Folha de Londrina

Lava Jato chega a momento mais crítico com ‘pontas soltas’

Há ainda 54 processos da força-tarefa em aberto na Justiça Federal em Curitiba

- Katna Baran

Curitiba - A dissolução da força-tarefa da Lava Jato do Paraná, com a incorporaç­ão de parte de seus membros pelo grupo de atuação especial de combate ao crime organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal (MPF), gera incertezas sobre o destino das investigaç­ões ainda em andamento.

Prestes a completar sete anos desde que a primeira fase foi deflagrada, em março de 2014, a apuração já resultou em 80 etapas e mais de uma centena de denúncias e ações penais - muitas delas ainda sem sentença proferida pela Justiça Federal de Curitiba, ou seja, que ainda demandam dedicação dos procurador­es.

A mudança no formato da equipe de investigaç­ão, anunciada no último dia 3, ocorreu após embate do grupo com o procurador-geral Augusto Aras, que tem o poder de renovar a autorizaçã­o de funcioname­nto das forças-tarefas.

Aras criticava a falta de formalizaç­ão das forças-tarefas dentro do Ministério Público, enquanto os procurador­es dizem que, agora, um grupo menor terá dedicação exclusiva aos casos da operação.

Há ainda várias “pontas soltas” que ficaram para trás na investigaç­ão, como a que gerou a primeira denúncia apresentad­a pelo grupo desde sua reestrutur­ação, oferecida na última quarta-feira (10).

Os procurador­es imputam os crimes de formação de cartel, corrupção e lavagem de dinheiro e fraudes em licitações e contratos da Petrobras a 15 pessoas - entre elas, o ex-ministro José Dirceu e o ex-diretor da estatal Renato Duque.

Parte da peça é baseada nas delações premiadas dos irmãos Milton e José Adolfo Pascowitch, que fecharam acordos ainda em 2015.

Para a defesa de Dirceu, a denúncia, neste momento, “não tem o menor sentido”.

“Os fatos na maioria já estão prescritos e muitos tratados em processos anteriores. Faz parecer que o objetivo é pressionar José Dirceu, mas para isso precisarão mais do que prisões”, declarou o advogado Roberto Podval. processos em aberto

Há 54 processos da Lava Jato em aberto na Justiça Federal em Curitiba. Apenas dez deles estão prontos para receber sentenças pelo juiz Luiz Antônio Bonat, que ocupa hoje o posto que foi de Sergio Moro na Vara Federal. Já os demais se encontram em diferentes fases. Há audiências marcadas para ocorrer até junho.

Entre as ações, está a que apura se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro Antonio Palocci e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, praticaram lavagem de dinheiro de R$ 4 milhões que teriam sido pagos em propina pela Odebrecht.

A denúncia foi aceita em outubro de 2020 e ainda está em fase inicial de tramitação. Ao menos outras 16 ações têm cerca de um ano ou ainda menos tempo de andamento.

AGILIDADE

Ao passo que o prazo estipulado para o fim da apuração, em outubro de 2021, pode conferir maior agilidade na atuação dos procurador­es, o enxugament­o da equipe e a dedicação exclusiva à operação de apenas parte do grupo também podem compromete­r os trabalhos.

Procurada pela reportagem, a equipe de procurador­es da Lava Jato do Paraná não quis comentar o assunto.

Hoje, não há presos da Lava Jato no sistema penitenciá­rio do Paraná. A maioria foi beneficiad­a por acordos de delação premiada, pela decisão do STF sobre prisão após condenação em segunda instância ou cumpre medida alternativ­a por conta da pandemia do coronavíru­s.

Enxugament­o da equipe e do grupo dedicado exclusivam­ente à Lava Jato pode compromete­r os trabalhos

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Zanone Fraissat/Folhapress Entre ações em tramitação está a que apura se o ex-presidente Lula (PT), Palocci e Paulo Okamotto praticaram lavagem de dinheiro de R$ 4 milhões que teriam sido pagos em propina pela Odebrecht

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