OMS e especialistas reforçam proteção das máscaras caseiras
Reação acontece após países europeus considerarem outros materiais mais eficientes diante de variantes, o que não tem comprovação científica
Bruxelas,Bélgica,eSãoPauloA notícia de que alguns países europeus decretaram a proibição do uso de máscaras caseiras em público pegou muita gente de surpresa. Afinal, o acessório se tornou uma marca da prevenção à Covid-19 desde o início da pandemia. O governo francês, por exemplo, alegou que a utilização não seria suficiente contra as variantes mais contagiosas do coronavírus.
Em contrapartida, a França tornou o obrigatória a utilização de máscaras com maior fator de proteção, como a do modelo FFP2. Já a avaliação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é diferente. A entidade afirmou que máscaras caseiras continuam sendo eficientes, desde que feitas com material adequado e utilizadas da forma correta.
De acordo com a líder técnica para Covid-19 da organização, Maria van Kerkhoven, as recomendações já publicadas pela OMS continuam válidas: as máscaras de tecido não cirúrgicas podem ser usadas por todas as pessoas com menos de 60 anos que não tenham problemas de saúde específicos. Ela ressaltou que a agência está em contato com autoridades de saúde de vários países para revisar as regras, se necessário.
Por enquanto, porém, não há comprovação científica de que as máscaras caseiras não protejam contra o vírus, reforçou a Academia Francesa de Medicina, que criticou a medida do governo. Para a União dos Sindicatos de Farmacêuticos da França, as máscaras FFP2 não são indicadas para o dia a dia, porque, justamente por filtrarem mais, dificultam a respiração. A entidade destaca que elas se destinam principalmente a equipes de enfermagem e aos que ficam em contato próximo e frequente com doentes de Covid-19.
CIÊNCIA
Raquel Stucchi, infectologista, pesquisadora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), frisou que não há nenhuma comprovação científica de que as máscaras caseiras de tecido não sejam efetivas contra as novas variantes do coronavírus. O que há no momento é apenas uma suposição. “O que mudou no vírus foi um pedaço dele. Ele não mudou de tamanho. As maneiras de transmissão também continuam as mesmas. Dessa forma, as máscaras de modo geral continuariam bem eficientes.”
Segundo a especialista, como há muitas pessoas que usam a máscara de forma incorreta, não é possível dizer se as pessoas estão se infectando apesar do uso das máscaras, o que indicaria a necessidade de proteções melhores.
CAMADAS
Pesquisa Datafolha realizada em novembro verificou se os entrevistados de São Paulo, Rio e Recife usavam corretamente a máscara no momento do questionário. O maior respeito foi identificado em São Paulo, onde 81% usavam a proteção de maneira adequada e apenas 12% não estavam sem. Já a menor adesão à máscara foi registrada em Recife, onde 70% utilizavam a proteção.
Stucchi lembra que as máscaras devem ter pelo menos duas camadas de tecido de trama mais fechada para proteger contra o vírus, mas não podem dificultar a respiração. O equipamento deve cobrir boca e nariz e não deixar espaços nas laterais, ficando bem ajustado ao rosto. “Máscaras de crochê, que estão na moda, são bonitas, mas sem eficácia”, alerta.
BARRANDO AS GOTÍCULAS
Artigos científicos que investigam eficácia das máscaras contra o vírus apontam proteção semelhante entre máscaras de tecido e produtos industrializados. Um dos mais recentes, publicado em dezembro de 2020 na revista científica Aerosol Science and Technology por cientistas do Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, mostrou que máscaras feitas com três camadas de tecido têm poder para barrar 51% dos aerossóis que uma pessoa pode expelir em uma tosse. Uma máscara cirúrgica pode bloquear 59% dos aerossóis em uma mesma situação.