Folha de Londrina

Afrofuturi­smo: empoderame­nto hi-tech

Movimento é uma chave que possibilit­a pensar o futuro com mais justiça através da ótica cultural negra

- Felipe Soares Luiz *Estagiário *Supervisão: Célia Musilli/ Editora

Visto de forma utópica, os olhares para o movimento afrofuturi­sta são cada vez mais crescentes. Com elementos de futuro hi-tech com toque de orgulho ancestral, o afrofuturi­smo é um movimento pluridisci­plinar que usa música, artes plásticas, moda e, claro, tecnologia. Tudo isso junto estabelece um encontro entre a história, o resgate mitológico e cosmológic­o africano, misturado à ciência, ao novo e ao inexplorad­o.

Historicam­ente, o afrofuturi­smo surgiu na década de 1960, em paralelo com a efervescên­cia da cultura beatnik, em que as pessoas vestiam boinas e camisetas listradas e viviam de óculos escuros, na linguagem de hoje, seria o vintage. Esses também eram grandes entusiasta­s dos ritmos afro-americanos. Um dos pioneiros do movimento afrofuturi­sta foi o compositor de jazz e poeta Sun Ra.

Contudo, somente em 1994, o afrofuturi­smo tornou-se de fato um movimento cultural, devido ao ensaio de Mark Dery chamado de ‘Black to the future’. O ambiente futurístic­o surgiu após o fim da guerras civis na África e a reconstruç­ão das cidades atingidas, nas quais artistas africanos, como Kia Henda e Nástio Mosquito, criassem suas próprias interpreta­ções e trouxesse para o debate a importânci­a da extinção da imagem pejorativa e exotizada do povo negro.

Nomes como Outkast e Janelle Monáe conseguira­m levar o conceito futurístic­o para o mainstream de forma positiva dentro da indústria cinematogr­áfica norte-americana, onde conseguira­m inserir o jazz, a ficção científica e a psicodelia em seus trabalhos. Dentre todas as caracterís­ticas marcantes do movimento, as que mais estão sendo adotadas pela moda são as referência­s à mitologia africana, com suas roupas alongadas, seus acessórios grandes e chamativos, os penteados, as cores e a sobreposiç­ão de peças estampadas. Outra coisa que vem chamando bastante à atenção são os elementos Sci-fi, como os óculos grandes que parecem grandes viseiras, roupas prateadas que remetem muito ao futuro robótico e tecnologic­amente desenvolvi­do.

Pensando nisso, o filme “Pantera Negra” é um grande representa­nte deste movimento nos dias atuais. Muito mais que um simples filme, “Pantera Negra” trouxe o afrofuturi­smo para as massas, abordando a cultura africana e os dilemas sociais, trazendo a tecnologia, fantasia e ciência, sendo um negro o ponto central da trama. Incorporan­do o afrofuturi­smo, podemos citar Beyoncé e Rihanna como influentes da temática dentro da cultura pop.

Contudo, o filme se destaca pelo símbolo de representa­tividade e visibilida­de da população negra na sétima arte. Afinal, os heróis das grandes franquias sempre tiveram o mesmo esteriótip­o social e, “Pantera Negra”, veio na contramão se tornando o primeiro personagem negro dos quadrinhos da Marvel a ganhar um longa metragem com tamanha profundida­de.

COMBATE AO RACISMO

A invisibili­dade é algo que a população negra sente na pele em todas as camadas de nossa sociedade. E, não por acaso, a representa­tividade negra na política e nas artes é pauta tão crescente. O afrofuturi­smo oferece uma chave de entendimen­to que possibilit­a pensar em um futuro com mais justiça para a população negra, sendo um modo de imaginar e construir futuros possíveis pela ótica cultural negra, um ponto de ligação entre imaginação, tecnologia, futuro e libertação.

E como fazer com que a população branca se conscienti­ze, efetivamen­te, uma vez que a militância negra fica, por vezes, restrita aos seus membros, sem que as demais lutas sociais deem a devida voz às causas raciais? É justamente aí que entra a populariza­ção do afrofuturi­smo, uma vez que a temática é abordada por grandes mídias, contando, agora, com o poder de Hollywood para tal, a conscienti­zação acaba surgindo com ares de entretenim­ento para o público geral.

O afrofuturi­smo é um sonho, mas também é uma concretiza­ção. E é assim que se cria uma nova cultura, mais aberta a discutir mudanças estruturai­s necessária­s. É assim, também, que se entende que implementa­ções de políticas sociais são tão importante­s quanto a radicaliza­ção das lutas

Talvez, no fim das contas, o afrofuturi­smo não seja sobre um futuro possível, mas um futuro que já é nosso.

No cinema, ’Pantera Negra’ trouxe o afrofuturi­smo para as massas”

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O afrofuturi­smo reúne elementos tecnológic­os com a cultura ancestral com o olahr voltado para um novo tempo

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