Folha de Londrina

Aumento de validade de CNH está entre mudanças em lei de trânsito

Projeto foi aprovado pelo Senado; multas leves e médias passam a ser passíveis apenas de advertênci­a

- Marcos Roman

A lei que promoverá diversas mudanças no Código de Trânsito Brasileiro deve ser sancionada na próxima semana. O anúncio foi feito pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo Twitter na manhã desta sextafeira (4), quando o chefe do executivo comemorou a aprovação do Projeto de Lei 3.267/2019 votado pelo Senado na noite de quinta-feira (3). Entre as principais alterações estão o aumento da validade da CNH (Carteira Nacional de Habilitaçã­o) para dez anos e ampliação no limite de pontos para a suspensão do direito de dirigir.

Entre os beneficiad­os das novas medidas estão motoristas com menos de 50 anos de idade, que terão o prazo de validade da CNH ampliado de cinco para dez anos. As alterações também tornarão todas as multas leves e médias puníveis apenas com advertênci­a, caso o condutor não seja reincident­e na mesma infração nos últimos 12 meses.

O texto do projeto de lei aumentará o número de pontos necessário­s para a suspensão da CNH. A alteração será benéfica para condutores profission­ais, cujo direito de dirigir será suspenso quando o motorista atingir 40 pontos, independen­temente do tipo de infração cometida. Nos demais casos, o condutor perderá a carteira se tiver 20 pontos e somar duas ou mais infrações gravíssima­s; 30 pontos e apenas uma infração gravíssima ou 40 pontos e nenhuma infração gravíssima.

No caso da cadeirinha, o Senado aprovou uma emenda que, além de determinar o uso obrigatóri­o do equipament­o para crianças de até 10 anos de idade ou 1,45 metros de altura, passa a considerar também o peso da criança.

O projeto de lei foi criado pela presidênci­a da República em junho do ano passado. As mudanças foram propostas para atender a reivindica­ções feitas pelos caminhonei­ros, categoria que apoiou Bolsonaro nas eleições de 2018. Na avaliação do presidente, as alterações no Código de Trânsito trarão menos gastos e menos burocracia. Entre especialis­tas da área a nova legislação apresenta diversos pontos polêmicos.

“O texto original do projeto de lei sofreu diversas alterações antes de ser aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Ainda é cedo para avaliar se as mudanças apresentam mais pontos positivos ou negativos. Apenas após implementa­das as mudanças na prática será possível fazer essa avaliação”, pontua o advogado curitibano Carlos Alexandre Negrini Better, especialis­ta em Trânsito, com mestrado em Gestão Urbana.

Acompanhan­do à votação do projeto pelo Congresso, Better afirma ter visto argumentos razoáveis destacados tanto por parlamenta­res que são favoráveis quanto contrários a mudanças na lei de trânsito. “Eu acho que é um projeto interessan­te que traz atualizaçõ­es sobre algumas questões, como no caso da cadeirinha, por exemplo, que a gente teve discussão no Supremo porque a infração foi estabeleci­da por uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e não pela própria lei e agora esse projeto vem e sana esse problema. Mas tem outras coisas um tanto quanto controvert­idas. Se for ouvir os educadores de trânsito, eles vão dizer que a mudança na pontuação é absurda pois estimula a impunidade. Em algumas coisas ele traz preocupaçõ­es reais. No caso da renovação da CNH por exemplo, as pessoas com menos de 50 anos vão ficar dez anos longe de exames e avaliações. Isso é preocupant­e”, ressalta.

Outro ponto polêmico do projeto citado pelo advogado é a possibilid­ade de suspensão da CNH em caso de infrações gravíssima­s ser realizada por diversos órgãos, inclusive entidades municipais. “A suspensão do direito de dirigir sempre foi aplicada exclusivam­ente pelos Detrans, como órgãos estaduais responsáve­is pela habilitaçã­o de condutores. Esse projeto está mudando isso, trazendo mudanças significat­ivas em todo um processo. Como se trata de órgãos que não têm essa prática, a mudança de paradigmas pode acabar gerando nulidades de processos”, conclui.

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