento de uma cidade em paz”. Ele tem se tornado o rosto do Exército nesta crise no Chile. Ele foi nomeado comandante da defesa nacional durante o estado de emergência decretado na madrugada de sábado.
Em uma entrevista logo após o anúncio do presidente, ele apareceu na TV com boina preta, símbolo de um batalhão de operações especiais, e uniforme camuflado, para uso em campo.
Esta é a primeira vez que os militares vão às ruas para conter um protesto popular desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990, cujo governo foi marcado por crimes como tortura e desaparecimento de opositores. A família Iturriaga é suspeita de ter participado dessas ações. O general Dante Iturriaga, pai de Javier, foi acusado de levar presos a um centro de tortura na época da ditadura. E Pablo Iturriaga, seu tio, investigado por participar do sumiço do ex-clérigo Omar Venturelli, que foi jogado ao mar.