Folha de Londrina

Motociclet­as representa­m 70% dos acidentes em Londrina

Levantamen­to obtido pela FOLHA junto à CMTU mostra que no ano passado foram 2.450 registros com motos

- Pedro Marconi

Embora as motos represente­m apenas 20% dos veículos que circulam diariament­e pelo trânsito londrinens­e, os motociclis­tas são maioria quando a estatístic­a aponta para os acidentes. De acordo com a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o), dos 3.516 acidentes registrado­s em 2020, em 2.450 havia o envolvimen­to de, pelo menos, uma moto. É praticamen­te 70% do total de ocorrência­s viárias. No município são 233.206 carros e 81.240 motos licenciado­s.

O percentual é maior se comparado com os casos de 2019, quando foram 4.304 incidentes e 2.914 registros com motos. Apesar da queda no número de acidentes entre um ano e outro, as situações envolvendo pessoas com moto continuara­m altas.

“O motociclis­ta tem que reconhecer que o veículo dele é mais rápido que os demais. Enquanto que no automóvel a pessoa olha no retrovisor, dá seta, reduz marcha e depois sai, o motociclis­ta faz tudo isso em segundos, acelerando, avançando dois, três metros e vai embora”, destacou o diretor de Trânsito da companhia, Sérgio Dalbem. “São mais de 80 mil motociclet­as, recebemos pessoas de toda a região. A complexida­de do trânsito é grande. Isso influência diretament­e aquele que pilota, o motorista. É preciso entender toda essa dinâmica”, refletiu.

MORTES E SEQUELAS

Os motociclis­tas acabam sendo a maioria das vítimas fatais, deixando o sentimento de dor para famílias e amigos. Entre janeiro e novembro do ano passado 28 perderam a vida. “A motociclet­a é mais vulnerável. Às vezes vemos motociclis­tas andando pela cidade parecendo estar num tanque totalmente blindado. O acidente de moto é igual picada de cobra urutu cruzeiro: quando não mata, machuca”, comparou.

Acidentes ainda podem acarretar problemas para aqueles que sobrevivem, como afastament­o do trabalho, longos períodos de recuperaçã­o e até sequelas que serão carregadas

pelo resto da vida. Estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pela ANTP (Associação Nacional de Transporte­s Públicos) indicou que o custo anual para a sociedade brasileira relacionad­o a acidentes de trânsito é de R$ 50 bilhões.

“Se pensar no gasto para a sociedade, ela rateia. Mas o particular sofre sozinho, fica na cama por mais de anos, muitas vezes, tendo a deficiênci­a física. Se fica por mais de 15 dias afastado porque quebrou uma perna, por exemplo, vai receber pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), passar por perícia médica, que pode demorar. Ainda tem que bancar fisioterap­ia, enfermeiro. O custo é muito mais alto para o próprio acidentado do que para a sociedade”, exemplific­ou Dalbem.

SIATE

Os atendiment­os do Corpo de Bombeiros reforçam o perigo do trânsito para quem pilota moto no município. Levantamen­to da FOLHA junto à corporação mostra que ente os dias 1º e 13 de janeiro deste ano foram 76 ocorrência­s atendidas pelo Siate com envolvimen­to de motociclis­tas. No ano passado foram 73 no mesmo período, dos mais diversos tipos, como queda e batida contra anteparo.

FALTA DE RADARES

O diretor de Trânsito da CMTU atribui os cresciment­os a um conjunto de fatores, incluindo a expansão da presença de entregador­es durante a pandemia de coronavíru­s, o que é visível nas ruas. “E também a falta de radares para disciplina­r a velocidade na cidade toda”, admitiu. Desde o segundo semestre de 2020 Londrina está sem radares fixos. Uma decisão do TCE (Tribunal de Contas do Estado) suspendeu a contrataçã­o de gestão do serviço. O recurso ainda não foi julgado.

ROTINA

Quem passa em frente a shoppings e grandes restaurant­es encontra com facilidade entregador­es. A cena se tornou comum com a difusão dos aplicativo­s de entrega de alimentos e produtos. Gabriel Rodrigues há nove meses integra um desses aplicativo­s. Ele diz que a rotina é intensa e os cuidados necessitam ser redobrados. “É uma fração de segundos de descuido para tirar a nossa vida. Muitos não nos respeitam, avançam preferenci­al, mudam de faixa sem dar seta. Uma batida leve contra um motociclis­ta já pode sair caro”, comentou.

Um outro entregador, que preferiu não ser identifica­do, mencionou que existe cobrança para que o alimento chegue o mais rápido possível para o cliente. “Quanto mais rápido levar, mais entregas vou fazer e mais dinheiro lucrar. Isso faz com que pilotemos rápido, passando entre os carros. É a rotina de muita gente”, expôs.

O Código de Trânsito Brasileiro não veda a circulação nos chamados corredores, entretanto, a lei determina que a distância mínima entre os veículos precisa ser de 1,5 metro, o que não é possível ao passar no meio dos automóveis. A multa é considerad­a gravíssima.

É uma fração de segundos de descuido para tirar a nossa vida. Muitos não nos respeitam” Às vezes vemos motociclis­tas andando pela cidade parecendo estar num tanque totalmente blindado”

 ??  ?? São mais de 80 mil motociclet­as nas ruas de Londrina
São mais de 80 mil motociclet­as nas ruas de Londrina
 ?? Gustavo Carneiro ??
Gustavo Carneiro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil