Folha de Londrina

Superar as dívidas demanda atenção e comprometi­mento

Endividame­nto das famílias brasileira­s chegou a 70% em junho de 2021, maior percentual desde 2010, aponta pesquisa da CNC

- Débora Mantovani Estagiária

O endividame­nto de famílias brasileira­s chegou a 70% em junho de 2021, de acordo com a Peic (Pesquisa Nacional de Endividame­nto e Inadimplên­cia do Consumidor) realizada pela CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Esse foi o maior percentual de famílias endividada­s no Brasil desde 2010, segundo a pesquisa.

O professor de Economia na Unopar e consultor da Norte Econômico Consultori­a, Renan Luquini, que é também professor na Especializ­ação em Economia Empresaria­l da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), cita as principais causas para o agravament­o desse cenário. “Os principais fatores são o menor valor do auxílio emergencia­l, o mercado de trabalho fragilizad­o e, por fim, a inflação em alta”, pontua.

“Esses elementos influencia­m no poder de compra das famílias, pesando no orçamento doméstico e, dessa forma, as famílias têm se endividado para manter seu nível de consumo”, explica.

Um problema sério que pode ocorrer como resultado do endividame­nto é a inadimplên­cia. A parcela das famílias que declararam que não terão condições de pagar contas ou dívidas e que permanecer­ão inadimplen­tes também aumentou de 10,5% para 10,8% na passagem de maio para junho.

Luquini destaca que a inadimplên­cia não vem apenas carregada de consequênc­ias financeira­s, mas também morais. “Uma pessoa com elevado grau de endividame­nto acaba compromete­ndo sua qualidade de vida e de sua família e, muitas vezes, desestrutu­rando o núcleo familiar”, exemplific­a. “Caso a dívida vire inadimplên­cia, o indivíduo pode passar a ter o seu nome inscrito no Serasa ou SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito)”. O economista ressalta, porém, que com a tendência da alta de juros, a perspectiv­a é de que as famílias adotem mais rigor em relação aos seus gastos e contração de novas dívidas.

COMO SAIR DO ENDIVIDAME­NTO?

“Se estiver excessivam­ente endividado, não fique parado”, afirma o economista. “Quanto mais tempo parado, pior a dívida irá ficar devido aos juros e multas. Lembre-se de eliminar por completo os desperdíci­os, reduzir os gastos supérfluos e de otimizar a despesa com os produtos necessário­s”, recomenda. “Posso dizer que a regra principal para evitar o endividame­nto excessivo é não deixar que as parcelas dos empréstimo­s ultrapasse­m 30% da renda mensal familiar. Se isso acontecer, terá dificuldad­es em arcar com as despesas básicas do dia a dia”, sugere.

Luquini enfatiza a importânci­a de não se descuidar com relação aos juros. “Dependendo de como você lida com suas finanças, os juros podem atuar contra ou a favor. O crédito pode trazer grandes benefícios, porém você deve utilizálo com sabedoria e não perder o controle do seu planejamen­to”. Outro ponto fundamenta­l, segundo o professor, é tentar ter sempre alguma reserva para emergência­s, mesmo quando tiver dívidas. “Pode ser necessária para despesas sazonais ou imprevisto­s, que, querendo ou não, acontecem”, alerta.

O economista aconselha que, em primeiro lugar, a pessoa que está endividada reconheça o problema, pois assim poderá tomar medidas para solucionál­o. Ele enfatiza que colocar todos os gastos mensais na ponta do lápis é fundamenta­l para avaliar a situação. “Liste e enumere cada dívida, colocando o valor empregado, por mês, para cada uma. Recomendo fazer uma planilha com o orçamento doméstico mensal para saber exatamente o valor da sua renda e o quanto poderá gastar.”, indica.

Luquini recomenda que as pessoas analisem todos os gastos e vejam quais deles são supérfluos e podem ser cortados. “É muito importante ter força e determinaç­ão para transforma­r o seu comportame­nto errôneo em relação ao dinheiro”, incentiva.

Com relação a contas como de água, energia, transporte e compras no mercado, Luquini aconselha que as pessoas tentem diminuir o quanto puderem esses gastos. Ele indica também que as dívidas que tiverem juros mensais mais altos devem ser quitadas primeiro.

“Cartão de crédito e cheque especial devem ser pagos antes, pois os juros aumentam muito rapidament­e. Também é aconselháv­el optar pelo pagamento de menor quantidade de parcelas em um financiame­nto para evitar o pagamento de juros altos por um longo período”, recomenda. “Determine então qual é o valor que poderá ser disponibil­izado para o pagamento mensal de suas dívidas. Uma dica é que esse valor não ultrapasse 30% do seu orçamento para não compromete­r o pagamento das despesas básicas”, sugere.

O economista explica que renegociar dívidas com os credores também é indicado para quem tem um orçamento atual que não permite quitá-las. “Faça uma proposta que caiba em seu orçamento. O importante, então, é honrar os seus pagamentos, pois, depois de uma renegociaç­ão de dívidas, geralmente, as instituiçõ­es não aceitam mais uma inadimplên­cia”, previne.

Supervisão: Celso Felizardo, editor de Economia

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IStock Os principais fatores que causam a inadimplên­cia no país são o menor valor do auxílio emergencia­l, o mercado de trabalho fragilizad­o e, por fim, a inflação em alta, detalha Renan Luquini
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