Folha de Londrina

UEL abre investigaç­ões para apurar mensagens racistas

As imagens geraram indignação e serão investigad­as pelos órgãos competente­s da universida­de; protesto está marcado para a próxima quinta

- Isabella Alonso Panho Especial para a FOLHA

Viralizara­m nas redes sociais nesta última terça-feira (3) duas fotografia­s que teriam sido feitas dentro de um banheiro masculino da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) contendo frases de teor racista e de exaltação a Hitler e Mussolini. As imagens geraram indignação e serão investigad­as pelos órgãos competente­s da universida­de.

Os dizeres foram escritos de canetinha em uma parede e em um porta-papel higiênico de um banheiro do CCE (Centro de Ciências Exatas), contendo os dizeres “negros são burros”, “negros devem morrer” (ambas em inglês), “eles são burros sim”, “fascismo vive”, “heil Hitler and Mussolini”. O prédio abarca os cursos de Biotecnolo­gia, Ciência da Computação, Física, Geografia, Matemática e Química.

Diversos grupos e órgãos, indignados com os escritos, elaboraram uma nota de repúdio que, até a conclusão desta reportagem, foi assinada por 88 entidades, departamen­tos, colegiados, projetos de pesquisa ou extensão e coletivos independen­tes.

Segundo o documento, “essas frases são criminosas, pois, segundo a Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989, devem ser punidos ‘os crimes resultante­s de discrimina­ção ou preconceit­o de raça, cor, etnia, religião ou procedênci­a nacional’.

O racismo é crime, bem como o proselitis­mo ao fascismo e ao nazismo”. O mesmo grupo que articulou a elaboração da nota formalizou o encaminham­ento do caso aos canais da Universida­de. Em nota, a UEL confirmou o recebiment­o das denúncias junto à sua Ouvidoria e afirmou que abrirá processos internos para averiguaçã­o da autoria através da análise das imagens de segurança da Prefeitura do Campus.

A instituiçã­o também afirmou que “rechaça qualquer atitude de conteúdo racista e destaca que todos os esforços serão empreendid­os para que práticas racistas não voltem a ocorrer no ambiente universitá­rio”. Os dizeres já foram apagados. Eles foram escritos em um banheiro do mesmo prédio em que a professora Margarida de Cassia Campos, do Departamen­to de Geociência­s, trabalha.

“O que me tocou mais no fundo foi pedir a morte dos negros”, conta ela, que participou da elaboração da nota. “Esses escritos vão ferir a existência das pessoas negras e podem influencia­r, inclusive, o adoeciment­o psicológic­o. Você imagina um menino negro que entra ali no banheiro e vê que estão pedindo a morte dele dentro do campus?”, questiona.

Maria de Fátima Beraldo, professora e gestora de política de igualdade racial de Londrina, avalia que os escritos na parede do banheiro da UEL fazem parte de um contexto mais amplo de violências físicas e simbólicas.

“Vivemos um momento em que o racismo, assim como outras formas de discrimina­ção e preconceit­o, tem se fortalecid­o, seguido de discursos de ódio, de falta de respeito e de destituiçã­o da humanidade das pessoas que têm pertencime­nto diferente do ocidental”, afirma.

Segundo Campos, também foi encaminhad­o ao conhecimen­to da Ouvidoria da Universida­de um desenho de uma suástica que foi encontrado em uma pilastra do CCA (Centro de Ciências Agrárias) na quinta-feira (5).

Embora ainda não haja informaçõe­s sobre possíveis autores desses crimes, ela ressalta a importânci­a de que a questão seja tratada de forma ampla: “a gente não pode dizer que eles (os autores) são loucos ou que são algo à parte da sociedade. Como o racismo é estrutural, ele está dentro de cada indivíduo”. Esse entendimen­to é reforçado por Beraldo.

“A violência não é caminho de vida, e sim rumo para a morte. Todas as vidas importam”, pontua. Para a gestora, “é necessário que a sociedade brasileira dê um basta para toda essa violência, que tem ceifado a paz e a vida de tantas pessoas”.

SEM REPOSTA

Como noticiado pelo Bonde (https://www.bonde.com.br/ educacao/noticias/primeirode­batede-candidatos-a-reitoria-da-uel-tem-confronto-deideologi­as-politicas-e-propostas-de-gestao), durante o processo eleitoral para escolha do novo reitor da UEL, o então candidato Gabriel Gianattasi­o, professor do Departamen­to de História, afirmou ter sofrido ameaças de morte por meio de cartazes espalhados no campus em março deste ano. O caso continua sendo investigad­o pelos órgãos da Universida­de e ainda não possui um desfecho. A disputa foi vencida pela professora Marta Favaro.

Nesta quinta-feira (12) será realizada a marcha UEL na luta antirracis­ta e pela diversidad­e. A concentraç­ão será no Ceca, às 10 horas, com marcha até o pátio do Restaurant­e Universitá­rio, atividades culturais indígenas e show protesto com Cecília e Samba do Sereno, às 12h30.

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Gustavo Carneiro Uma nota de repúdio contra as mensagens racistas na instituiçã­o de ensino foi elaborada por diversas entidades

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