A infância de Jesus
Todos os dias, ao rezar o terço, procuro meditar sobre os mistérios gozosos, ou da alegria, que correspondem à infância de Jesus. São cinco mistérios: a anunciação do anjo Gabriel; a visitação de Maria a Isabel; o nascimento de Jesus em Belém; a apresentação no Templo; a perda e o reencontro do menino Jesus. Creio firmemente que os mistérios da alegria contêm lições de fé e esperança compreensíveis por qualquer ser humano. Se você deseja conhecêlos profundamente, existe um pequena obra-prima que servirá como guia: o livro “A Infância de Jesus”, publicado pelo papa emérito Bento XVI em 2012, penúltimo ano de seu pontificado. Gosto de reler passagens desse livro nos dias que precedem o Natal. Compartilho com vocês alguns trechos luminosos:
“Maria é um novo início; o seu filho não provém de um homem, mas é uma nova criação: foi concebido por obra do Espírito Santo. José é juridicamente o pai de Jesus. Por meio dele, Jesus pertence, segundo a Lei, à tribo de Davi. E, todavia, vem de outro lugar, ‘do alto’: do próprio Deus. O mistério sobre ‘de onde’
Ele é, da sua origem dupla, nos é colocado de forma muito concreta: a sua origem é determinável e, todavia, permanece um mistério. Só Deus é o seu ‘Pai’ em sentido próprio. A genealogia dos homens tem a sua importância na história do mundo. E, apesar disso, no fim das contas é em Maria, a Virgem humilde de Nazaré, que acontece um novo início: recomeça de modo novo o ser humano.”
“‘Alegra-te, cheia de graça’. Essa ligação entre alegria e graça é um aspecto digno de consideração, na saudação ‘khaire’; em grego, as duas palavras (‘khara’ e ‘kharis’) — são formadas da mesma raiz. Alegria e graça andam juntas.”
“Ao criar a liberdade, de certo modo, Deus tornou-se dependente do homem; o seu poder está ligado ao ‘sim’ não forçado de uma pessoa humana.”
“A manjedoura é o lugar em que os animais encontram seu alimento. Agora, porém, jaz na manjedoura Aquele que havia de apresentar-Se a Si mesmo como o verdadeiro pão descido do céu, o alimento que dá ao homem a vida verdadeira: a vida eterna.”
“A pax Christi não está necessariamente em contraste com a pax Augusti; mas a paz de Cristo supera a paz de Augusto, como o céu se eleva acima da terra.”
“Não é a estrela que determina o destino do Menino, mas o Menino que guia a estrela.”
“Jesus, o verdadeiro Filho, saiu Ele mesmo para o ‘exílio’ a fim de nos trazer a todos da alienação para casa.”
“A missão divina de Jesus rompe todas as medidas humanas, tornando-se sem cessar, para o homem, um mistério obscuro. Para Maria, algo daquela espada de dor que Simeão mencionara (Lc 2, 35) torna-se na perda e reencontro do Menino. Quanto mais uma pessoa de aproxima de Jesus, mais envolvida fica no mistério da sua Paixão.”