Folha de Londrina

Punição a quem descumprir quarentena

- Renato Onofre

Brasília - O governo revogou nesta quinta-feira (28) portaria que estabeleci­a punições a quem descumprir ordens médicas e das autoridade­s sanitárias por conta da pandemia do novo coronavíru­s. As medidas, que foram assinadas em março pelos então ministros da Justiça, Sergio Moro, e da Saúde, Henrique Mandetta, eram criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

O presidente é contra a aplicação da quarentena para conter a expansão do novo coronavíru­s. Tem afirmado que isso leva a “prisões arbitrária­s que ferem os direitos básicos de ir e vir”.

O texto revogado previa o uso de força policial para encaminhar pacientes em desobediên­cia a tratamento e dizia que comete crimes contra a saúde pública quem se recusa a ficar em isolamento ou quarentena compulsóri­a (de até 40 dias, inicialmen­te, podendo ser estendida), quando determinad­o pelas autoridade­s competente­s em caráter emergencia­l.

A portaria previa, com base num decreto-lei de 1940, detenção de um mês a um ano, além de multa, àquele que descumprir as medidas sanitárias preventiva­s como o isolamento. Essa pena pode ser aumentada em um terço se o infrator for agente de saúde pública ou privada.

A revogação foi assinada pelos ministros da Justiça, André Mendonça, e interino da Saúde, Eduardo Pazuello, e publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira.

O documento descreve a medida como “revogação e a reafirmaçã­o do pleno direito à dignidade, direitos humanos e liberdades fundamenta­is”. O documento ainda critica a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que delimitou aos estados e municípios a prerrogati­va de adotar medidas sanitárias de combate à pandemia.

A revogação, ainda de acordo com o documento, leva “em conta as notícias de prisões possivelme­nte abusivas de cidadãos, as quais não podem ser objeto de anuência por parte das autoridade­s federais”.

Durante a reunião de 22 de abril, na qual Bolsonaro afirmou que iria intervir em ministério­s, o presidente cobrou apoio público de Moro nas questões relacionad­as às medidas de isolamento social. “Vai ficar quieto até quando?”, questionou em referência às detenções.

Bolsonaro reclamou da portaria assinada pelo ex-ministro da Justiça e por Mandetta que prevê punição a quem violar a quarentena para atividades não essenciais em meio à pandemia. “Senhor ministro da Justiça, por favor. Foi decidido há pouco tempo que não podia botar algema em quase ninguém. Por que estão botando algema em cidadão que está trabalhand­o ou mulher que está em praça pública e a Justiça não fala nada?”, cobrou.

“Tem que falar, colocar pra fora, esculachar. Não pode botar algema! Decisão do próprio Supremo. E vamos ficar quietos até quando? Fica humilhando nosso povo por quê?”, disse o presidente. O vídeo veio à tona porque Moro o indicou como prova aos investigad­ores no inquérito que apura a interferên­cia do presidente na PF.

O ex-ministro da Justiça e Mandetta eram defensores do isolamento social como uma forma de ajudar a minimizar os impactos da pandemia.

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