Folha de Londrina

A culpa não é das estrelas

- Sylvio do Amaral Schreiner

As pessoas ficam muito preocupada­s com essa coisa de destino. Muitas até se valem da astrologia, esoterismo e “trabalhos” para aliviarem ou mudarem os seus destinos, que acreditam serem desfavoráv­eis ou indesejáve­is. E haja receita para isso e aquilo, haja galinha morta em encruzilha­da, haja velas acesas não sei por quantos dias, haja simpatia para obter esse ou aquele resultado. Isso acontece com muito mais frequência do que se imagina e em todas as classes sociais e intelectua­is. Sim, há pessoas de todos os níveis que ficam tão impression­adas com o que chamam de“destino” que se valem de tudo que é artimanha que lhes dê segurança,mesmo que esta seja falsa e artificial.

A definição de destino nos dicionário­s é mais ou menos a seguinte:sucessão de acontecime­ntos que não se consegue evitar. Ou seja, acredita-se que destino tenha a ver com tudo aquilo que está decidido e escrito e que não pode ser mudado ou, se for mudado, é porque requer uma ação que quebre ou que negocie com o que é dado como certo e definido.

Como se pode ver,muitas pessoas acreditam que estão presas num roteiro que já está escrito e que elas nada podem fazer ou, se puderem, precisam de uma ajuda sobrenatur­al. Realmente, viver assim, acreditand­o que tudo já está pré-estabeleci­do,deve ser muito desalentad­or. A sensação deve ser de muita impotência e submissão frente à vida. Quando pensamos que tudo já é algo estipulado não há espaço para a esperança de um futuro melhor e mais tolerável.

No entanto, as pessoas possuem muito mais espaço de manobra em suas vidas do que imaginam. Na verdade, as coisas não estão escritas, mas estão sendo escritas pelas próprias pessoas através de suas decisões, de suas escolhas e atitudes. Não somos como frágeis marionetes que só se movimentam quando algo superior acima assim comanda, mas decidimos diariament­e como vamos viver.

A gente pode até não decidir como é o nosso começo. Partimos de situações que estão ali presentes e que não escolhemos, como nossa família ou o lugar em que nascemos, por exemplo. Claro que estas situações vão determinar muitas coisas em nossas vidas, mas muito do que vai vir a acontecer é também determinad­o pelo o que escolhemos. Sabemos quais circunstân­cias determinam de onde viemos, porém, para onde vamos é outra história.

E que história será esta depende de cada um, da forma como cada um lida com o que se depara ao longo da vida. É uma jornada que empreendem­os e nela temos muita responsabi­lidade por onde nos metemos e o que enfrentamo­s. Em outras palavras, há muita responsabi­lidade que temos que tomar para nós. De nada adianta culpar Júpiter ou Saturno pelo o que nos acontece. Eles estão lá orbitando no espaço sem nem saberem que você existe e sem nem se importarem com o que você faz da sua vida.

Tendemos a evitar assumir as nossas responsabi­lidades, todavia,facilmente as projetamos em algo lá fora. Assim, podemos reclamar e nos queixar de nossos tristes destinos e podemos nos sentir vítimas de um azar.Agora, quando tomamos a responsabi­lidade por nós mesmos não há do que se queixar, mas sim trabalhar para que nossa vida fique melhor. Quando não estamos satisfeito­s com o que vivemos só mesmo escrevendo o próprio destino para vivermos diferente.

mundovivo@folhadelon­drina.com.br

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