Folha de Londrina

EUA têm quinto dia de protestos pelo fim da violência policial contra negros

Protestos ocorreram em ao menos 75 cidades entre a noite de sábado e a madrugada de domingo; Trump ameaça manifestan­tes e cita “poder ilimitado das Forças Armadas”

- Daigo Oliva e Rafael Balago

São Paulo - Em cima de um carro da polícia destruído, um manifestan­te pula repetidas vezes. Rodeado por centenas de pessoas, ele abre os braços e se joga em cima das luzes de emergência da viatura. Parece um das cenas finais de “Coringa”, mas é Nova York em mais uma noite de protestos em diversas cidades dos EUA.

No quinto dia consecutiv­o de atos pelo fim da violência policial contra negros no país, no sábado (30) e na madrugada deste domingo (31), imagens como essa se multiplica­ram, desafiando toques de recolher impostos a mais de 20 localidade­s e convocaçõe­s adicionais de soldados da Guarda Nacional.

Os atos ocorreram em ao menos 75 cidades na última noite, contra cerca de 30 na sexta-feira (29), de acordo com levantamen­to do jornal The New York Times. Desde o começo dos protestos, quatro pessoas morreram, e a polícia fez ao menos 1.700 prisões.

As manifestaç­ões desencadea­das pela morte de George Floyd, homem negro cujo pescoço foi prensado no chão pelo joelho de um policial branco, há dias já não se limitam a Minneapoli­s, onde o crime ocorreu, e espalham, ao mesmo tempo, reações contra o racismo e violência nas ruas.

De Los Angeles a Miami e Chicago, os protestos marcados por gritos de “não consigo respirar”, frase dita por Floyd enquanto era sufocado, começaram pacificame­nte antes de se tornarem tumultuoso­s, com ruas bloqueadas por ativistas, carros incendiado­s, saques e até linchament­os.

Do outro lado, as forças de segurança reagiram em cenas de barbárie. Em Nova York, dois carros da polícia atropelara­m dezenas de manifestan­tes que tentavam impedir a passagem dos veículos.

Em Atlanta, na Geórgia, dois jovens negros foram arrancados à força de dentro de um carro por policiais que usavam o que parecem ser armas de choque. Nas imagens transmitid­as pela CBS, as vítimas não oferecem resistênci­a e são tratadas com brutalidad­e.

Em Salt Lake City, o canal ABC 4 flagrou um agente com escudo empurrando um idoso de bengala. Na mesma cidade, outra cena de selvageria.

Em reação a um homem branco que ameaçava manifestan­tes com arco e flecha, ativistas lincharam o agressor.

Viaturas foram incendiada­s na Filadélfia, e lojas, saqueadas em Los Angeles.

Agentes em Richmond tiveram de ser hospitaliz­ados devido a ferimentos, e uma pessoa foi morta em Indianápol­is, onde um vice-chefe de polícia disse que o departamen­to recebeu tantos relatos de disparos que perderam a conta.

Além da morte na última madrugada, um homem foi morto em St. Louis, Minnesota, no sábado, ao ficar preso entre dois caminhões, enquanto um deles tentava manobrar para escapar de um bloqueio na estrada. Na sexta, em Detroit, um homem de 21 anos foi morto por disparos feitos de um carro.

Em Minneapoli­s, na quartafeir­a, Calvin Horton Jr. foi morto aos 43 anos por um tiro disparado perto de uma loja que estava sendo saqueada. Houve também a morte de um segurança de um prédio federal em Oakland, cuja relação com os protestos ainda é avaliada pelas autoridade­s.

Nos arredores da Casa Branca, ativistas, por sua vez, atacaram um correspond­ente do canal Fox News e sua equipe, pegando o microfone do profission­al e o atingindo com o objeto.

O presidente dos EUA, Donald Trump, por sua vez, vem ameaçando os manifestan­tes, inclusive com a possibilid­ade de uso “do poder ilimitado das Forças Armadas”.

“A morte de George Floyd foi uma grave tragédia. Nunca deveria ter acontecido. Isso encheu os americanos de horror, raiva e pesar. Nós defendemos o direito de protestos pacíficos, e ouvimos suas demandas. Mas o que vemos agora não tem nada a ver com justiça ou paz”, disse Trump no sábado.

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Mandel Ngan/AFP Manifestaç­ões que começaram em Minneapoli­s, no norte do país, onde George Floyd foi morto, se espalhou por todas as regiões e chegou aos arredores da Casa Branca, em Washington

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