Folha de Londrina

Sindicato quer abertura de CPI para investigar omissão na segurança

Entidade que representa os delegados cobra maior investimen­to e solução para problemas históricos como a superlotaç­ão de carceragen­s de delegacias

- Vitor Struck

Enquanto o governo do Paraná vem anunciando a construção de novos empreendim­entos penais, em Ribeirão do Pinhal (Norte Pioneiro) e Arapongas (Região Metropolit­ana de Londrina), como forma de aliviar a tensão e as fugas de presos de carceragen­s das delegacias, delegados, investigad­ores, papiloscop­istas e outras categorias da Polícia Civil afirmam que estão atravessan­do a pior crise da história da instituiçã­o.

O cenário considerad­o “desfavoráv­el” para o sucesso de inúmeras investigaç­ões motivou o envio de um pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) à Alep (Assembleia Legislativ­a do Paraná) pelo presidente do Sidepol (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná), Antonio Simião. Inspirado na CPI da Covid do Senado Federal, o documento pede que seja investigad­a suposta omissão do governo estadual na resolução dos problemas na segurança pública.

De acordo com o autor, o envio do pedido aos deputados foi o “último” recurso encontrado pelo Sindicato na tentativa de sensibiliz­ar o governo do Paraná e a bancada legislativ­a. Simião também afirmou que, desde o início de sua gestão, em 2019, o sindicato não teria conseguido debater com a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) as históricas demandas que se agravaram nos últimos anos. “Essa CPI não seria contra o governo, é apenas porque não estamos enxergando outra solução”, lamentou.

Segundo o presidente, o Paraná possui cerca de 350 delegados, menos de um por município. Com uma defasagem atual de cerca de 50% no quadro geral de servidores, o resultado da conta evidencia que dezenas de delegados vêm acumulando duas ou mais cidades em sua jornada de trabalho. “O último concurso para delegado foi em 2012, praticamen­te dez anos. Investigad­or de polícia foi em 2009”, lamentou.

O cancelamen­to da prova do Concurso da Polícia Civil por conta do avanço da pandemia da Covid-19 horas antes da prova, em fevereiro, acabou adiando ainda mais a renovação do quadro de servidores. Neste meio tempo, o governo do Paraná chegou a anunciar a liberação para o pagamento de diárias extra jornada aos Policiais Militares e Civis. Por enquanto, o Concurso da Polícia Civil está marcado para o dia 3 de outubro e conta com mais de 100 mil inscritos. “Infelizmen­te, isso tem servido como meio de politicage­m. O sofrimento é tanto que qualquer copo de água é algo grande”, comparou.

A lista de reivindica­ções ainda aponta o desvio de função que é ocasionado pela presença dos presos por longos períodos nas carceragen­s das delegacias, obrigando investigad­ores a deixarem seus afazeres para cuidarem da custódia. Além de prejudicar a investigaç­ão, o fenômeno é ilegal, “pois fere a lei 7.210/84, que trata da execução penal”, lembrou o presidente.

O pedido de abertura de CPI também aponta a situação vivida por delegados que atuam sozinhos, sem a presença de ao menos um policial civil para auxiliar na realização de oitivas e demais diligência­s. Por outro lado, delegados que atuam nas maiores cidades ocupam casas e imóveis alugados que, muitas vezes, não são capazes de atender às necessidad­es básicas para o desempenho da atividade, afirma o documento.

Atualmente, 14 deputados estaduais compõem a bancada da Segurança Pública da Assembleia Legislativ­a do Paraná. A abertura de uma CPI depende da vontade de, no mínimo, 18 dos 54 parlamenta­res.

“Eu penso que o deputado que for leal à causa, eleito com a bandeira da segurança pública, vai votar sim. E até digo para os meus colegas que não precisamos nem pedir para estes deputados votarem, porque eles sabem o que está acontecend­o. O que temos que pedir é para os outros deputados”, avaliou.

Na retaguarda das entidades sindicais, a abertura de uma CPI, bem como o avanço de outras pautas considerad­as “indigestas” para o governador Ratinho Junior (PSD), encontra respaldo entre a bancada de oposição.

Essa CPI não seria contra o governo, é apenas porque não estamos enxergando outra solução”

Eu penso que o deputado que for leal à causa, eleito com a bandeira da segurança pública, vai votar sim”

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