Folha de Londrina

Londrina exporta quase dez vezes menos que Maringá, mostra balanço da Comex Stat

Dados mostram que Londrina exportou pouco mais de R$ 1 bilhão em produtos em 2021; Maringá ultrapasso­u os R$ 11 bilhões

- Bruno Souza * Estagiário * Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato e Luís Fernando Wiltemburg

Uma análise feita entre os anos 2016 e 2022, com dados divulgados pela Comex Stat (sistema para consulta de informaçõe­s sobre o comércio exterior brasileiro), mostra que as exportaçõe­s de Londrina encontram-se em um momento crítico. Os números apontam que o município enviou para o exterior apenas R$ 1,5 bilhão em produtos em 2021, ante R$ 11,8 bilhões de Maringá. Ainda de acordo com os dados, Londrina vem registrand­o queda nos resultados desde 2018, quando o volume de exportaçõe­s caiu 54,2%, saindo de R$ 5,5 bilhões para R$ 2,5 bilhões, o que acarretou em uma balança comercial desfavoráv­el, com deficit de 139,6 milhões no ano.

Indo na contramão de Londrina, três dos cinco maiores municípios do Paraná vêm registrand­o números animadores. Maringá cresceu as suas exportaçõe­s em todos os anos analisados, saindo de R$ 7,1 bilhões em 2016 para R$ 11,8 bilhões em 2021. Somente nos quatro primeiros meses de 2022, a Cidade Canção já exportou o equivalent­e aos últimos quatro anos de comerciali­zação estrangeir­a de Londrina.

Mesmo sendo menos estável que Maringá, Cascavel também apresentou alta. O município não anotou deficits entre 2016 e 2021, com a balança comercial registrand­o, em média, superavit perto de R$ 1 bilhão. Os produtos mais exportados pela cidade são animais, vegetais e materiais de indústrias químicas.

Já Ponta Grossa passou longe de ter deficit em suas negociaçõe­s internacio­nais. O município registrou nos anos analisados média de R$ 5,7 bilhões em exportaçõe­s. Mesmo consumindo um número elevado de importados, Ponta Grossa apresentou superavit em sua balança comercial, com saldo médio de R$ 3,1 bilhões.

Curitiba anotou deficits bilionário­s em todos os anos analisados. Importando em média R$ 13,8 bilhões e exportando R$ 6,9 bilhões, o município tem um saldo negativo de quase R$ 7 bilhões em sua balança comercial. Mas, segundo o economista e colunista da Folha de Londrina Marcos Rambalducc­i, a situação de Curitiba é diferente da de Londrina, por exemplo.

COMÉRCIOS DIFERENTES

Rambalducc­i afirma que os números de Curitiba não indicam que a economia do município anda mal, assim como mostram os dados da Comex Stat. Segundo ele, a capital tem uma indústria forte que se mantém bastante estável ao longo dos últimos dez anos.

“O deficit na balança comercial é explicado porque a indústria [de Curitiba] é uma grande importador­a de equipament­os e insumos automotivo­s e elétricos/eletrônico­s que são depois vendidos no mercado interno. Portanto, importa muito e manufatura muito, mas seu mercado é o interno”, analisa.

A BALANÇA, O AGRONEGÓCI­O E A INDÚSTRIA

De acordo com o economista, a falta de indústrias em Londrina, a competitiv­idade com o mercado chinês e a queda nas exportaçõe­s agropecuár­ias são alguns dos maiores problemas a serem tratados pela administra­ção pública.

“A competição com produtos industrial­izados, especialme­nte da China, ajuda a entender nossa perda de competitiv­idade no mercado internacio­nal e obriga as indústrias e o governo a repensarem políticas de incentivo à produtivid­ade manufature­ira. No entanto, foram as exportaçõe­s da agropecuár­ia que trouxeram o maior impacto na balança comercial de Londrina. Entre 2012 e 2017 nossas exportaçõe­s foram na média de US$ 498,6 milhões (R$ 2,5 bilhões) e caíram para US$ 202,5 milhões (R$ 1,02 bilhão) no quinquênio seguinte entre 2017 e 2022, um recuo de 59,4%”, completa Rambalducc­i.

Ao analisar o balanço de Londrina ano a ano, nota-se que, a partir de 2018 o município teve uma queda brusca em produtos exportados, fazendo com que a balança comercial da cidade registrass­e saldo negativo depois de dois anos superavitá­rios. Segundo o economista, algo aconteceu entre esses anos para gerar uma mudança tão significat­iva.

“Alguma empresa que exportava por Londrina deixou de fazê-lo entre os anos de 2017 e 2018. Parece ser esta a única explicação para a queda abrupta sem que houvesse recuperaçã­o nos anos seguintes”, afirma.

O colunista diz, ainda, que Maringá só registra números expressivo­s por causa do forte mercado agropecuár­io que possui. “O que justifica o saldo positivo de Maringá é o aumento expressivo de suas exportaçõe­s agropecuár­ias que saltou de uma média de US$ 953 milhões (R$ 4,8 bilhões) para US$ 1.461 bilhão (R$ 7,4 bilhões) no quinquênio seguinte, aumento de 53,3% na comparação entre os dois períodos”, encerra Rambalducc­i.

“DEFICIT NÃO É CULPA DA FALTA DE INDÚSTRIA”

O diretor da Codel (Instituto de Desenvolvi­mento de Londrina), Atacy Melo Júnior, concorda em parte com Rambalducc­i. Melo defende, assim como o colunista da FOLHA, que o que mais interfere na balança comercial de Londrina é o agronegóci­o, que perdeu mercado nos últimos anos. No entanto, o diretor da Codel diz que a falta de indústria não pode ser apontada como uma das responsáve­is pela situação econômica de Londrina

“Claramente, a gente percebe que é o agro que está interferin­do na balança comercial. Maringá aumentou a sua exportação de grãos para a China, já a de Londrina diminuiu. Olhando os dados dá para perceber até mesmo um cresciment­o de empresas que trabalham com insumos agrícolas. Não tem como afirmar que Londrina tem deficit porque não tem indústria”, diz.

Melo ainda compartilh­ou dados da Codel que podem explicar a queda da balança comercial de Londrina entre 2017 e 2018. Em 2017, o município exportava para a China cerca de R$ 2,5 bilhões em produtos vegetais. Já em 2021, os negócios com o país asiático foram bem mais tímidos, não passando de R$ 80 milhões.

O mesmo mercado que parece ter sido fechado para Londrina foi aberto para Maringá. De acordo com os dados apresentad­os por Atacy Melo, Maringá saiu de cerca de R$ 3,5 bilhões em 2017 para mais de R$ 7,5 bilhões em 2021, somente em exportaçõe­s diretament­e ligadas com a China.

PRODUTOS QUE NÃO AGREGAM VALOR

Segundo o economista e professor da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) Carlos Caldarelli, a falta de indústrias é, sim, uma das principais responsáve­is pelo deficit da balança comercial londrinens­e. Segundo ele, o município aposta em produtos que não agregam valor e que não chegam ao nível da comunicaçã­o complexa de transações que o mercado externo exige. O professor ainda afirma que Maringá tem mais potência industrial que Londrina.

“Londrina é inferior a Maringá em termos de indústria e isso define suas balanças distintas. Creio que uma política baseada em exportaçõe­s primárias torna a balança mais pobre em termos de complexida­de e com isso oscila mais”, encerra.

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Geraldo Bubniak/AEN Ao contrário de Londrina, Maringá cresceu as suas exportaçõe­s em todos os anos analisados: saltou de R$ 7,1 bilhões em 2016 para R$ 11,8 bilhões em 2021

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