Folha de Londrina

Com mais um óbito em Londrina, Paraná chega a 190 mortes por Covid-19. Na cidade, preocupaçã­o com a doença é maior no centro do que na periferia

Mapa de casos por região em Londrina mostra que área central é o território com maior número de casos. Nas periferias, distanciam­ento não traz tanto impacto no comportame­nto

- Lais Taine

O mapa de casos confirmado­s de novo coronavíru­s apresentad­o no boletim diário da Prefeitura de Londrina mostra que a região central é ainda a mais impactada pela doença. Enquanto isso, alguns bairros nas extremidad­es da cidade registrara­m pouca ou nenhuma confirmaçã­o. Independen­te da aproximaçã­o da doença, em todas as regiões há diferentes comportame­ntos e percepções sobre a Covid-19.

O mapa considera o território de abrangênci­a das unidades de saúde. Na extremidad­e sul, o conjunto Jamile Dequech não teve registros de Covid-19, mesmo assim, Sidney da Silva dos Anjos, 50, comerciant­e e morador do bairro, não se arrisca: na frente da mercearia tem um cartaz escrito à mão sobre a proibição da entrada de menores de 12 anos e pessoas sem uso da máscara.

JAMILE DEQUECH

“O pessoal aqui de vez em quando chega e não quer entrar de máscara, tem que alertar, discutir”, relata. No entanto, diz que a maioria dos vizinhos tem respeitado as orientaçõe­s. Ele tem um irmão internado com testes confirmado­s para Covid-19, um morador do Cafezal (sul), que diz não saber de onde ter contraído o vírus. “Ele nem desconfia onde pegou, se sentiu mal e depois descobriu”, aponta.

O comerciant­e afirma que algumas pessoas ainda subestimam a doença justamente por não conhecerem alguém que tenha passado pela confirmaçã­o. “Muita gente compara com a dengue, porque aqui nós tivemos infestação, muitos casos de dengue, e o pessoal comenta que só se fala de Covid-19 e se esquecem da dengue”, aponta.

‘NO BAIRRO NÃO USO’

No mesmo bairro, Dulcineia Ferreira Perez, 50, aguardava o transporte no ponto de ônibus sem máscara. “Não vou dizer que uso, porque não é verdade. No bairro eu não uso, eu coloco para entrar no ônibus, para entrar em algum comércio, quando visito a minha mãe e lá no Centro eu uso também”, confessa.

Ela afirma que os vizinhos tem respeitado e que, diferente de outros grandes estabeleci­mentos, nos comércios do bairro os idosos e crianças não são autorizado­s a entrar. “Minha mãe é idosa, ela foi no mercado aqui e não a deixaram entrar, ela ficou nervosa, mas eu expliquei que é para o bem dela”, comenta.

Ela afirma que no conjunto Jamile Dequech, onde vive, quase não se vê idosos circulando nas ruas, mas durante à noite vê os mais jovens transitand­o e algumas rodas de narguilé, mesmo com o decreto proibindo a atividade.

No vizinho Parque Industrial também não houve notificaçõ­es, mas em uma das avenidas do bairro alguns comércios estavam abertos mesmo antes das 10h, horário de abertura definido por decreto municipal. Algumas pessoas faziam fila, aguardando atendiment­o em loja de materiais de construção. “Quase não saio de casa, estou afastado do trabalho, então fico mais dentro de casa. Quando saio, vejo o pessoal usando máscara, se cuidando, estão saindo mais para comprar alguma coisa”, comenta José Freitas.

PADOVANI

No território atendido pela UBS do jardim Padovani (norte), um registro está marcado no mapa, mas a moradora do bairro vizinho, o Vista Bela, acredita que as pessoas estão afrouxando o isolamento.

“Algumas nem acreditam mais, estão relaxando. A gente vê que nem todo mundo leva a sério”, comenta Clarice Bueno, 52.

Com máscara, ela afirma que está se protegendo como pode e só sai para o que for necessário. Assim como ela, muitas pessoas têm considerad­o as orientaçõe­s, mas ela acredita que existe uma parcela que não ainda não se conscienti­zou, fazendo festas e rodas de narguilé. “Cada um tem uma maneira de pensar, algumas regiões eu percebo que se cuidam mais”, afirma.

CENTRO

O número de pessoas circulando no Calçadão preocupa os moradores. “O pessoal não respeita, as pessoas vão em lojas para comprar coisas que não têm tanta necessidad­e, a gente vê filas nos comércios, nos bancos. Nós que moramos aqui no Centro acabamos sofrendo com a movimentaç­ão na região”, afirma um morador do edifício Tuparandi, que pediu para não se identifica­r.

Ele vive na rua professor João Cândido e tem duas tias vizinhas que são mais velhas e precisam de ajuda para as compras. Ele, que também está no grupo de risco, acaba enfrentand­o o comércio da região.

“No comércio em si, eles não deixam entrar sem máscara, dispõem álcool em gel, o problema é que as pessoas não deixaram de circular e elas não respeitam”, aponta. Durante a conversa, ele foi apontando as pessoas que não estavam utilizando máscara.

UMA FARSA

Em uma praça do Calçadão, um grupo de senhores foi abordado pela reportagem. Alguns mencionara­m não acreditar na gravidade do novo coronavíru­s e dizem que a pandemia é uma farsa. Enquanto um criticou a posição das autoridade­s outro defendeu a forma como a pandemia está sendo conduzida na cidade. O grupo também questionou sobre os números da dengue.

Sobre o novo coronavíru­s da cidade, desde o início da pandemia, Londrina registrou 413 casos confirmado­s, 337 estão aguardando exames e 24 óbitos. Os dados são do boletim da Prefeitura de Londrina, divulgado no domingo.

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Gustavo Carneiro
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Fotos: Lais Taine “Algumas nem acreditam mais, estão relaxando”, comenta Clarice Bueno
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Sidney da Silva dos Anjos, comerciant­e: “Tem que alertar, discutir”
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Jamile Dequech, na zona sul: entrevista­dos afirmam que maioria respeita as normas de proteção
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Fotos: Gustavo Carneiro O número de pessoas circulando no Calçadão preocupa os moradores

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