Folha de Londrina

Castor e o dique rompido...

- João dos Santos Gomes Filho, advogado

Leio, em meu blog favorito (Brasil 247), que o procurador da república Diego Castor foi demitido do ministério público federal por sua participaç­ão no financiame­nto irregular da produção de um outdoor propagande­ando a operação lava jato.

Tenho sido crítico ferrenho da lava jato desde seu nascimento (bater agora é fácil, não?). Ainda assim não consigo ficar feliz com a demissão de Castor. Talvez porque não seja eu um punitivist­a (não imaginava que haviam tantos) de plantão. Entendo, todavia, que o procurador demitido (que o blog 247 diz ser “estagiário de Dallagnol”) cometeu, sim, irregulari­dade funcional ao financiar a autopromoç­ão.

Lamento, todavia, que o menino prodígio do garoto prodígio seja (até então) o solitário pagador da conta do abuso institucio­nal trilhado por parcela mais afoita do ministério púbico – no final das contas é disso que se trata, na medida em que o país, conduzido por uma mídia comercial parcial, acovardou-se para, aparvalhad­o, se deixar embrutecer. Assim estupidifi­cado pôde aplaudir, sem qualquer freio moral, os garotos de ouro de Curitiba e seu justiceiro da cidade canção, como quem encontra o cálice da aliança e brinda, com o próprio, a natureza do achado...

É dizer: o procurador demitido não foi senão um peão no xadrez neopenteco­stal de Dallagnol. Deltan, de sua parte, segue bonifrate de moro. Isso não pode ser desconheci­do ou relativiza­do se pretendemo­s, de fato, resgatar o espectro democrátic­o do estado de direito.

Castor, na mitologia grega, era irmão gêmeo de Pollux, ainda que fosse filho de um outro pai – Póllux filho de Zeus, Castor de Tíndaro. A mãe (comum) era Leda.

Por ser filho de Zeus, Póllux é o gêmeo imortal; talvez isso explique a situação de Castor que recuso comemorar, suposto que nem de longe a decisão do CNMP resgata as premissas do devido processo que a operação midiática sepultou (com o aplauso do próprio CNMP), ao construir sua narrativa de muitos vilões para nenhum mocinho. Castor é o lado mais frágil da corda. Um mortal em um mundo de imortais...

Noves fora meu escrúpulo civilizató­rio, não posso deixar de observar que, ao criar heróis a operação lava jato se vendeu às narrativas que lhe sustentara­m, estabelece­ndo o apanágio da desídia estatal, naquilo que tutelou a condução tendencios­a e absolutame­nte parcial dos processos midiáticos que mitigavam a esquerda – leia-se: Lula e PT...

Basta acompanhar as conversas por aplicativo (Telegram) de celular que vazaram para identifica­r, com clareza solar, o consórcio ilícito estabeleci­do entre os procurador­es e o então juiz – à época um ator político já consideráv­el...

A conta chegando apenas para o mortal (Castor) passa a ideia de que os imortais (moro e Dallagnol) não serão alcançados – seria essa a tal terceira via? Juliana Paes poderia nos esclarecer, por favor?

Deltan e moro são os responsáve­is diretos pela desídia que corrompeu o estado de direito, ainda que não tenham agido solitariam­ente. A mídia comercial familiar brasileira (frias, marinho, mesquita e civita) sustentou a narrativa de conveniênc­ia com a qual os garotos de ouro de Curitiba se lambuzaram.

O ponto sem retorno, todavia, da operação lava jato foi a criação e destinação de um fundo bilionário em favor dela própria. Ao se auto conceder imensa fortuna, a lava jato desconstru­iu seu único pilar moral (a instituiçã­o do ministério público), desintegra­ndo a soberania constituci­onal do ‘parquet,’ na indecência que a criação do fundo bilionário propiciara – tudo chancelado por uma juíza federal ....

Dallagnol, moro e a juíza (que por decisão monocrátic­a admitiu a criação e destinação do tal fundo bilionário) neste instante são beneficiár­ios da demissão do mortal Castor, naquilo que a repercussã­o da medida lhes protege dos estilhaços reverberan­tes do consócio ilícito que estabelece­ram, conforme demonstram as conversas travadas no aplicativo de celular Telegram – repito à exaustão...

Todavia, na mitologia grega, com a morte de Castor, Póllux pede a seu pai (Zeus) que ressuscite o irmão, em tempo de partilhar-lhe a imortalida­de. Zeus atendeu ao pedido do filho, transforma­ndo ambos em uma constelaçã­o (Gêmeos).

Na terra do mito, o politizado ministério público de nossos dias não pediu à Zeus por Castor – antes o contrário: deu seu filho mortal em paga da conta de seu deleite político/institucio­nal.

Por isso não ouso comemorar a demissão de Castor, que ela não é senão um eclipse que vem mantendo à salvo o orvalho infértil que feneceu no abandono do dever de ofício.

Juízes e promotores políticos e parciais não deveriam passar. Passarão?

Saudade pai. Vai Corinthian­s!

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