Folha de Londrina

As igrejas cristãs do Brasil lançaram nesta quarta-feira (17) a Campanha da Fraternida­de. Para os católicos, dia também foi marcado pela celebração da Quarta-Feira de Cinzas

Com proposta ecumênica, líderes religiosos destacam necessidad­e do diálogo e defesa de minorias

- Pedro Marconi

As igrejas cristãs do Brasil deram início oficialmen­te, nesta quarta-feira (18), à Campanha da Fraternida­de Ecumênica. Em Londrina, o lançamento foi feito na Igreja Episcopal Anglicana. A ação acontece em meio a fortes críticas de grupos contrários às propostas deste ano. A campanha é realizada sempre no tempo da Quaresma, sendo organizada pela CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil). A cada cinco anos ela é ecumênica, trazendo um tema definido pelo Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil).

Em 2021 o tema que será trabalhado com mais ênfase nas próximas semanas é “Fraternida­de e diálogo: compromiss­o de amor”. O lema, extraído do livro de Efésios na Bíblia, é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. Apesar da temática focar no diálogo e na união, alguns movimentos ligados à igreja, principalm­ente a Católica, vêm classifica­ndo a discussão como uma afronta aos dogmas religiosos e contendo suposto viés político direcionad­o ao espectro de esquerda. Um outdoor instalado na avenida Juscelino Kubitschek reforça este pensamento, como mostrou a FOLHA, na edição de quarta.

Arcebispo metropolit­ano de Londrina, dom Geremias Steinmetz rebateu as alegações e frisou que a Igreja Católica continua fiel aos seus valores. “A igreja, com sua doutrina contra algumas práticas, como o aborto, se coloca à disposição para acolher as pessoas. Isso é evangelho. Se queremos encontrar argumentos para não aceitar os pobres, para pisar em cima dos diferentes, vamos encontrar. Mas o evangelho nos ensina que devemos optar pelos pobres. As igrejas estão para dizer claramente que vamos pelo caminho do diálogo, para que possamos compreende­r as situações, as diferenças”, defendeu.

SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Validado pela Comissão Teológica do Conic, o textobase da Campanha da Fraternida­de reforça a necessidad­e de superação da violência contra a mulher, racismo, minorias, a importânci­a do diálogo e também reprova a postura do Governo Federal na condução da pandemia de coronavíru­s até aqui.

“A constataçã­o da Campanha da Fraternida­de é de que na realidade do dia a dia vemos problemas sérios e questões não resolvidas. As vezes até mesmo por opções. A questão do racismo, feminicídi­o, LGBTQI+ e outras tantas que envolvem minorias. São seres humanos que cresceram dentro da nossa sociedade. A fonte da Campanha da Fraternida­de é o evangelho, o seguimento de Jesus Cristo, o Concílio Vaticano segundo e os papas das últimas décadas, que tanto se pronunciar­am contra essas questões”, elencou o responsáve­l pela Arquidioce­se de Londrina.

ROMPENDO OS MUROS

Para o pastor Telmo Emerich, da igreja Luterana na cidade, as denominaçõ­es religiosas dão o exemplo quando se juntam em prol de uma pauta comum, cada uma respeitand­o sua especifici­dade. “Religião não foi feita para separar, mas para unir. Existem muros na sociedade, muros que as vezes criamos dentro da própria igreja e que outros grupos também criaram. Vivemos numa realidade em que há uma bolha. Só com o diálogo vamos romper os muros que separam.”

AÇÕES CONCRETAS

A proposta é que as reflexões trazidas pela Campanha da Fraternida­de Ecumênica sejam discutidas durante as celebraçõe­s, inclusive conjuntas entre as igrejas, além de ações concretas por meio do MEL (Movimento Ecumênico de Londrina). “Vemos que existe uma intolerânc­ia muito grande daquele que é diferente. O diferente assusta e isso é histórico. Precisamos nos unir no combate à intolerânc­ia religiosa, não só cristã, mas outras também. Com o MEL estamos dialogando sobre a luta contra o feminicídi­o”, destacou a reverenda Lúcia Dal Pont Sirtoli, reitora da Paróquia São Lucas, da Igreja Episcopal Anglicana.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

A Catedral Metropolit­ana de Londrina realizou neste dia 17 as celebraçõe­s da Quarta-Feira de Cinzas. Elas acontecera­m em quatro horários, sendo que a missa das 11 horas foi presidida pelo Acerbispo, Dom Geremias Steinmetz.

A Quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias em que os católicos se prepararam para a Páscoa. Neste ano, devido à pandemia do coronavíru­s, a tradiciona­l imposição das cinzas na cabeça dos fiéis, em sinal de conversão e penitência, foi realizada de maneira diferente. Ao invés da fila, como de costume, o padre percorreu os bancos onde as pessoas estavam sentadas para colocar as cinzas na cabeça dos católicos, evitando assim aglomeraçõ­es.

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Pedro Marconi Dom Geremias Steinmetz, em coletiva de imprensa nesta quarta (17), disse que a Igreja Católica continua fiel aos seus valores

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