Folha de Londrina

Como você quer viver até morrer?

- Sylvio do Amaral Schreiner

O prefeito licenciado da cidade de São Paulo, Bruno Covas, que tratava desde 2019 de um câncer, teve recentemen­te uma piora em seu estado de saúde e , segundo boletim médico divulgado na sexta-feira, o quadro era irreversív­el. Sua morte foi confirmada na manhã de domingo. Diante de tal situação vemos no prefeito uma atitude bem favorável para com a vida.

Todos estamos para morrer algum dia. Essa é a grande verdade, mas apesar de sabermos disso nunca nos damos conta de nossa mortalidad­e. Acreditamo­s que temos todo o tempo do mundo à nossa frente. No entanto, quando recebemos um diagnóstic­o nada positivo, que nos mostra que os dias estão contados, é sempre um baque muito grande. Há muitos tipos de reações. Bruno Covas, parece, pelo que vemos na imprensa, vinha reagindo com grande dignidade. Essa forma dele se relacionar com a vida e sua finitude é muito edificante para todos nós.

Há duas maneiras de sofrer nessa vida. Uma delas é sofrer mal e a outra é sofrer com dignidade. O que vai fazer com que seja uma forma ou outra é a escolha de cada um, o que depende da maturidade de cada um. É como lidamos com o que sentimos, seja de que natureza for, que dá o tom de como vamos viver e até mesmo, sofrer.

Pessoas recebem diagnóstic­os nada esperanços­os todos os dias e observase que algumas delas reagem com grande assertivid­ade, arrumando as pendências que porventura existam, acertando relacionam­entos e vivendo cada minuto com muito gosto, aproveitan­do cada segundo precioso. Parece que a pessoa se transforma e vê claramente que não tem tempo a perder, tirando o melhor proveito de tudo o que for possível. Elas vivem mais nesse curto espaço de tempo até do que viveram anteriorme­nte. Chega a ser bonito de se ver. Há toda uma tristeza, mas também toda uma alegria e prazer pela vida que encanta.

Porém, há também outras pessoas que recebendo um diagnóstic­o desfavoráv­el ficam furiosas e amargas. Sentem que algo ruim e danoso não poderia estar acontecend­o com elas e acabam por ficar

A opinião do colunista não reflete, necessaria­mente, a da Folha de Londrina ressentida­s. A vida, nesse curto espaço de tempo, passa a ser um fardo insustentá­vel e tudo fica como estragado, não podendo ser aproveitad­o. Junto com o sofrimento de uma notícia dolorosa vem o sofrimento de uma amargura.

Não é mesmo fácil lidar com fatos que nos tiram perspectiv­as e nos colocam frente à nossa condição de fragilidad­e. Porque é justamente essa a condição humana: fragilidad­e. Nos desfazer da ilusão de que somos onipotente­s pode ser uma pancada feia. Contudo, como lidamos com as pancadas e tombos na vida é o que importa.

Sempre teremos que nos deparar com dores ao longo de nossas vidas e elas são dos mais variados tipos. Isso é inevitável. Agora, vale a pena refletir sobre como vamos sofrer nossas dores. De uma maneira digna ou de uma maneira indigna? A verdade é que escolhemos como vamos sofrer da mesma maneira que escolhemos como vamos viver. Será que tiramos o melhor da vida, aproveitan­do de fato? Ou perdemos tempo com coisas sem importânci­a alguma sem nos atentarmos para o que é realmente valioso? Como você quer morrer? Ou melhor, como você quer viver até morrer?

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