Com clima favorável, Paraná projeta safra recorde de milho
Expectativa é de que estado produza 16 milhões de toneladas do grão até o final da colheita, entre agosto e setembro
O Paraná projeta uma safra recorde de milho. Segundo o relatório do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, a expectativa é que sejam produzidos 16 milhões de toneladas do grão até o final da colheita da segunda safra, entre agosto e setembro.
Com início em janeiro, a segunda safra de milho registrou um incremento de área em comparação à safra anterior, alcançando 2,7 milhões de hectares no Estado, um aumento de 8,5% no comparativo com a safra do ano passado, aproximadamente 214 mil hectares.
“Diante de uma área plantada maior e condições de clima favoráveis para a cultura em praticamente todo o ciclo, a expectativa é que podemos ter uma produção recorde. No entanto, ainda é temerário cravar esta produção, pois a maior parte da safra ainda é suscetível a um risco de geada principalmente”, pondera o administrador Edmar Gervásio, analista do Deral.
Em geral, as condições de lavoura apresentam-se boas para 84% da área, 14% têm condição mediana e apenas 2% estão ruins. “Em relação às fases das lavouras, temos 14% na final, 59% em frutificação e 27% divididos nas demais fases – desenvolvimento vegetativo e germinação.”
O técnico acrescenta que, em geral, as condições das lavouras de milho são boas para a maior parte da área plantada no Estado, havendo somente situações pontuais de pragas e doenças. Na safra anterior, a produção foi de 5,7 milhões de toneladas. Se o volume desta safra for confirmado, a produção poderá ser quase 3 vezes maior.
“A perda no campo na safra anterior foi em decorrência da estiagem no Estado e, em menor grau, das geadas”, explica o técnico.
EXPECTATIVA O agricultor e engenheiro agrônomo Paulo Vinicius Demeneck Vieira está otimista para a safra de milho deste ano. No ano passado, ele conseguiu produzir 90 sacas por hectare, após enfrentar seca e vários eventos fortes de geada.
“A expectativa neste ano é que a produtividade da lavoura gire em torno de 120 sacas por hectare. Houve uma massa de ar frio recentemente, mas não ocorreram geadas de forma generalizada e o ano tem sido muito bom de chuva. Ainda há a preocupação com o aparecimento de danos causados pela cigarrinha do milho, que é uma praga nova que os agricultores estão aprendendo a manejar e só conseguiremos ver se houve danos próximo da colheita”, destaca.
O agricultor acrescenta que o mercado anda aquecido devido à guerra da Ucrânia. “Ucrânia e Rússia são uns dos maiores exportadores de trigo e milho do mundo. E com esses dois players fora do mercado, a demanda extra acaba recaindo sobre os Estados Unidos e o Brasil”, explica.
Com relação aos preços para esta safra, Paulo Vinicius projeta que devem ser menores que na safra passada.
“Quando houve as geadas em julho de 2021, os preços dispararam a níveis recordes, com muitas praças batendo R$ 100 por saca. Esses preços não devem se repetir em 2022 por ser um ano de safra cheia. Porém também não devem baixar da casa dos R$ 80 a saca, devido à escassez de oferta do cereal em nível mundial”, analisa.
Em sua propriedade localizada em Juranda, na região centro-oeste do Paraná, Paulo Vinicius planta 450 hectares de milho. Ele está na atividade há seis anos, herdada pela família, que cultiva o grão há mais de 20 anos. Hoje, a maioria da produção é comercializada para a cooperativa Coamo.
“A cooperativa está começando os planos para se fazer etanol do milho, assim como nos Estados Unidos, que 1/3 da produção tem esse fim. E há planos também para uma fábrica própria de rações”, afirmou.
RISCO O agricultor considera o cultivo do milho uma atividade muito arriscada. No ano passado, ele relembra que comprou insumos a um custo relativamente baixo e o cereal estava com um bom preço de comercialização, mas a seca e a geada acabaram dizimando a lavoura de muitos agricultores, que acabaram saindo no prejuízo.
“Neste ano estamos com um custo médio de produção um pouco superior à média histórica. Mas se a produção ajudar, será um bom ano, que poderá recuperar um pouco das perdas do ano passado. Já estamos negociando insumos para o ano que vem e estão absurdamente caros, com alguns registrando aumento superior a 100%. Se ano que vem não ocorrer tudo perfeitamente e os preços não se mantiverem, será um ano bem complicado”, projeta.
ESTATÍSTICAS
O VBP (Valor Bruto da Produção), riqueza produzida pelo milho no Paraná, registrou um crescimento de 36% em 2020 (dados mais recentes) em comparação ao ano anterior, saltando de R$ 8,7 bilhões para R$ 11,9 bilhões.
Em 2020, o município com maior área plantada de milho foi Assis Chateaubriand, com 66,1 mil hectares e VBP de R$ 231,1 milhões. O município com maior produção de riqueza advinda da atividade, nesse mesmo ano, foi Ubiratã, com 52,6 mil hectares plantados e VBP de R$ 252,9 milhões.
O Paraná é o segundo maior produtor do cereal do Brasil, ficando atrás de Mato Grosso. “A atividade já é consolidada no Estado, sendo que os gargalos ficam com armazenamento e logística”, concluiu Edmar Gervásio, analista do Deral.