Folha de Londrina

Barroso determina que governo acelere barreiras para proteger índios

- Renato Machado

Brasília

- O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso homologou na noite de segundafei­ra (31) parcialmen­te o plano do governo para a construção de barreiras para proteger da pandemia indígenas de povos isolados. Barroso, no entanto, promoveu alteração no cronograma do plano para que o Executivo acelere a sua execução. O governo pretendia concluir a instalação das barreiras apenas em dezembro.

A decisão do ministro se refere a ação apresentad­a ao STF pela Apib (Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil) e partidos políticos, por conta do veto do presidente Jair Bolsonaro a trechos da lei de proteção aos povos indígenas durante a pandemia, aprovada em junho pelo Congresso Nacional.

A versão homologada é a segunda apresentad­a pelo governo federal. A primeira - feita após determinaç­ão de Barroso, em julho - havia sido contestada pela Apib, principalm­ente porque o governo afirmava existir barreiras sanitárias em locais que a organizaçõ­es indígenas indicavam não haver nenhum tipo de proteção.

Além disso, questionou-se a tentativa do governo de maquiar as chamadas Bapes (Bases de Proteção Etnoambien­tal) existentes na região para que elas fossem considerad­as barreiras sanitárias. As Bapes possuem as funções de monitorame­nto e fiscalizaç­ão, portanto não possuem equipament­os e nem equipe especializ­ada para evitar a disseminaç­ão da Covid-19.

A gestão do presidente Jair Bolsonaro pretendia concluir a instalação desses mecanismos apenas em dezembro - nove meses após a chegada da pandemia da Covid-19 ao Brasil. Barroso determinou que essa etapa do cronograma seja concluída até outubro.

O plano do governo federal, ressalta o ministro em sua decisão, não traz detalhes sobre a implantaçã­o das barreiras sanitárias. Barroso também aceitou em sua decisão as consideraç­ões feitas pela Apib de que as prioridade­s não deveriam levar em conta aspectos econômicos e logísticos, atuando inicialmen­te, por exemplo, onde não há estruturas físicas.

“A nossa posição é de que o critério seja a situação de vulnerabil­idade, onde há o risco maior, onde há essa situação de necessidad­e de uma ação emergencia­l. Até então o governo tinha o critério de fazer primeiro a barreira sanitária onde não havia uma estrutura de vigilância”, disse Angela Amanakwa Kaxuyana, membro da sala de situação pela Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil. Dessa forma, de acordo com decisão do ministro, a implantaçã­o das barreiras sanitárias deve priorizar inicialmen­te as terras do Vale do Javari, Yanomami, Uru Eu Waw Waw e Arariboia, considerad­as mais vulnerávei­s e com maior risco de contágio.

Barroso também determinou que seja restabelec­ida a Sala de Situação Nacional, formada por entidade indígenas, jurídicas e do governo federal, para aprimorar o plano e acompanhar sua implementa­ção. Angela Amanakwa Kaxuyana, da Apib, questiona apenas a indicação dos presidente­s dos Condisis (Conselhos Distritais de Saúde Indígena) para compor a sala de situação, excluindo as lideranças indígenas de cada região.

O GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal) e a Funai (Fundação Nacional do Índio) foram procurados, mas não se manifestar­am até o fechamento dessa reportagem.

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Carlos Moura/STF A decisão do ministro se refere a ação apresentad­a no STF pela Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil e por partidos políticos

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