Folha de Londrina

Produtores criam kits para chegar ao consumidor

Com entregas em domicílio, empreended­ores conseguem equilibrar as contas e até obter lucro

- Marília Miragaia

São Paulo - Acostumado­s a vender para restaurant­es e empórios, produtores artesanais de alimentos querem agora chegar ao consumidor final. Mais trabalhosa, a estratégia tem ajudado a garantir o funcioname­nto da empresa durante a crise e, em alguns casos, até ter lucro.

A Capril do Bosque, em Joanópolis (SP), estima que seu fornecimen­to de queijos artesanais tenha se reduzido a 20% no início do isolamento social, com o fechamento de restaurant­es e a diminuição no movimento nos empórios.

“A situação era assustador­a: contas e estoques altos, e poucos clientes comprando”, diz Heloisa Collins, 70, dona.

A empresária, então, usou sua estrutura de comunicaçã­o para chegar ao consumidor final. “Fiz postagens nas redes sociais, escrevi uma newsletter e repaginei os produtos da loja online”, diz Heloisa.

Ela criou kits, vendidos no site, com os itens mais populares - queijos premiados, os sem maturação (mais leves) e mofados (para um público conhecedor).

“O freguês passou a consumir menos queijo durante a pandemia, porque está entrando com pressa nos empórios. Mas, quando descobriu que estávamos vendendo, começou a comprar direto de nós”, diz. As vendas voltaram ao patamar pré-coronavíru­s e, além de cobrir os custos, começaram a dar lucro.

Heloisa teve, então, a ideia de criar uma cesta reunindo itens de propriedad­es vizinhas na serra da Mantiqueir­a.

O kit com nove produtos, como cafés e geleias, é entregue uma vez por semana em São Paulo. Ela estima que 60 cestas foram vendidas em cerca de 15 dias (cada uma custa R$ 255, com R$ 30 de frete).

A associação entre produtores pode ser a saída para que eles consigam organizar uma rede de comunicaçã­o, comerciali­zação e distribuiç­ão que vá até o cliente. “A venda feita em conjunto permite preservar o caixa e dividir custos, caso seja necessário investir. A chance de sobreviver passa por inovar e ter uma estrutura coletiva”, afirma Marcos Fava, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).

A pandemia também prejudicou os negócios de Felipe Hakim, 38, da Santo Cutelo, empresa de embutidos de Sorocaba que vendia sobretudo para restaurant­es, empórios e feiras em São Paulo.

Agora, ele aposta no mercado de sua região. Para fazer a divulgação, contou com a base de clientes de negócios parceiros, como uma padaria e uma queijaria. “Pedi às empresas que dessem uma amostra grátis do meu produto a seus clientes. É um trabalho de formiguinh­a, mas funciona.”

Ele estima que a parcela de consumidor­es locais subiu de 15% para 40%. Depois de fazer uma revisão de custos, conseguiu equiparar os ganhos com os do cenário pré-pandemia.

“Demanda esforço, mas esse trabalho pode valer lá na frente. A base própria de clientes finais cria independên­cia comercial”, diz o produtor.

Carlos Melles, presidente do Sebrae, afirma que migrar para o digital é uma saída fundamenta­l para os empreended­ores. “As pessoas se adaptaram a consumir e buscar produtos dessa forma. Então, é importante para os pequenos buscarem diferentes plataforma­s. Isso vai, inclusive, deixar o vínculo com o cliente mais íntimo e fidelizado.”

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