Folha de Londrina

A vacina e a `volta à normalidad­e´

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À medida que a quarentena se prolonga e a vida demora para voltar à normalidad­e, aumenta o desejo das pessoas por um fator novo (vacina, remédio, uma cura) que liberte a população das restrições sociais impostas pelo novo coronavíru­s.

Uma vacina comprovada­mente eficaz é, hoje, objeto de desejo de qualquer terráqueo. As notícias que mostram imunizante­s vencendo etapas de testes com sucesso são um alento e fazem nascer a esperança de que realmente “vai passar”.

Nesta sexta-feira (4) foi divulgada a publicação de um artigo na revista científica The Lancet dando conta de resultados animadores da vacina russa Sputnik V. O Paraná tem especial interesse nesse imunizante, já que caminha em uma parceria entre o estado e o governo russo para o desenvolvi­mento e distribuiç­ão dela.

Segundo o artigo da The Lancet, a Sputnik V é capaz de produzir imunidade contra o Sars-cov-2 sem desencadea­r reações adversas graves. É a primeira vez que os dados sobre os testes do imunizante russo ficam disponívei­s publicamen­te para cientistas e população. Até a publicação do estudo, o governo de Vladimir Putin era alvo constante de críticas por falta de transparên­cia. Havia desconfian­ça quanto à eficácia.

Mas o governo russo planeja fazer uma nova etapa de testes com 40 mil participan­tes e já fala em iniciar a produção industrial da Sputnik V nos próximos meses.

Por aqui, o presidente do Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná), Jorge Callado, deu novos detalhes sobre a parceria com a Rússia. O próximo passo agora é aguardar a liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a testagem em aproximada­mente 10 mil voluntário­s brasileiro­s, o que correspond­e à etapa três do processo.

É uma boa notícia fechando a semana que começou com polêmicas justamente envolvendo a tão esperada vacina contra a Covid-19. Na segunda-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. Declaração que foi respaldada pelo vice, Hamilton Mourão, e depois abrandada pelo Ministério da Saúde ao indicar que não tem intenção de tornar a vacina contra a Covid-19 obrigatóri­a, mas destacando que ela é “um grande instrument­o para que a gente volte à normalidad­e.” Afirmação que também é controvers­a.

Não há garantias de que uma vacina promoverá a “volta à normalidad­e” e ao modelo de vida pré-pandemia. Os imunizante­s ainda estão em fase de teste e a OMS diz que se as iniciativa­s passarem pela terceira etapa, provavelme­nte chegarão a público no ano que vem. Certamente em etapas. Quem será imunizado primeiro? Qual o valor das doses? Perguntas que ainda não têm respostas.

É preciso ser realista. A tão sonhada volta à normalidad­e continuará sendo gradual e o vírus viverá um bom tempo entre nós, exigindo que cuidados como distanciam­ento e uso de máscaras ainda façam parte da vida dos humanos, mesmo enquanto estivermos voltando à rotina antiga.

Podemos até voltar aos hábitos de antes, mas ninguém passa por uma experiênci­a dessa e volta à vida normal sem passar por mudanças.

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