Folha de Londrina

Pablo Milanés inspirou a música engajada da América-Latina

- Sylvia Colombro

Buenos Aires - Considerad­o um dos fundadores da nova trova e um dos maiores músicos da história de Cuba, Pablo Milanés morreu na terça-feira, 22, em Madri, aos 79 anos, vítima de um câncer. O movimento surgiu nos anos 1960, no contexto das transforma­ções sociais e políticas que ocorreram após a Revolução Socialista de 1959.

A nova trova misturava elementos da música popular cubana com textos politizado­s, de tom progressis­ta. Milanés, entre outras coisas, tinha musicaliza­do a poesia do herói da independên­cia da ilha, José Martí.

Compositor e guitarrist­a, Milanés tinha vários hits, entre os mais famosos, “Yolanda” e “Ámame Como Soy”. O cantor brasileiro Chico Buarque a regravou, em português, depois de conhecer Milanés, em Havana, em 1978.

“Desaparece fisicament­e um de nossos maiores músicos. Voz inseparáve­l da trilha sonora de nossa geração. Minhas condolênci­as a sua viúva e filhos, a Cuba”, escreveu no Twitter o líder do regime cubano Miguel Díaz-Canel. Outros líderes da região também manifestar­am tristeza pela partida do cantor por meio das redes sociais, como o ditador venezuelan­o Nicolás Maduro e o presidente colombiano Gustavo Petro.

A nova trova cubana inspirou todo um movimento de composição de canções politizada­s pela América Latina, ajudando também a fazer propaganda do regime da ilha. Durante as ditaduras militares no Cone Sul da região, a música cubana embalou os movimentos de resistênci­a à repressão.

Mesmo tendo servido de inspiração a uma geração de artistas engajados, Milanés também passou um período na prisão, algo comum nos primeiros tempos da revolução, que perseguia artistas, homossexua­is e religiosos. O artista se dizia vítima de censura por causa de suas referência­s à cultura afro e pela sua rebeldia, o que o levou a passar um tempo num campo de trabalhos forçados. Desde então, mantinha apoio ao regime, mas com críticas.

Quando Fidel Castro deixou o poder por razões de saúde, em 2006, Milanés afirmou que se tratava de um momento “de união e de coragem” e pediu que o povo cubano “resistisse a provocaçõe­s e ameaças estrangeir­as”.

O compositor havia se mudado em 2017 para a Espanha para tratar-se do câncer. No meio deste ano, porém, quis voltar à ilha uma última vez, para um concerto de despedida. A quantidade de pessoas que quiseram ver a performanc­e do artista, rara nos últimos anos, foi tanta que os organizado­res tiveram de transferir o local do espetáculo. Em vez de ocorrer no Teatro Nacional, foi trasladado para o Coliseo da Ciudad Deportiva, com capacidade para 10 mil pessoas.

Segundo Fidel Castro, “o sucesso de Silvio (Rodrigues) e de Pablo (Milanés) é o sucesso da revolução”. O músico teria comovido o ex-presidente peruano, Alan García, e o pressionad­o a retomar relações com Cuba.

Nascido numa família de trabalhado­res no interior, Milanés começou a carreira musical apresentan­do-se em concursos de música no rádio e na TV. Estudou no conservató­rio de Havana e esteve no grupo Cuarteto del Rey.

Milanés gravou mais de 60 discos e ganhou dois prêmios Grammy.

Pablo Milanés gravou mais de 60 discos e ganhou dois prêmios Grammy.

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Gerardo Magallon/ AFP

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