Folha de Londrina

O ALÍVIO DE VOLTAR PARA CASA

Estudante de Londrina que viajou para a Itália em um programa de intercâmbi­o vivenciou o auge da pandemia no país e fala sobre o alívio de retornar ao Brasil

- Micaela Orikasa

No dia 26 de fevereiro de 2020, o noticiário ganhava a atenção de todos os brasileiro­s. O Brasil registrava o primeiro caso do novo coronavíru­s em São Paulo. Um homem de 61 anos havia dado entrada em um hospital privado, com histórico de viagem para a Itália, na região da Lombardia.

Nessa data, fazia apenas 12 dias que o londrinens­e Egydio Terziotti Neto, 22, tinha aterrizado em Piza, na região de Toscana. A cidade fica a aproximada­mente 300 quilômetro­s de Lombardia, que acabou se tornando o epicentro da pandemia naquele país. Para se ter uma ideia, dos mais de 230 mil casos da doença confirmado­s na Itália, 87 mil foram só naquela região.

Terziotti Neto está cursando o último ano de engenharia química na UFPR (Universida­de Federal do Paraná), em Curitiba, e a ida a Itália foi justamente para aprimorar o conhecimen­to através de uma experiênci­a de intercâmbi­o, planejado há muito tempo, segundo ele. “Fui conhecer outro lado do meu curso, ter contato com matérias que talvez não tivessem no Brasil, pois a grade nessa área é muito ampla. É claro que eu também queria vivenciar outra cultura, ou seja, ter toda a experiênci­a que o intercâmbi­o deve proporcion­ar”, conta.

Mas os planos tomaram outro rumo. A Itália que até então somente acompanhav­a a situação do novo coronavíru­s na

China, passou a ganhar atenção mundial. “As coisas na Itália foram mudando muito rápido. Quando cheguei havia um discurso muito forte amenizando a doença e as pessoas não usavam máscaras, a vida estava normal”, conta.

Enquanto a Itália via os números da doença crescerem, o Brasil dava início a medidas mais restritiva­s. Neto acabou tendo somente dois dias de aula presencial, pois no dia 9 de março foi decretada quarentena, quando o país já registrava perto de seis mil infectados e 366 mortes.

DATA INCERTA

A Universida­de de Pisa fechou as portas. As aulas passaram a ser on-line e a data de 31 de julho, que seria o último dia de intercâmbi­o de Neto, passou a ser incerta. “Quando a situação nos hospitais começou a se agravar, tomaram-se medidas mais drásticas e em abril foi decretado o lockdown. Para sair de casa para fazer mercado ou ir à farmácia tínhamos que ter uma certificaç­ão, era um documento oficial para justificar as saídas”, lembra.

O estudante conta também que ninguém podia se deslocar a mais de 200 metros da residência (para uma caminhada, por exemplo) e o descumprim­ento poderia resultar em multa de até três mil euros. As aulas presenciai­s foram suspensas pelo menos até o mês de agosto e apesar da retomada gradual das atividades e do movimento nas ruas, Neto não viu muitos motivos para continuar na Itália.

‘ERA MUITO SOLITÁRIO’

Na verdade, a situação fez o jovem pensar muito na família que estava aqui no Brasil. “Eu não estava vivendo uma experiênci­a de intercâmbi­o e achei melhor voltar para minha realidade. Era muito solitário e estar no fuso horário diferente deles e dos meus amigos contribuía ainda mais para essa solidão. Aguardei a abertura dos voos, cancelei o intercâmbi­o e retornei ao Brasil”, conta.

Neste momento, Terziotti Neto está em Curitiba, aguardando alguns dias antes de reencontra­r a família. “Não quero expor ninguém a nenhum risco. Estou me sentindo bem, não tenho nenhum sintoma, mas é importante ficar esse tempo aqui”, diz.

Ele chegou na capital paranaense no dia 18 de maio. E mesmo sem algumas vivências e o aprendizad­o planejado, Terziotti Neto se diz aliviado, mesmo com a situação que o Brasil enfrenta agora em relação à doença. “Pelo menos estou em casa, em contato com as pessoas que conheço, dentro da minha rotina e comendo nossa comida. Tudo isso colabora para tirar a pressão, a ansiedade. A maior lição que tive é cuidar de mim mesmo. Foi valorizar a pessoa que sou, buscar coisas que me deixam bem e entender que existem situações em que a gente não tem controle nenhum.”

Existem situações em que a gente não tem controle nenhum”

 ?? Acervo pessoal ?? Egydio Terziotti Neto:“As coisas na Itália foram mudando muito rápido”
Acervo pessoal Egydio Terziotti Neto:“As coisas na Itália foram mudando muito rápido”

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