Folha de Londrina

BID elege Ilan Goldfajn como novo presidente do banco

Ex-presidente do Banco Central concorreu com indicados da Argentina, México, Chile e Trinidad e Tobago, ele venceu a eleição no domingo (20)

- Thiago Amâncio e Alexa Salomão

Washington (EUA, Brasília (DF) - O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, foi eleito neste domingo (20) o novo presidente do BID (Banco Interameri­cano do Desenvolvi­mento). Ele será o primeiro brasileiro a comandar a instituiçã­o, que financia projetos de desenvolvi­mento no continente e tem sede em Washington.

Presidente do Banco Central entre 2016 e 2019, indicado por Michel Temer (MDB), Goldfajn é hoje diretor de Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), cargo do qual se licenciou para disputar a eleição do BID. Ele concorria com outros quatro candidatos: a argentina Cecilia Todesca Bocco, secretária de Relações Econômicas Internacio­nais da chancelari­a do país; o mexicano Gerardo Esquivel, um dos diretores do Banco Central do país; o chileno Nicolás

Eyzaguirre, ex-ministro da Economia; e Gerard Johnson, de Trinidad e Tobago, ex-funcionári­o do BID.

APOIO

A eleição do brasileiro foi facilitada depois que o governo Alberto Fernández abriu mão da candidatur­a de Todesca Bocco na reta final e decidiu apoiar Goldfajn, que já tinha apoio dos Estados Unidos.

Como EUA, Brasil e Argentina têm a maior parte das ações do banco (30% para o primeiro, 11,4% para cada um dos dois últimos), o caminho se abriu para o brasileiro. Já na primeira rodada de votação, ele obteve 80% dos votos. Goldfajn foi indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que fez um giro com autoridade­s do continente em Washington no mês passado, durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, na tentativa de angariar apoio ao brasileiro. Os candidatos foram alvo de sabatina no último dia 12, e

Goldfajn foi o que causou a melhor impressão entre os concorrent­es. A candidatur­a foi ameaçada, porém, quando Jair Bolsonaro (PL) perdeu a eleição presidenci­al brasileira. Isso porque o PT, partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, trabalhou para adiar a eleição do BID e emplacar outro nome que não o do indicado por Bolsonaro.

O ex-ministro petista da Fazenda Guido Mantega chegou a enviar um email à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, pedindo que o pleito fosse adiado por 45 a 60 dias. A eleição, porém, não foi adiada, mas a escolha de Goldfajn ficou ameaçada, uma vez que autoridade­s não querem se indispor com o próximo presidente do Brasil. Na quinta, no entanto, Mantega renunciou ao seu cargo na equipe de transição do governo Lula, o que voltou a dar tração ao ex-presidente do Banco Central no BID.

CRITÉRIOS TÉCNICOS

Conforme mostrou reportagem da Folha de S.Paulo, as prioridade­s de Goldfajn apresentad­as no processo seletivo do banco se alinhavam às de Lula e incluíam combater a fome, promover a cooperação entre países, fomentar cresciment­o com inclusão social, diversidad­e e preservaçã­o ambiental.

Na teoria, não importa a nacionalid­ade do presidente do órgão, porque os projetos financiado­s pelo BID obedecem a critérios técnicos. Na prática, porém, a presença de um brasileiro facilitari­a que projetos-pilotos fossem testados no Brasil, por exemplo.

Fundado há 63 anos, o BID é considerad­o o maior e mais antigo organismo financeiro multilater­al do mundo e financia projetos de desenvolvi­mento econômico, social e institucio­nal na América Latina e no Caribe. Tem 48 países membros e sede em Washington (EUA).

Em novembro de 2022, estavam previstos quase US$ 30 bilhões (R$ 160 bilhões) pelo

BID para projetos em preparação ou implementa­ção no Brasil. Entre eles, programas para potenciali­zar negócios de bioeconomi­a na Amazônia, expansão do ensino em Florianópo­lis (SC), investimen­tos rodoviário­s no estado de São Paulo, pecuária sustentáve­l no Mato Grosso, além de uma série de ações federais.

A eleição deste domingo põe fim a um conturbado período que começou com a eleição do americano Mauricio ClaverCaro­ne para o posto em 2020, mas que foi destituído por unanimidad­e em setembro, acusado de se envolver com uma subordinad­a.

No ano da eleição do americano havia forte disposição para que os países que compõem o banco elegessem um brasileiro. Uma série de nomes foram discutidos, como Marcos Troyjo (hoje no banco dos Brics); Rodrigo Xavier; Carlos da Costa (ex-BNDES) e Martha Seillier (ex-secretária do Programa de Parcerias e Investimen­tos), mas sem sucesso.

O Brasil desistiu de emplacar um indicado após um pedido direto do então presidente americano Donald Trump a Jair Bolsonaro para que o país apoiasse Claver-Carone, então diretor de assuntos para o hemisfério ocidental no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. A conturbada gestão do americano, no entanto, chegou ao fim antes que ele completass­e o mandato de cinco anos.

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