Padres manifestam apoio a arcebispo por discurso sobre ‘direita violenta’
Mais de cem padres e bispos de vários estados do país e até de Roma, na Itália, assinam uma carta em apoio a Dom Orlando Brandes, arcebispo da Arquidiocese de Aparecida e ex-arcebispo de Londrina. Isso porque na missa solene no Santuário Nacional, maior templo católico do país, Dom Orlando criticou o “dragão do tradicionalismo” e disse que a “direita é violenta e injusta”. O discurso na homilia do dia 12 de outubro provocou reação de grupos mais conservadores da igreja que tentam imputar ao arcebispo ligação com partidos de esquerda.
Os sacerdotes dizem estar preocupados com avanço de correntes de pensamento dentro da Igreja que se colocam abertamente contra o Papa Francisco. “Estamos vendo um país tomado por focos de histeria e de conservadorismo. Esses focos, localizados em grupos de inspiração religiosa, buscam interesses próprios e usam a fé para justificar injustiças sociais, tornando a religião um instrumento de alienação.”
No documento, os religiosos traduzem os termos usados no discurso de Dom Orlando Brandes. “O tradicionalismo é sim um dragão, quando procura ser um instrumento de dominação e subjugação das pessoas. Tradicionalismo não é tradição. A tradição da igreja é o próprio ser da igreja que, em sua vida, doutrina e culto, nos ensina o que é, o que crê. O tradicionalismo é um apego exagerado ao passado que impede o avanço efetivo das pessoas e da sociedade. A Tradição da Igreja é viva. O tradicionalismo está morto. Como o senhor externou, também nós vemos, com clareza, no ‘dragão do tradicionalismo’, um apego ao passado, a ideias não arejadas, a estruturas caducas.”
AUTORIDADE QUESTIONADA
Os padres e bispos que assinam o documento também corroboram com o discurso sobre a “direita violenta e injusta”. “Nunca, em todo o tempo em que a teologia latino-americana teve maior influxo no Brasil e na Igreja, os teólogos assim chamados de ‘esquerda’ questionaram a autoridade dos bispos, do Concílio ou do Papa. Tampouco encontrou-se em seus discursos apologia à violência, à discriminação ou julgamentos descontextualizados e absolutamente alheios à realidade da grande maioria do nosso povo”, escrevem no documento ao lembrar do discurso sobre “bandido bom é bandido morto” apregoado por movimentos de extrema direita nas redes sociais.