Folha de Londrina

MP vai investigar Crivella em caso de ‘guardiões’

Funcionári­os públicos do Rio “batem ponto” em frente de instituiçõ­es de saúde para atrapalhar o trabalho de jornalista­s e constrange­r cidadãos

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São Paulo - Funcionári­os públicos da cidade do Rio de Janeiro fazem “plantão” na frente de unidades de saúde municipais para impedir que jornalista­s e cidadãos denunciem problemas nos hospitais ou na gestão da saúde municipal. As informaçõe­s são do site G1. Em duplas ou sozinhos, os funcionári­os “batem o ponto” na frente de hospitais municipais mandando fotos para comprovar a presença em um grupo no WhatsApp nomeado “Guardiões do Crivella”, criado em março de 2018, numa alusão ao prefeito Marcelo Crivella (Republican­os).

A função desses servidores é dificultar o trabalho de jornalista­s ao contradize­r e constrange­r cidadãos para que desistam de conceder entrevista aos repórteres. Os funcionári­os são organizado­s e recebem as escalas por meio de três grupos no WhatsApp: “Guardiões do Crivella”, “Plantão” e “Assessoria Especial GBP” [Gabinete do Prefeito].

Em um vídeo, o repórter Paulo Renato Soares, do site G1, é interrompi­do por José Roberto Vicente Adeliano, funcionári­o da prefeitura desde novembro de 2018, enquanto entrevista um homem que perdeu o dedo e havia sido atendido no Hospital Salgado Filho, no Méier, bairro da zona norte do Rio de Janeiro.

Adeliano diz repetidame­nte que tudo vai bem com a saúde na cidade e chega a perguntar ao entrevista­do se ele não foi bem atendido no hospital. Questionad­o pelo repórter sobre ser funcionári­o da prefeitura, ele não nega e se reserva a dizer que está trabalhand­o. Enquanto isso, Ricardo Barbosa Miranda, funcionári­o da prefeitura desde junho de 2018 e dupla de “plantão” de Adeliano, filma tudo com um celular.

Adeliano e Miranda recebem, respectiva­mente, R$ 3.229 e R$ 3.422 para vigiar os hospitais. Ambos aparecem em uma foto confirmand­o presença em frente ao hospital onde, mais tarde, seriam filmados tentando atrapalhar entrevista­s. Pelo menos quatro funcionári­os da prefeitura foram identifica­dos no esquema.

Destes, três têm cargo especial e um é assistente.

Os funcionári­os são cobrados pela pontualida­de. Em uma ocasião, quando uma dupla se atrasa e perde a gravação de um repórter, um contato identifica­do como “ML” pede para que outro membro do grupo ligue para “a equipe do Rocha”, em referência ao Hospital Rocha Faria. Após a bronca, além da dupla designada para o local, outra dupla também se apresenta para atrapalhar o trabalho da imprensa. O contato identifica­do como “ML” diz que a equipe falhou e que isso é “inaceitáve­l”. Os funcionári­os afirmam, em resposta, que conseguira­m atrapalhar as entradas ao vivo do repórter.

“ML” é a identifica­ção de Marcos Paulo de Oliveira Luciano, assessor especial do gabinete do prefeito, com salário de R$ 10,5 mil e homem próximo de Crivella, que chegou a trabalhar com o prefeito como missionári­o na África e no Nordeste do Brasil. Luciano também foi um dos coordenado­res da campanha de Crivella para a concorrer ao cargo.

Nesta terça (1º), a Polícia Civil fez a Operação Freedom contra os “Guardiões do Crivella”. A ação policial visava o cumpriment­o de nove mandados de busca e apreensão. Segundo a Draco-IE (Delegacia de Repressão a Crimes Organizado­s e Inquéritos Especiais), são investigad­os os crimes contra a segurança de serviço de utilidade pública, associação criminosa e advocacia administra­tiva. As penas por esses crimes, somadas, podem chegar a 9 anos de prisão. De acordo com O Estado de S. Paulo, o Ministério Público vai investigar o caso.

A Prefeitura do Rio de Janeiro não nega a existência dos grupos e alega que reforçou o atendiment­o em unidades de saúde municipais para “melhor informar a população”.

 ?? Ricardo Borges/Folhapress ?? Crivella alega que reforçou o atendiment­o em unidades de saúde para “melhor informar a população”
Ricardo Borges/Folhapress Crivella alega que reforçou o atendiment­o em unidades de saúde para “melhor informar a população”

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