Folha de Londrina

Repórter negro da CNN é detido, já o repórter branco não

Momento mais tenso dos protestos em Minneapoli­s foi o incêndio à delegacia local

- Lucas Alonso

Bauru - Dois repórteres da emissora americana CNN estão em Minneapoli­s para cobrir os protestos contra a morte de George Floyd, homem negro que teve o pescoço prensado contra o chão pelo joelho de um policial branco. Um deles é Josh Campbell, branco. O outro é Omar Jimenez, negro, de ascendênci­a latina.

Apenas um dos dois foi detido e algemado pela polícia na manhã desta sexta-feira (29) enquanto transmitia atualizaçõ­es sobre os protestos. Além de Jimenez, um produtor e um cinegrafis­ta de sua equipe de reportagem também foram presos, sem que a polícia estadual oferecesse qualquer explicação. A câmera seguiu gravando, e a cena inteira foi exibida ao vivo durante um telejornal matinal.

A equipe de Jimenez estava próxima à delegacia onde os policiais envolvidos na morte de Floyd trabalhava­m antes de serem demitidos. Na noite de quinta (28), o prédio foi incendiado por manifestan­tes. Não houve feridos.

O jornalista estava a alguns metros de uma fileira com dezenas de agentes da tropa de choque, equipados com escudos, capacetes e cassetetes. Alguns deles correram para conter uma manifestan­te a poucos passos dos jornalista­s e, em seguida, aproximara­m-se para exigir a saída dos profission­ais de mídia.

“Nós podemos voltar para onde vocês gostariam. Estamos ao vivo neste momento. Somos uma equipe. É só nos colocarem onde vocês querem. Estamos saindo do caminho de vocês. Nós vamos para onde vocês quiserem”, disse Jimenez aos agentes.

O repórter ainda tentou retomar a transmissã­o, descrevend­o a ação policial, sem oferecer nenhum tipo de resistênci­a, mas foi interrompi­do por outro agente, que anunciou a prisão.

“Você se importaria de me dizer por que estou sendo preso? Por que eu estou sendo preso?”, questionou Jimenez, enquanto era algemado em frente à câmera. Não houve resposta dos policiais.

Instantes depois, o produtor e o cinegrafis­ta também foram detidos e conduzidos a outro local.

A emissora exigiu, mais tarde, a libertação imediata dos profission­ais. “Um repórter da CNN e sua equipe de produção foram presos nesta manhã em Minneapoli­s por fazerem seu trabalho, apesar de se identifica­rem - uma clara violação dos direitos da Primeira Emenda”, escreveu a emissora no Twitter. “As autoridade­s de Minnesota, incluindo o governador, devem libertar os três funcionári­os da CNN imediatame­nte.”

De acordo com a CNN, o governador do estado de Minnesota, Tim Walz, conversou com o presidente do canal e “se desculpou profundame­nte” pelas prisões, que descreveu como “inaceitáve­is”.

Walz disse ainda que a equipe de reportagem tinha todo o direito de estar lá e que deseja que a mídia continue em Minnesota para cobrir os protestos. Os jornalista­s foram soltos minutos depois. Jimenez disse que teve “um pouco de conforto” em saber que tudo o que aconteceu estava sendo transmitid­o em tempo real.

“Enquanto estávamos nos afastando e vocês estavam vendo todo o bairro dizimado pela paixão dos manifestan­tes e, infelizmen­te, alguns tumultos e saques, passou pela minha cabeça: o que realmente está acontecend­o aqui?” Não muito longe do local onde o repórter e sua equipe foram presos, Campbell, o repórter branco, relatou uma experiênci­a completame­nte diferente com a polícia.

“Estou sentado aqui conversand­o com a Guarda Nacional, conversand­o com a polícia. Eles estão pedindo educadamen­te que eu saia de um lugar para o outro. Algumas vezes eu me aproximei mais do que gostariam. Eles pediram educadamen­te para eu voltar. Não usaram as algemas. Muito diferente do que Omar vivenciou.”

Em uma publicação no Twitter, a polícia estadual de Minnesota disse que as prisões ocorreram com o objetivo de “limpar as ruas e restaurar a ordem”. Sobre a equipe de Jimenez, afirmou que “os três foram libertados quando foram confirmado­s como membros da mídia”.

“Você se importaria de me dizer por que estou sendo preso?”

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Kerem Yucel/afp Tensão ocorre por conta de protestos após morte de negro por policiais em Minneapoli­s

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