Folha de Londrina

Falta de coordenaçã­o na vacinação contra Covid aumentou desigualda­de

De acordo com os dados de cobertura vacinal no Brasil, a taxa de 90% estabeleci­da como meta pelo Ministério da Saúde só foi atingida por São Paulo

- Cláudia Colucci e Ana Bottallo

São Paulo - A falta de uma coordenaçã­o nacional no Plano Nacional de Operaciona­lização da vacina contra a Covid resultou em uma maior desigualda­de entre as regiões mais ricas e pobres do país, revela novo relatório da Oxfam Brasil.

De acordo com os dados de cobertura vacinal no Brasil, a taxa de 90% estabeleci­da como meta pelo Ministério da Saúde só foi atingida pelo estado de São Paulo (91%).

Outros estados, como Roraima (57,5%), Amapá (59,5%), Pará (64,2%) e Maranhão (64,9%) ficaram abaixo do que é preconizad­o também pela Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), de pelo menos 70% de cobertura.

Esses são estados, também, com índice de desenvolvi­mento humano (IDH) abaixo ou próximo de 0,7. Um IDH acima de 0,8 significa melhores taxas de expectativ­a de vida ao nascer e escolarida­de, enquanto um valor menor que 0,5 é considerad­o inferior. A faixa de 0,5 a 0,7 é considerad­a IDH médio, segundo o IBGE.

Os dados de cobertura vacinal consideram apenas o esquema primário de imunização com duas doses ou dose única, sem contar as doses de reforço.

O relatório intitulado “Desigualda­de no acesso a vacinas contra a Covid-19 no Brasil” foi divulgado nesta quarta (23) em cerimônia no Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva da Abrasco, que ocorre entre os dias 21 e 24 de novembro em Salvador.

Entre os municípios, apenas 16% atingiram mais de 80% de cobertura, com os piores desempenho­s registrado­s em cidades com baixo IDH.

Na região Sul, 30% dos municípios apresentav­am mais de 80% da população com esquema de vacinação completo, na região Sudeste 27,2%, no Centro-Oeste 11,8%, no Nordeste 2,7% e na região Norte apenas 1,1%.

O Brasil é o segundo país das Américas em número de casos e óbitos de Covid, mas ocupa o 15º lugar em cobertura vacinal, segundo o relatório.

O país registra quase 700 mil mortes por Covid, e a maioria delas (424 mil) ocorreu quando os imunizante­s já estavam disponívei­s, em 2021. No ano anterior, morreram cerca de 195 mil pessoas.

De acordo com a Oxfam Brasil, a atuação negligente e desordenad­a do governo federal, a ausência de campanhas públicas informativ­as, a gestão inadequada e a falta de estratégia nacional entre a União e os estados são os principais fatores que impediram o país de atingir a meta vacinal de 90%.

“A ausência de uma coordenaçã­o do governo federal deixou cada um por si, fazendo com que os resultados da cobertura vacinal ficassem bastante desiguais”, diz Jefferson Nascimento, coordenado­r da área de justiça social e econômica da Oxfam Brasil.

Para ele, o atual debate sobre a distribuiç­ão das vacinas bivalentes, cujo uso foi aprovado pela Anvisa nesta terça (22) como dose de reforço na população acima de 12 anos, enfrenta o mesmo dilema.

“A gente já teve esse contexto de demora na negociação e aquisição da vacina lá atrás, depois viveu a demora para a distribuiç­ão das vacinas para as crianças e agora mais demora para aprovação e aquisição das vacinas bivalentes para responder a esse contexto da ômicron e suas variantes.”

A Oxfam é uma organizaçã­o não governamen­tal que atua em mais de 90 países, incluindo o Brasil, com o intuito de reduzir as desigualda­des, a pobreza e a injustiça.

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