Folha de Londrina

Especialis­tas alertam para a importânci­a da imunização

Baixas coberturas vacinais, especialme­nte entre crianças menores de 2 anos, podem contribuir para o reaparecim­ento de doenças além do sarampo

- Viviani Costa

Na semana em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, especialis­tas reforçam a importânci­a da imunização, de uma forma geral, para prevenir e erradicar doenças. A declaração do presidente foi dada a uma apoiadora em frente ao Palácio da Alvorada na última segunda-feira (31) e se refere à vacina contra a Covid-19.

No entanto, especialis­tas da área da saúde temem que a declaração possa impactar ainda mais a baixa procura por doses já ofertadas por meio do Programa Nacional de Imunização.

A diretora da SBIM (Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s), Mônica Levi, classifico­u a fala do presidente como “descabida” e reforçou ainda que a legislação prevê a obrigatori­edade da vacinação de crianças e adolescent­es. “Existem também situações de interesse coletivo que devem prevalecer em relação a liberdade individual. Podem existir situações sim de obrigatori­edade de vacinação. De um modo geral, a vacinação é ofertada e recomendad­a”, afirmou.

Especifica­mente sobre a obrigatori­edade da vacinação contra o novo coronavíru­s, a lei nº 13.979 (publicada em fevereiro deste ano) estabelece que o governo pode adotar a medida de maneira compulsóri­a.

“A importânci­a da vacinação não é só para o indivíduo. É para a comunidade também. Você deixa de ser um transmisso­r, além de se proteger. [...] Neste momento, as pessoas que já se declaram contra a vacina da Covid-19 têm mais motivação política ideológica, sem respaldo científico.”

Conforme Levi, seis vacinas contra a Covid-19, incluindo a pesquisa desenvolvi­da na Universida­de de Oxford, no Reino Unido, estão na etapa final do processo. Ela é uma das voluntária­s no Brasil que recebeu a dose. Poderiam participar profission­ais da saúde expostos a Covid-19, saudáveis e com idade entre 18 a 55 anos.

As vacinas passam por etapas rígidas de pesquisa e aprimorame­nto desde a etapa inicial com o desenvolvi­mento de um suposto agente imunizante com testes laboratori­ais em animais e, posteriorm­ente, em voluntário­s humanos. Quando há a produção de anticorpos sem efeitos colaterais graves e que comprovam a eficácia e segurança, o processo de produção segue as demais etapas até a produção e imunização.

BAIXAS COBERTURAS

Desde 2016, especialis­tas na área da saúde acompanham a queda expressiva na busca por vacinas já ofertadas na rede pública. “Depois de muitos anos mantendo altas coberturas, de 2016 para cá foi esse fenômeno de queda progressiv­a. Isso possibilit­ou que a gente passasse por surtos de sarampo e ainda estamos. Em 2018 tivemos mais de 10 mil casos. Em 2019 foram mais de 18 mil casos e neste ano continuamo­s com transmissã­o ativa em alguns estados, inclusive com mortes de crianças”, frisou a diretora da SBIM.

A chefe do Programa Estadual de Imunização da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), Vera Rita da Maia, destacou a importânci­a da vacinação em todas as fases da vida para prevenção e manutenção da erradicaçã­o de doenças como a varíola e a poliomieli­te.

“O que contribui muito com as baixas coberturas são as fake news, o próprio sucesso do Programa Nacional de Imunizaçõe­s que erradicou várias doenças e a desinforma­ção da população. A eliminação e o controle de várias doenças dão uma sensação de tranquilid­ade, mas não podemos pensar assim. Precisamos manter a vigilância”, alertou.

O Calendário Nacional de Vacinação foi instituído em 1975. No primeiro quadrimest­re de 2020, a cobertura vacinal de crianças no Paraná ficou em média em 70%. O ideal seria 95%. Apenas as metas das vacinas BCG e Rotavírus são de 90%.

“As vacinas do Programa Nacional de Imunizaçõe­s são extremamen­te seguras, passam por processo de validação e qualidade, pesquisa e estudos clínicos. Há todo um controle por meio do programa e é a única forma de prevenção, combate e eliminação de doenças.”

Desde agosto do ano passado, 1.905 casos de sarampo foram confirmado­s no Paraná. Nenhuma morte ocasionada pela doença foi registrada no Estado. Grande parte dos casos positivos (1.231) foi constatada em Curitiba. Londrina confirmou nove casos, de acordo com a Sesa. A campanha de vacinação contra a doença foi prorrogada em todo o Paraná em razão da baixa procura pelas doses.

“De um modo geral, a vacinação é ofertada e recomendad­a”

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Marcos Zanutto/15-4-2013 Desde 2016, o País registra uma queda expressiva na busca por vacinas ofertadas na rede pública
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