Folha de Londrina

Inveja de Londres

- Domingos Pellegrini escreve na edição de fim de semana - d.pellegrini@sercomtel.com.br

É sabido que o nome Londrina nasceu de um brinde, quando o advogado João Sampaio propôs em Londres, brindando, um nome para a primeira das cidades que a Companhia de Terras Norte do Paraná ia plantar em nossa terra-vermelha.

O nome significar­ia “pequena Londres”, hipótese pretencios­a, ou “filha de Londres”, embora os ingleses tenham deixado a filha para ir lutar contra Hitler.

Londrina na verdade é filha de uma velha senhora que sustenta as economias e as nações: a Iniciativa. Não só iniciativa dos ingleses colonizado­res, como também dos colonos, nossos pioneiros que vieram do país inteiro e do mundo todo para enfrentar o barro e o poeirão.

Antes de chegar à nossa terra-vermelha, o café derrubou matas e ocupou terras mineiras e paulistas, e daí vieram muitos dos pioneiros, tomando a iniciativa de buscar vida nova numa terra a desbravar. Essa gente plantaria centena de cidades em poucas décadas, e seus netos se tornariam os pés-vermelhos, gente de muitas origens e raças como a maioria dos brasileiro­s.

Marco inicial dessa colonizaçã­o, Londrina pode se orgulhar de sua origem londrina, pois Londres foi a capital do único império que não só aboliu a própria escravatur­a como lutou pela abolição no mundo. Londrina é assim filha tardiament­e temporã do último e mais breve dos impérios, o britânico, parecendo nos predestina­r à democracia.

Não aceitamos um primeiro prefeito, lá em 1934, porque não foi indicado pela comunidade.

Depois, na ditadura militar que porém permitia partido oposicioni­sta, sempre elegemos deputados, senadores e prefeitos de oposição, e um desses prefeitos seria governador do Paraná.

Na democracia, elegemos prefeitos de direita, esquerda e centro, assim democratic­amente colhendo decepções e lições.

Aliás, tomara que Londrina siga Londres na evolução política: voto distrital em eleições sem propaganda, de modo que ou o candidato a deputado percorra todo seu distrito, comparecen­do a centenas de reuniões e sabatinas comunitári­as, ou não se elege.

No parlamenta­rismo britânico, sem presidente da República nem esperança em salvadores da pátria, os deputados eleitos elegem o primeiro-ministro, que também pode ser demitido pela maioria.

Com tanto poder, lá os deputados entretanto tem assentos retos, sem nem repouso de braços, nada como as poltronas giratórias e estofadas de nossos deputados. E lá as sessões começam pontualmen­te com presença total todo dia, assessoria pouquinha e zero mordomia. Diversidad­e? Londres tem prefeito muçulmano. Civilidade? Com disciplina Londres enfrentou e enfrenta muito bem a pandemia, enquanto aqui prefeito tem de dar bronca em festas irresponsá­veis, como se Londrina fosse uma menina birrenta.

Mas olhemos para a frente, dirá o otimista, então sim, olhemos para a frente: vem aí eleições municipais com fundão partidário, dezenas de partidinho­s e centenas de candidatos a vereador que, eleitos pela cidade toda, representa­rão ninguém. Não é para ter inveja de Londres?

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