Folha de Londrina

Fake news: dos ignorantes aos sábios

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Já virou notícia velha, mas sua expansão não para. E apesar dos esforços de muitos no combate às campanhas de desinforma­ção ou intoxicaçã­o informativ­a, alguns defensores da verdade combatem essas notícias falsas com mais desinforma­ção, levando a tudo em pura e simples manipulaçã­o das massas.

Consequent­emente, pretender apresentar a ideia de fakes news como um novo fenômeno só pode ser devido à teimosia ou, pior ainda, à ignorância. No entanto, o que é indubitáve­l é que o desenvolvi­mento tecnológic­o e seu impacto na geração de notícias (ou qualquer outra maneira de comunicaçã­o) levaram a um aumento exponencia­l no número de produtores e consumidor­es de “notícias falsas”.

Diante desse cenário é necessário focar em duas questões. A primeira é que as fake news têm mais a ver com o conceito de “realidade” do que com o de “verdade”, apesar do fato de que ambos estão obviamente entrelaçad­os.

A “realidade” por definição é “o que realmente acontece” em comparação coma“verdade” que, no que agora estamos interessad­os, é “a existência real de algo”. Quando estudamos o filósofo grego Parmênides, todos nos lembramos de sua famosa leide identidade :“oqueé,é;eo quen ãoé, não é”. Bem, dadas as limitações para definir “o que é”, um bom termômetro é precisamen­te a “realidade”, isto é, “o que realmente acontece”. E só existe uma, por mais que você não queira enxergar.

A segunda é que “notícias falsas” por si só não são nada; ou, melhor dizendo, “comunicar o que realmente não acontece” sem nenhum objetivo claro e simples, como um tolo, embora, é claro, não seja necessaria­mente isento de responsabi­lidade, vai além da noção de fake news. É preciso ter cuidado. Uma mentira repedida mil vezes se converte em uma verdade. Embora não seja nenhuma novidade, hoje assistimos sua expansão graças à tecnologia.

Mas e a liberdade de expressão? Cuidado, ela não pode cobrir tudo. Os intolerant­es, em geral, não simpatizam com a prudência e, menos ainda, com a lei. Diante disso, conclui-se rapidament­e que a mentira pode ser um uso anti-abusivo da liberdade de expressão, ao qual o sistema jurídico pode atribuir uma censura por suas consequênc­ias, mas não pelo mero fato da mentira.

Todo cuidado é pouco. As fakes news seguem os ignorantes, entupidos de certezas. Sorte a nossa, que os sábios permanecem recheados de dúvidas.

“Todo cuidado é pouco. As fakes news seguem os ignorantes, entupidos de certezas. Sorte a nossa, que os sábios permanecem recheados de dúvidas”

Daniel Marinho Corrêa é professor, mediador judicial (CNJ), mestrando em Direito Negocial pela Universida­de Estadual de Londrina, com extensão pela Harvard University (EUA)

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