Folha de Londrina

As carreiras múltiplas

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Imagine um médico que, depois de cumprir o expediente no hospital, trabalha como músico de quinta a sábado. E essa segunda ocupação não é um simples hobby despretens­ioso. Ele realmente leva a sério as duas profissões.

Bem, essa já é uma realidade para muitas pessoas que optaram por construir carreiras múltiplas. Gente que, em vez de ter a sua identidade no trabalho ligada a uma única profissão, prefere desempenha­r diferentes tipos de serviço no dia a dia.

E antes que você comece a pensar que a motivação delas é fazer um bico para ganhar mais dinheiro, preciso te dizer que não costuma ser o caso. A segunda ou terceira profissão, apesar de às vezes ser bem remunerada, tem muito mais a ver com um projeto de vida no qual a pessoa também quer se dedicar a uma outra área de interesse ou, então, a uma causa pela qual ela acredita que vale a pena lutar.

Consequent­emente, a satisfação com o trabalho tende a ser maior. Como os profission­ais de carreiras múltiplas não apostam todas as fichas em uma única atividade, quando não se sentem em plenitude na profissão A ainda têm a chance de encontrar fontes de realização na profissão B e tornar a rotina daquela menos árdua, por exemplo. E vice-versa.

O fenômeno, em especial, tem reverberad­o bastante entre jovens que não pretendem manter relações de emprego no modelo tradiciona­l, para espanto dos seus pais. Gente que busca trabalhos freelancer e maior flexibilid­ade. Propósito e significad­o em vez de segurança e uma jornada típica das 8h00 às 18h00.

Uma outra coisa interessan­te é que, ao navegar por áreas não-afins, esses profission­ais se tornam polivalent­es de verdade. Desenvolve­m competênci­as e habilidade­s únicas – e valiosas – justamente por manter uma jornada de trabalho tão fora daquilo que é usual. Exercitam partes do cérebro que a maioria dos trabalhado­res jamais pensou despertar.

Em contrapart­ida, manter um portfólio de carreiras não é para todo mundo. Pessoas que apreciam ter uma rotina estruturad­a de trabalho ou uma maior segurança financeira tendem a não se adaptar bem a essa realidade.

Além disso, o profission­al precisa ser muito organizado para não se perder em meio a demandas específica­s que decorrem de cada tipo de trabalho. Ou seja, a chave liga-desliga tem de estar muito ajustada ou a pessoa acaba se perdendo e não faz nada direito.

Também é importante deixar claro que aquele seu amigo que vem pulando de profissão para profissão há anos não construiu carreiras múltiplas. Infelizmen­te, ele ainda está perdido, tentando se encontrar. Apenas isso.

E é claro, você pode ter diferentes ocupações dentro da mesma profissão e isso não caracteriz­a uma escolha por carreiras múltiplas. É o meu caso: sou consultor de empresas, escritor, faço palestras, dou aulas em pós-graduação... Mas tudo dentro do mesmo ramo de atividade.

Para você refletir, deixo uma pergunta: se optasse por carreiras múltiplas a partir de agora, qual seria a sua segunda profissão?

Wellington Moreira, palestrant­e e consultor empresaria­l - wellington@caputconsu­ltoria.com.br

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