Folha de Londrina

Com menor demanda, ovinocultu­ra de corte sofre desvaloriz­ação no PR

Em dois anos, carne ovina valoriza 19%, enquanto corte bovino sobe 67%; cenário leva produtores a migrarem para outras áreas da pecuária

- LUCAS CATANHO Especial para a FOLHA

A menor demanda por carne ovina no Paraná é um dos principais fatores para a desvaloriz­ação do ovino vivo no Estado. Em janeiro de 2020, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Esalq/USP, a cotação do ovino vivo no território paranaense foi de R$ 8,75/kg, enquanto em abril de 2022 ficou em R$ 10,40.

Isso representa um aumento de 19%, enquanto a arroba do boi gordo iniciou 2020 cotada a R$ 184,00 e fechou o mês de abril do corrente ano a R$ 308,00, um aumento de 67%. A valorizaçã­o da carne ovina foi 3,5 vezes menor em comparação aos bovinos.

Médico veterinári­o do Deral (Departamen­to de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultur­a e Abastecime­nto, Thiago De Marchi da Silva destaca que a população brasileira não tem o costume de consumir a carne ovina com regularida­de, sendo destinada principalm­ente às datas comemorati­vas, como as festas de final de ano.

“Além disso, a carne ovina é historicam­ente considerad­a uma proteína mais cara, o que afasta grande parte da população de menor renda, mesmo que essa diferença tenha diminuído considerav­elmente de 2020 para cá”, pontua.

O técnico explica que os custos de produção, somados à inflação, subiram de forma assustador­a desde o início da pandemia. “Com isso, pressionar­am ainda mais um mercado que já não era extremamen­te lucrativo. Isso pode levar muitos a migrarem para outras culturas, desistindo da criação de ovinos”.

CONSUMO Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, o consumo médio de carne ovina no Brasil é de 400 gramas por habitante por ano. Quando comparado ao consumo de carne de frango (44kg/ano), bovina (35kg/ano) e suína (15kg/ano), fica evidente que o brasileiro não tem o hábito de consumir a proteína.

O médico veterinári­o destaca que o maior desafio para a ovinocultu­ra é mudar o estigma de que a carne ovina é cara e reservada para ocasiões especiais. “Diversos produtores paranaense­s vêm desistindo da atividade e migrando para outras áreas da pecuária, devido aos elevados custos de produção e baixa valorizaçã­o do produto.”

Além disso, culturalme­nte o brasileiro não tem o costume de consumir a carne ovina em casa, por considerál­a menos versátil e mais cara que outras proteínas, consumindo-a principalm­ente em datas comemorati­vas ou em restaurant­es.

“O sabor suave caracterís­tico também destoa bastante da carne bovina, com a qual o paladar brasileiro está mais acostumado. Por muitas pessoas terem consumido carne ovina de baixa qualidade no passado, de animais mais velhos, com maior teor de gordura e sabor caracterís­tico, também existe a resistênci­a com relação ao sabor.”

DECLÍNIO

O VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuár­ia), soma das riquezas produzidas pela atividade, mostra que tanto em 2019 quanto em 2020 a ovinocultu­ra contribuiu com R$ 120 milhões para o VBP no Paraná.

“A atividade vem em declínio já há alguns anos. Em 2017, por exemplo, a contribuiç­ão foi de R$ 131 milhões para o VBP estadual, uma diferença que se torna ainda mais expressiva se levarmos em conta a inflação acumulada no período”, destaca.

A ovinocultu­ra de corte se refere aos cortes ovinos

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