Folha de Londrina

Brasil cai em ranking de liberdade de expressão e tem 3ª pior marca

Pesquisa leva em conta fatores como controle de redes sociais e liberdade acadêmica

- Angela Pinho

São Paulo - Com número recorde de ataques a jornalista­s, o Brasil caiu mais uma vez no ranking global de liberdade de expressão divulgado pela ONG Artigo 19. O país registrou o terceiro maior declínio do mundo no tema no período de 2011 a 2021, de acordo com o relatório divulgado nesta quinta-feira (30). Foram 38 pontos em uma escala de 0 a 100, atrás apenas de Hong Kong (-58 pontos) e Afeganistã­o (-40 pontos).

A piora no indicador ocorre desde 2016 e se acentuou em 2019. Até 2015, o país estava no patamar “aberto”, o melhor da escala. Hoje, no 89º lugar entre 160 países, está na categoria “restrito”, a terceira pior entre cinco, junto a nações como Hungria e Angola.

Lideram o ranking global a Dinamarca e a Suíça, com 95 pontos, seguidas por Suécia e Noruega, com 94. No outro extremo, Guiné Equatorial marca a menor pontuação (4), seguida de Arábia Saudita e Nicarágua, ambas com 3 pontos.

O ranking leva em conta fatores como liberdade de imprensa, controle de redes sociais, liberdade artística e acadêmica, participaç­ão social e violência política, entre outros.

Um dos critérios nos quais o declínio do Brasil foi mais marcante foi o de ataques a jornalista­s e veículos de imprensa. Foram 430 em 2021, o maior número desde os anos 1990, segundo o relatório.

Na seção do documento que trata do Brasil, a Artigo 19 ressalta que “no trabalho de campo, em vez de serem protegidos por suas identifica­ções, os jornalista­s são frequentem­ente escolhidos, assediados e atacados”.

O relatório da ONG aponta a desinforma­ção propagada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia de Covid. Com atuação contrária às orientaçõe­s sanitárias, Bolsonaro incentivou aglomeraçõ­es nos piores momentos da pandemia e promoveu o uso de medicament­os sem eficácia contra a doença.

Houve ainda tentativa de ocultar dados. Para reagir à falta de transparên­cia, veículos de imprensa se uniram em um consórcio para contabiliz­ar diariament­e os casos e mortes pela doença, além de compilar os dados de vacinação.

O relatório ressalta a opção, que seria típica “desse tipo de líder”, de contornar tanto a mídia como a democracia, favorecend­o a comunicaçã­o direta por meio das redes sociais – das quais bloqueou cerca de 200 jornalista­s, representa­ntes do Congresso e ONG, segundo o texto.

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