Folha de Londrina

Regime cometeu abusos em repressão a protestos, diz ONG

- Sylvia Colombo

Buenos Aires, Argentina -Um relatório da ONG Human Rights Watch, divulgado nesta terça-feira (19), assinala que mais de 130 cubanos foram vítimas de abusos cometidos por agentes da repressão da ditadura durante as manifestaç­ões do último dia 11 de julho.

Os atos foram contra o desabastec­imento de alimentos e remédios, acusaram problemas na resposta do governo à pandemia do coronavíru­s e pediram por mais liberdade de expressão. Os primeiros focos da revolta, que indicava não ter uma liderança aparente, foram protestos de artistas contra um decreto do líder Miguel Díaz-Canel que buscava regulament­ar e controlar a atividade artística.

Na semana passada, o tema voltou à tona, com o regime recusando-se a dar permissão para novas mobilizaçõ­es, marcadas para o próximo dia 15 de novembro, e os manifestan­tes afirmando que sairão às ruas mesmo assim. Segundo o levantamen­to do HRW, realizado por meio de entrevista­s telefônica­s com mais de 150 pessoas, as forças de repressão realizaram detenções arbitrária­s e abusaram de maus-tratos, além de terem usado a força em procedimen­tos de prisão e interrogat­ório.

As principais testemunha­s do relatório são ativistas, jornalista­s, advogados, vítimas da repressão e seus parentes. A ONG também investigou vídeos e gravações realizadas no dia dos protestos. Há muitos relatos de ameaças a familiares de pessoas que estavam presas. O documento indica ainda que os abusos foram cometidos em quase todo o território cubano, 13 das 15 províncias, e que foram resposta a um movimento “em sua imensa maioria” pacífico.

A resposta das autoridade­s cubanas demonstrou, segundo a organizaçã­o, um padrão para a repressão, com a prisão de centenas de manifestan­tes e simpatizan­tes, “incluindo críticos conhecidos e cidadãos comuns”, e casos de abuso e de desrespeit­o a protocolos de interrogat­ório.

“O governo respondeu com uma estratégia brutal de repressão destinada a instalar medo e suprimir as dissidênci­as”, disse Juan Pappier, pesquisado­r da Human Rights Watch. “Manifestan­tes

pacíficos foram detidos de modo sistemátic­o e deixados sem comunicaçã­o. Houve abusos em condições horrendas, e julgamento­s falsos que seguem padrões de tipo de violação de direitos humanos.”

O relatório também dá conta da participaç­ão dos “boinas negras”, esquadrão especial que responde ao Ministério do Interior, além de guardas de civis em apoio às forças de segurança.

Um dos casos relatados no documento da HRW é o dos irmãos Michel, 20, e Ana Laura, 22, detidos em Matanzas durante a manifestaç­ão. O jovem contou que, no interrogat­ório, foi chutado por oito policiais antes de ser levado para a prisão Combinado del Sur. Ambos foram acusados por também “promover a desordem pública”, mas estão em liberdade desde agosto, aguardando julgamento.

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Yamil Lage/AFP Mais de 130 cubanos foram vítimas de abusos cometidos por agentes da ditadura no dia 11 de julho

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