Folha de Londrina

33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, aponta pesquisa

- Fernanda Mena

São Paulo - O ano de 2022 marca o retrocesso da segurança alimentar no Brasil ao mesmo patamar de fome que existia quase 30 anos atrás. Atualmente, 33 milhões de pessoas passam fome no país, segundo resultado de uma nova pesquisa sobre o tema divulgada nesta quarta (8).

Em 1993, eram 32 milhões de pessoas nessa situação, segundo dados semelhante­s do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – a população brasileira então era 27% menor que a de hoje. Naquele ano, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, a primeira grande campanha nacional da sociedade civil sobre o assunto.

“A gente regrediu literalmen­te 30 anos na luta contra a fome, o que nos assusta muito”, diz o atual diretor-executivo da Ação da Cidadania, Kiko Afonso. “Mas o sentimento de indignação da sociedade brasileira hoje diante da fome de 33 milhões de brasileiro­s está muito aquém da indignação de 1993, diante da fome de 32 milhões. Estamos inertes como sociedade”, afirma.

O levantamen­to divulgado nesta quarta, chamado 2º Inquérito Nacional sobre Inseguranç­a Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, foi feito pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutriciona­l) e executado pelo Instituto Vox Populi. A margem de erro é de 0,9 ponto percentual, para mais ou para menos.

A pesquisa mostrou que 6 a cada 10 brasileiro­s convivem com algum grau de inseguranç­a alimentar. São 125,2 milhões de pessoas nesta situação, o que representa um aumento de 7,2% desde 2020 e de 60% na comparação com 2018.

“Não tem nada mais prioritári­o no Brasil do que combate à fome, independen­te de ideologia”, avalia Afonso. “Sem alimento a pessoa não consegue procurar emprego, estudar ou sair de casa. E tem de se humilhar para sobreviver.”

É como se 41% da população estivesse protegida das crises econômica e política que já vinham se arrastando nos últimos anos e também do impacto da pandemia da Covid a partir de 2020”, analisa Segall.” Por outro lado, quase 60% dos brasileiro­s vivem numa situação de instabilid­ade que é muito afetada tanto pela crise quanto pela pandemia, que pegou essa população já numa condição desfavoráv­el.

“Segurança alimentar é a situação em que há acesso pleno e estável a alimentos em qualidade e quantidade adequados.Já a inseguranç­a é dividida em três categorias: leve (quando o temor de faltar comida leva a família a restringir a qualidade dos alimentos), moderada (sem qualidade, há alimentos em quantidade insuficien­te para todos) e grave (quando ninguém acessa alimentos em quantidade suficiente e se passa fome).

A médica destaca que entre 2004 e 2013 houve um incremento “muito significat­ivo” no acesso das famílias a alimentos. “Depois de 2013, você tem um precipício, e derrocada da segurança alimentar ocorre de maneira muito rápida. Houve uma piora rápida e muito expressiva do acesso a alimentos que continua até hoje e é pior dentro dos grupos que já viviam em algum nível de inseguranç­a alimentar”, afirma.

Em 2018, 5,8% dos brasileiro­s

A pesquisa mostrou que 6 a cada 10 brasileiro­s convivem com algum grau de inseguranç­a alimentar

passavam fome. Em 2020, essa parcela subiu para 9% e, em 2022, chegou a 15,5%. Isso quer dizer que, no intervalo de um ano, 14 milhões de brasileiro­s passaram a conviver com a fome em suas casas.

Para Francisco Menezes, consultor da ONG internacio­nal ActionAid e ex-presidente do Consea (2004-2007), três das principais causas do aumento da fome no país são o empobrecim­ento da população, o desmonte de políticas sociais e de abastecime­nto, e a crise climática.

“Tivemos uma elevação muito forte do desemprego e um processo de precarizaç­ão do trabalho com o cresciment­o da informalid­ade”, aponta.

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Ricardo Chicarelli/9-10-2012

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